Após os estudos primários e secundários, matriculou-se na
Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro, mas desistiu no 4º ano. Tentou, a
seguir, o curso de Direito em São Paulo, mas não passou do primeiro ano.
Dedicou-se desde cedo ao jornalismo e à literatura. Teve intensa participação
na política e em campanhas cívicas, das quais a mais famosa foi em favor do
serviço militar obrigatório. Fundou vários jornais, de vida mais ou menos
efêmera, como A Cigarra, O Meio, A
Rua. Na seção “A Semana” da Gazeta de Notícias,
substituiu Machado de Assis, trabalhando ali durante anos. É o autor da letra
do Hino à Bandeira.
Sua obra poética enquadra-se no Parnasianismo, que teve
na década de 1880 a sua fase mais fecunda. Fundindo o Parnasianismo francês e a
tradição lusitana, Olavo Bilac deu preferência às formas fixas do lirismo,
especialmente ao soneto. Nas duas primeiras décadas do século XX, seus sonetos eram
decorados e declamados em toda parte, nos saraus e salões literários comuns na
época. Nas Poesias encontram-se os famosos sonetos
de Via
Láctea e a “Profissão de Fé”, na qual codificou o seu credo
estético, que se distingue pelo culto do estilo, pela pureza da forma e da
linguagem e pela simplicidade como resultado.
Ao lado do poeta lírico, há nele um poeta de tonalidade épica, de que é expressão o poema “O caçador de esmeraldas”. Bilac foi, no seu tempo, um dos poetas brasileiros mais populares e mais lidos do país, tendo sido eleito o “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, no concurso que a revista Fon-Fon lançou em 1º de março de 1913. Alguns anos mais tarde, os poetas parnasianos seriam o principal alvo do Modernismo. Apesar da reação modernista contra a sua poesia, Olavo Bilac tem lugar de destaque na literatura brasileira, como dos mais típicos e perfeitos dentro do Parnasianismo brasileiro. Foi notável conferencista, numa época de moda das conferências no Rio de Janeiro, e produziu também contos e crônicas, e ficou conhecido por seu interesse pela literatura infantil.
Fazendo jornalismo político nos começos da República, foi
um dos perseguidos por Floriano Peixoto. Teve que se esconder em Minas Gerais,
quando frequentou a casa de Afonso Arinos em Ouro Preto. No regresso ao Rio,
foi preso. Em 1891, foi nomeado oficial da Secretaria do Interior do Estado do
Rio. Em 1898, inspetor escolar do Distrito Federal, cargo em que se aposentou,
pouco antes de falecer. Foi também delegado em conferências diplomáticas e, em
1907, secretário do prefeito do Distrito Federal. Em 1916, fundou a Liga de
Defesa Nacional.
Em pouco mais de 50 anos de vida, teve intensa participação na vida cultural e cotidiana do Rio de Janeiro – além da atuação como inspetor de ensino, cargo altamente cobiçado à época, foi o primeiro motorista a sofrer um acidente de carro no Brasil.
Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac, professor honorário da Universidade de São Paulo (USP), faleceu no Rio de Janeiro em 28 de dezembro de 1918. No ano seguinte foi publicado o livro Tarde.
* * *
PROFISSÃO DE FÉ
Invejo o ourives quando escrevo:
Imito
o amor
Com Ele, em ouro, o alto-relevo
Faz
de uma flor.
Imito-o. E, pois nem de Carrara
A
pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O
ônix prefiro.
Por isso, corre, por servir-me,
Sobre
o papel
A pena, como em prata firme
Corre
o cinzel.
Corre; desenha, enfeita a imagem,
A
ideia veste:
Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem
Azul-celeste.
Torce, aprimora, alteia, lima
A
frase; e enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como
um rubim.
Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada
ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem
um defeito:
E que o lavor do verso, acaso,
Por
tão sutil,
Possa o lavor lembrar de um vaso
De
Becerril.
E horas sem conta passo, mudo,
O
olhar atento,
A trabalhar, longe de tudo
O
pensamento.
Porque o escrever – tanta perícia,
Tanta
requer,
Que ofício tal... nem há notícia
De
outro qualquer.
Assim procedo. Minha pena
Segue
esta norma,
Por te servir, Deusa serena,
Serena
Forma!
* * *
VIA
LÁCTEA
Ora,
direis, ouvir estrelas, certo
Perdeste
o senso, e eu vos direi, no entanto
Que,
para ouvi-las, muita vez desperto
E
abro as janelas, pálido de espanto
E
conversamos toda a noite, enquanto
A
via-láctea, como um pálio aberto
Cintila;
e, ao vir do Sol, saudoso e em pranto
Inda
as procuro pelo céu deserto
Direis
agora: Tresloucado amigo
Que
conversas com elas? Que sentido
Tem
o que dizem, quando estão contigo?
E eu
vos direi: Amai para entendê-las!
Pois
só quem ama pode ter ouvido
Capaz
de ouvir e de entender estrelas
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