O poeta CARLOS
RONALD SCHMIDT nasceu no dia 2 de dezembro de 1935, em Florianópolis (SC).
Depois de algumas publicações nos jornais O
Estado e Gazeta Jovem, editou o
livro Poemas (1959), seguido de Cantos de Ariel (1960).
É dele, também, As
origens (1971), Ânua (1975), Dias da terra (1978), Gemônias (1982), As coisas simples (1986, também publicado em Portugal), Como pesa! e A cadeira de Édipo (1993), Cuidados
do acaso (1995) e Todos os atos
(1997), Ocasional glup (1999), A razão do nada (2001), Os sempre (2003), Caro Rimbaud (2006), Bichos
procuram buraco em paredes brancas (2011) e a coletânea Seguindo o tempo (2017), entre outros.
Em 1975, publicou, em italiano, o livro Dettagli dell’assenza, e consta como
inédito El água que hierde (A água que ferve). Schmidt escreveu dez
textos para o teatro, entre eles A
limousine de Goethe, e recebeu o Prêmio Othon d’Eça, em 2011, da Academia
Catarinense de Letras, pelo conjunto da obra, e, em 2013, foi eleito para ocupar
uma cadeira na ACL.
O poeta participou do Grupo Litoral (até 1950 chamado
Grupo Sul), do qual faziam parte Iaponan Soares, Nicolau Apóstolo e os irmãos
Paschoal, Rodrigo de Haro e Pedro Garcia, escritores e intelectuais que se
reuniam para conversar sobre literatura e artes.
C. Ronald, que também foi juiz de Direito, artista plástico e escultor (trabalhos que foram reunidos na mostra “Pinturas e esculturas”, em 2012), faleceu no dia 25 de outubro de 2020, em Biguaçu (SC).
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PARADA
SEM PÁTRIA
Um espelho inverso para a
noite
e a língua sente bem mais a
amargura
e o homem vai pegar um facão
para
limpar a via láctea: coisas
plásticas, políticos com
bigode no passado.
E o olhar é um risco para as
horas
mas fica mastigando um zero
no ponto
em que o relógio para.
Fazer ou não fazer onde
estou agora.
Muitos correm com pavor da
sombra.
Tantos braços escorregam
pela janela sem
filme a na travessura das
venezianas
a nação é uma casa que o sol
vai apagando enquanto ela
fala.
Nem é o céu. O vento é
exato,
o 7 de setembro traz coisas
agoniadas.
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HÁ NO
PENSADOR UMA TRAGÉDIA LIMITADA
há no pensador uma tragédia limitada
o diabo atira pelas frestas para acertar
na verdade na mãe opressora no pai incalculável
se alguma qualidade pode ser preferida
se os sentidos do filho excluírem a perda
na medida exata dos ancestrais
e reter a morte com outra igual haverá muita
precisão embora tal habilidade não restrinja
a estupidez no vazio e bastará uma brasa para
incendiar o mundo e sei que a miséria
aspirará o ar bem fundo pra estourar a razão
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TENHO UM
CORPO A SENTIR O QUE É DE TODOS
Tenho um corpo a sentir o que é de todos,
um espelho aonde não aparece tudo; nem a mão que
vai ao sonho tornando menor o ultraje da criança
dividida com fantasmas de adultos. Ali, só
permanece
a soma dos noivos deitados sobre a própria imagem.
E subentende-se o espanto da alma que não imita
nada do homem. Ficam as medidas do corte por baixo
dos pontos, pois em cada parte do mundo te junto,
crio o que sou na morte adiantando
esse modelo inútil que está no berço.
E ele embalança por nada. Não sente o que está
dentro e não começa nunca antes da saudade: esse nó
que damos em nós mesmos depois de passado o tempo.
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