grito na escuridão
estou no meio do nada
é noite
sei q me cercam verdes vacarias
– assim me lembro
estou no meio do universo
madrugada para o fim
e o mesmo sol q doura muitos capões
logo aquecerá meus pés
– pelo menos assim espero.
mas antes q a noite termine
ouço um grito baixo e longo
e de longe esse grito pequeno
q vai aumentando
vem num crescendo
e aqui onde estou
no meio do nada
sentindo falta da multidão
sinto meu corpo tremer.
e não tem vento algum
– tem lareira
e tem vinho
e tem pinhão
e o grito q antes era pequeno
agora atinge escala níveis insuportáveis
eu tampo meus ouvidos
mas é o meu coração q ouve
o grito da mãe q foi tratada
pior do q o animal
q o filho desajustado
lidava como um perdido
vagando no pasto
à espera da espora
lá longe,
bem lá fora
lá no fim dos abismos do macaco branco
lá
onde o vento costuma ser fino
mas a dor não acaba
(assim como o horizonte dos campos
de são francisco de paula)
ouço um grito.
mas faço de conta q não é comigo.
(do livro Misterioso Sul – Lendas em Poemas, com Helô Bacichette, Nil Kremer, André Ricardo Aguiar e Dinarte Albuquerque Filho. Ilustrações de Giovana Mazzochi e Douglas Trancoso (Elos do Conto – Elos da Palavra: Caxias do Sul, RS, 2018)
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