Uma das principais quadrinhistas brasileiras, LAERTE nasceu em 10 de junho de 1951 e aos
34 anos publicou O tamanho da coisa, sua
primeira coletânea de trabalhos, com charges, desenhos e cartuns (1985). Depois
disso, fez parte da “frente paulista” nas revistas Chiclete com Banana e Geraldão
(Circo Editorial) de Angeli e Glauco (1957-2010). publicou Los 3 Amigos, criação conjunta de “Laertón”, “Angel Villa” e “Glauquito”
– que, em 2010, foi transformado em um curta de animação, dirigido por Daniel
Messias e ganhou o Troféu HQ Mix. Além das séries também produziu histórias
avulsas, “séria e sem ballons”,
lembra Goida, como Minotauro
(novembro de 1989 em Geraldão). Na Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo (ECA/USP) criou a revista experimental Balão (1972), com o desenhista Luiz Gê (Territórios de Bravos, 1993). Em 1974,
vence o 1º Salão Internacional de Humor de Piracicaba, com a charge “O rei
estava vestido”. Engajado, produziu cartões de solidariedade para o movimento
de auxílio aos presos políticos; desenhou histórias do personagem João Ferrador
para a publicação do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo (1978)
Mais tarde viria a fundar a Oboré, agência especializada em produzir material
de comunicação para os sindicatos. A editora publicou o livro Ilustração
sindical (1986), com
ilustrações, quadrinhos e caricaturas liberados para utilização por sindicatos
e outras entidades.
No final dos anos 80, participa das revistas Chiclete com Banana (editada por Angeli)
e Geraldão (editada por Glauco); cria
com Luiz Gê a revista Circo, que
também era a editora responsável pelas publicações. Colaborou e colabora com
revistas, entre elas Ovelha Negra, Veja,
Istoé, Placar e Caros Amigos, e jornais O Pasquim, Gazeta Mercantil, Folha de
S.Paulo, O Estado de S. Paulo, Correio Braziliense, Zero Hora e
Tribuna de Vitória. Em 1988, Laerte recebe prêmio como Melhor
Roteirista Nacional no1º HQ Mix – premiação que busca valorizar a produção de
histórias em quadrinhos, cartuns e charges no Brasil1.
Na década de 1990, atua como roteirista na
Rede Globo, em programas como TV
Pirata, Sai
de Baixo e Fantástico
(quadro “Vida ao Vivo”, 1997), e no roteiro para o longa-metragem Super-Colosso: A gincana da TV Colosso,
produzido pela emissora. Em maio de 1990 chega às bancas o primeiro número da
revista própria de Piratas do Tietê
(humor, quadrinhos e afins), que, além dos piratas, também apresenta o
Jacaré do Tietê. Em formato 25cm x 17cm, igual ao da antiga Fradim (de Henfil), ela mudou o formato
a partir do nº 7. Em 1991, colabora semanalmente para a Folha de S.Paulo com
as tirinhas Los 3
Amigos e Os Piratas do Tietê.
Em 1993, cria o personagem Hugo Baracchini, seu alter ego, como integrante
dos Piratas do Tietê, e que, três anos mais tarde, estreia individualmente no
caderno de Informática da Folha
de S.Paulo. Paralelamente, publicou Striptiras, onde desfilou seus personagens criados para os jornais,
como o Zelador, suas namoradas, seu amigo Filó e, obviamente, o Síndico; o
puxa-saco Fagundes; o Capitão Douglas, o soldado Aspeçada e o mafioso Don Luigi,
com o guarda-costas Niccolò; o Grafiteiro; Peçanha e Trancoso; Os Gatinhos e
suas “gatolices”; a Vizinha; e a Cigana (todos da série O Condomínio, criada em 1983, alguns desde o início, outros
incorporados ao longo da existência da revista). Em cada um deles, um universo
a ser reconhecido, no vizinho, no amigo, num parente.
