O poeta MARANHÃO
SOBRINHO nasceu no dia 25 de dezembro de 1879 em Barra da Corda (MA).
Publicou Papéis velhos... roídos pela
traça do Símbolo (1908), Estatuetas
(1909) e Vitórias-Régias (1911),
editados de forma precária e com circulação restrita. Em 2015, organizado por
Jomar Moraes, foi publicado o livro Poesia
Reunida.
Grande parte de seus poemas pode ser encontrada em
diversos jornais em que trabalhou, tanto na capital maranhense quanto em Belém
do Pará (o jornal Notícias e a Folha do Norte), e em outros veículos do
interior do estado.
Participou da fundação da Academia Maranhense de Letras,
em 10 de agosto de 1908 – sua cadeira é a de número 19 – e da Academia
Amazonense de Letras – patrono da cadeira nº 7. Ao lado de Antonio Lobo e
Corrêa de Araújo, fez parte do movimento de renovação literária denominado Os
Novos Atenienses, em São Luís (MA), no final do século XIX e começo do século
XX.
José Américo Augusto Olímpio Cavalcanti dos Albuquerques
Maranhão Sobrinho faleceu no dia 25 de dezembro de 1915, aos 36 anos, e hoje
seu nome figura ao lado de Alphonsus de Guimarães e Cruz e Sousa, como os
melhores poetas simbolistas brasileiros. Em 2019 foi publicado Maranhão Sobrinho: o poeta maldito de Atenas,
biografia-reportagem de Kyssian Castro.
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INTERLUNAR
Entre nuvens cruéis de
púrpura e gerânio,
rubro como, de sangue, um
hoplita messênio
o sol, vencido, desce o
planalto de urânio
do ocaso, na mudez de um
recolhido essênio...
Veloz como um corcel, voando
num mito hircânio,
tremente, esvai-se a luz no
leve oxigênio
da tarde, que me evoca os
olhos de Estefânio
Mallarmé, sob a unção da
tristeza e do gênio!
O ônix das sombras cresce ao
trágico declínio
do dia que, a lembrar
piratas do mar Jônio,
põe, no ocaso, clarões
vermelhos de assassínio...
Vem a noite e, lembrando os
Montes do Infortúnio,
vara o estranho solar da
Morte e do Demônio
Com as torres medievais as sombras do Interlúnio...
* *
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OLHOS DE AMOR
Volve-me os olhos
límpidos! que um raio,
vindo do sol dos teus
olhares, canta
nos meus sonhos assim,
como a garganta
de uma ave dentro do
calor de Maio!
Há dos teus olhos sob os
cílios, quanta
luz há nos céus em que te
vendo, caio...
Vives em mim num límpido
desmaio,
santa nos beijos e nos
olhos santas!
Trazes no olhar, em
milagrosos traços,
o rimance irial do meu
passado
feito de beijos, lágrimas
e abraços...
Volve-me os olhos de
saudade cheios!
Brilha o meu sonho, em
sonho, alcandorado
nas torres de marfim dos
teus dois seios!
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NO VALE AMAZÔNICO
Sobre o ocaso de bronze
os altos castanheiros
perfilam-se, espanando o
céu com as frondes; brilha
um segmento de sol, ao
cocar dos guerreiros
comparável, de um rubro
atroz, que maravilha...
Espirando, grimpa, em
abraços feiticeiros,
os troncos jaldes, verde,
em haustos, a baunilha
cheirosa; os barcos vão,
de asas pardas, veleiros,
sobre as águas a voar,
como uma flecha à quilha...
Ilhas de mururés,
flutuantes, povoadas
de ninhos e canções
descem do rio a esteira
pela corrente azul, de
opala em flor, levadas!
Surdem da canarana
ariscas embiaras
enquanto, da corrente em
sol, fulgindo, à beira
se banham, de olhar
verde, as flácidas niaras...
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