O porto-alegrense RAFAEL IOTTI nasceu em 24 de dezembro de 1992. Em 2017, publicou o
primeiro livro, Mas é possível que haja
outros; em 2019, veio o segundo, Assim
guardamos as nuvens.
Seus poemas também podem ser lidos em revistas literárias
virtuais e, transpostos para os livros, fortalecem a necessidade de escrever,
como afirma o poeta. “Eu percebi que precisava disso, da literatura, que não era uma
coisa passageira, e sim vital, no final da minha adolescência. Ali eu tive a
certeza que viveria e morreria disso” (2018).
* * *
Caxias é triste sem ti
apesar do sol de ouro
e dos pinheiros regenerados
Porque o amor também recolhe as cascas
disse o poeta.
E nós, professores da noite, estamos
submersos neste país
Longe demais do desgastante dia
em que voltar pra casa seja
a nossa melhor vida possível.
* * *
há
pessoas que se adequam
e há
pessoas que não se adequam
à vida.
as segundas me interessam
mais. é
preciso ser muito corajoso
para
seguir na lida do cotidiano
com uma
janela cega no peito.
algumas
pessoas ouvirão o teu
canto,
mas é um canto solitário e
sem eco,
os retornos são surdos
para os
teus lamentos. saber que há pessoas
que não
se adéquam à vida é
também
uma forma de sobreviver.
e por
isso, juntos, fazemos este coro ausente.
* * *
apago um
cigarro
no braço
dói
nada
supera
porém
a dor
de ser
apagado
da
memória
apago
arquivos
como
quem deixa
a lata
de lixo engolir
utensílios
te
guardo numa foto
que
nunca tirei
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