Outros personagens são o super-herói Overman;
Deus (que passa o tempo a discutir com o arcanjo Gabriel e a jogar cartas com
Buda); o Micoleão, os Palhaços Mudos; Suriá, personagem voltado para o público
infantil – uma das raras personagens negras de histórias em quadrinhos – e
Muriel/Hugo, personagem crossdresser que brinca com os padrões
de gênero, alternando entre masculino e feminino. O enredo das tirinhas em que
aparece narra o dia a dia da população trans no Brasil, critica a transfobia, a
forma binária em que a cultura brasileira moderna trata a questão de gênero e
sexualidade e, por vezes, retrata também a vida sexual das pessoas trans, sempre
de forma humorística.2
Em 2004, inicia um processo de reflexão sobre
sua identidade de gênero, que transforma profundamente sua produção, tornando-a
mais engajada em questões de direitos humanos, gênero e sexualidade. Em 2009,
assume sua transgeneridade e vincula-se a movimentos dedicados ao debate
sobre o tema.3 Em entrevista à Folha de S.Paulo, em 2010, revelou porque abandonou alguns de seus
personagens e optou pela prática pública do crossdressing,
identificando-se como transgênero. Em 2012, tornou-se cofundadora de uma
instituição voltada a pessoas com essa nuance de gênero, a ABRAT – Associação
Brasileira de Transgêneras4, junto com a advogada Márcia Rocha, a
atriz Maitê Schneider e a psicanalista Letícia Lanz.
Foi protagonista do curta-metragem Vestido de Laerte em 2012, dirigido por
Cláudia Priscilla e Pedro Marques. O filme venceu nas categorias curta e melhor
direção no Festival de Cinema de Brasília daquele ano. Em 2015, colaborou com o
documentário De gravata e unha vermelha,
de Miriam Chnaiderman, com a participação de Ney Matogrosso; em 2017, entrou em circuito Laerte-se, dirigido por
Eliane Brum e Lygia Barbosa (disponível na Netflix) – filmes que relatam o cotidiano dos adeptos do crossdressing e a transformação na arte
e na vida pessoal do artista. Em entrevista para um programa de TV, comentou a
respeito: “Eu não virei outra pessoa, sou a mesma pessoa, mais
satisfeita, mais tranquila, e, por causa disso, estou pensando melhor. Meu
trabalho não se transformou porque agora sou mulher. Se transformou porque
agora estou tranquila em relação às coisas que eram angustiantes para mim e eu
não sabia.”5
A cartunista também fez a cobertura jornalística de três
Copas do Mundo: a de 1978 e a de 1986, para o jornal O Estado de S.
Paulo, e a de 1982 para a Folha de S.Paulo. Em 2009, foi
convidada para participar do álbum MSP 50,
uma homenagem aos 50 anos de carreira de Mauricio de Sousa. Laerte criou uma
história protagonizada por Franjinha e seu cachorro Bidu.
Laerte conquistou diversos prêmios: Prêmio Angelo Agostini - Mestre do
quadrinho nacional (1985 - 2018); Prêmio Angelo Agostini - Desenhista e
Roteirista (1986 - 2018); Troféu HQ Mix - Desenhista e Tira (1989 - 2015); Troféu HQ Mix - Edição especial e
Roteirista (1989 - 2018); Troféu HQ Mix - Grande mestre (1990 – 2018); e Troféu HQ Mix - Desenhista de humor gráfico (1997
- 2015).
(a partir de GOIDA, 1990; enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa24989/laerte1,3;
https;//pt.wikipedia.org/wiki/Laerte-Coutinho2,4; https://observatoriog.bol.uol.com.br/noticias/2017/10/nao-sou-uma-mulher-sou-uma-pessoa-trans-afirma-laerte-coutinho5;
http://www.guiadosquadrinhos.com/artista/laerte-coutinho/3)
Comentários
Postar um comentário