alma
vagamunda
no pirapó
onde os peixes saltavam ornamentais
nas cachoeiras do rio ijuí
lá pelas missões
– vivia um índio guarani
tímido e triste angóera
(fantasminha camarada,
nem parentesco tinha
com o malvado anhanguera
diabo manhoso
ardiloso bandeirante)
o angóera daqui vivia quieto
escondido pelos cantos
mas os padres
sempre em nome de seu deus
batizaram-no a contragosto,
e lhe chamaram generoso
e
sem ninguém perceber
o jovem índio deu adeus
ao seu espírito bondoso
e aquele serzinho q fugia das festas
domingueiras
e celebrações
agora só quer saber
de bebida e confusões.
mas jovem morreu
porém
basta a viola toar um acorde
sem a presença do violeiro
q não há quem discorde:
foi o generoso,
um dia fantasminha triste
q hoje levanta as saias
e dá risadas
faz chiste
faz a cabeça
faz pular
o coração das meninas
como os peixinhos no pirapó
lá nas missões
e enquanto não descansa
é alma vagamunda
paga pecados
q não cometeu
rindo solitária
porque sozinha viveu
e depois de morta
não encontra a paz
q o deus jesuíta prometeu.
Livro Misterioso
Sul – Lendas em Poemas, com Helô
Bacichette, André Ricardo Aguiar e Nil Kremer
(Caxias do Sul: Elos do Conto –
Edições e Arte, 2018)
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