diana junkes

Ele começou a carreira no setor de artes gráficas da Livraria e Editora Globo, em Porto Alegre, e foi um dos precursores das HQs no Rio Grande do Sul. Mas JOÃO BATISTA MOTTINI só conseguiu reconhecimento durante a Era do Ouro dos quadrinhos argentinos (1948-1958), ao lado do italiano Hugo Pratt (1927-1995) e do argentino José Luis Salinas (1908-1985), entre outros, depois de se mudar para Buenos Aires em 1946, e onde morou até 1962 – é que no Brasil, segundo Moya, “os artistas brasileiros tiveram poucas chances nessa década” (1993, p. 193), a de 1950, apesar do grande número de produções.

Mottini nasceu em 20 de junho de 1923 em Santana do Livramento (RS) e teve seu trabalho divulgado, além da Argentina, por toda a América Latina, os Estados Unidos e uma série de países europeus, entre eles a Itália. Para a Editora Globo, onde começou aos 15 anos no setor de artes gráficas, ilustrou obras didáticas e livro infanto-juvenis, como Os Três Mosqueteiros e Robin Hood. Foi um dos mais jovens artistas a participar de uma exposição coletiva em Porto Alegre, segundo Goida (1990).

Além de ilustrador e capista, colaborou com as revistas Patoruzú e Patoruzito, de Dante Quinterno, ilustrador, argumentista e editor, que publicou Buck Rogers, série ilustrada por Mottini que circulava na Inglaterra (editora Fleetway). Aurélio, El Audaz e Las aventuras de Bordon são seus trabalhos mais conhecidos, feitas para Quinterno; na Itália, trabalhou para o Studio Creazioni Dami, de Milão; de volta ao Brasil, desenhou Aba Larga, um policial militar a serviço nas regiões agropastoris do Rio Grande do Sul, série iniciada por Getúlio Delphin (que desistiu dos quadrinhos e dedicou-se à propaganda) e finalizou História do Rio Grande do Sul, continuando o trabalho de Júlio Shimamoto – os trabalhos foram desenvolvidos para a Cooperativa Editora e de Trabalho de Porto Alegre (CETPA), da qual eles participaram da criação, durante o governo de Leonel Brizola, uma inciativa gaúcha no mercado nacional de histórias em quadrinhos nos anos 60; a marca da cooperativa, que existiu entre 1961 e 1963, era dar destaque aos artistas gaúchos, com salários fixos pagos pelo próprio governo do Estado. Parecida com essa iniciativa, era a Associação dos Desenhistas do Estado de São Paulo (Adesp), presidida por Mauricio de Sousa.

Seu trabalho chegou a ser exposto na primeira exposição de quadrinhos da Europa, que ocorreu no Museu do Louvre, em Paris – mas como representante da Argentina. Na ocasião, o artista ilustrava histórias de faroeste, principalmente Buck Jones para a Inglaterra, como já dito. Em Porto Alegre, Mottini criou para o jornal Última Hora os capítulos de Os crimes que abalaram o Rio Grande, entre os quais figurava “O linguiceiro de gente”, no qual Mottini narrava o famoso caso da rua do Arvoredo, lembra a jornalista Laura Leiner¹. Nos últimos anos, conforme Goida (1990, p. 247), Mottini dedicou-se à pintura e arte publicitária: ilustrou os álbuns Profissões, Passos e Pregões Perdidos (Relatório da Diretoria 1979/1980, acervo do Centro de Memória Bunge) e No tempo dos farroupilhas (1983, com Luiz Antonio de Assis Brasil, também no acervo Bunge), premiados pelo Salão de Propaganda da Associação Riograndense de Propaganda em 1980 e 1984, respectivamente.

Morreu em 30 de março de 1990, em Porto Alegre. No somatório, Mottini foi mais reconhecido entre os leitores de Buenos Aires do que na capital gaúcha – embora tenha sido apresentado à Câmara de Vereadores de Porto Alegre um projeto de lei no dia 24 de junho de 2005 para instituir o Dia Municipal do Gibi João Mottini. No Brasil, suas HQs foram publicadas pela editora Paladino e na revista Gatilho (Cômico Colegial). Seu derradeiro trabalho nos quadrinhos provavelmente foi no número 1 da Brigada em Revista, em abril de 1989². (A partir de GOIDA, 1990; LEINER in “Um passeio pelo mundo dos quadrinhos gaúchos”, jornal Versão dos Jornalistas, julho/2004¹; MOYA, 1993; SAINDENBERG in http://www.guiadosquadrinhos.com/artista/joao-mottini/2518²; WWW.fundacaobunge.org.br/.../profissoes-passos-e-pregoes-perdidos-1979-1980.pdf)