RITA
ISADORA PESSOA nasceu no dia 29 de dezembro de 1984 no Rio
de Janeiro (RJ). A poeta publicou seu primeiro livro em 2016, A vida nos vulcões. Recentemente, Madame Leviatã (2020), e, antes deste, Mulher sob a influência de um algoritmo
(2018). Como batizar um ciclone atlântico
ficou em segundo lugar no Prêmio Off Flip de Literatura, em 2018.
Tem intensa participação em revistas literárias – como Mallamargens, Gemina e Escamandro – e
participou das antologias Ato poético
(2020), organizada por MárciaTiburi, Uma
pausa na luta (2020) e A nossos pés
(2017), organizadas por Manoel Ricardo de Lima, e Alto Mar (2017), organizada por Katia Maciel.
Doutoranda em Literatura Comparada (UFF), é tradutora,
revisora, astróloga e taróloga.
* * *
como batizar um ciclone
atlântico
para priscilla menezes
você me assegura que
a tarefa de manufaturar
a tempestade
deve ser
como
a
atmosferização do poema
como descolar uma
palavra da outra
: seccionar a
polpa
da casca
ou como
subordinar a
sua paisagem
à
escansão algorítmica do
vento
mas o
silêncio dos astros segue
numa
linguagem temporária
[ como
nomear a passagem de um a outro? ]
uma tempestade do
tamanho do estado de ohio
você
garante: o ciclone toca o solo
como um ponto de voragem
toca o mapa geológico de
alguma página escrita em tempo real
acredite
você diz
[qual é mesmo o nome do
ponto?]
85% dos furacões se
formam a partir dos ventos africanos
você desliga a tevê e
promete jamais assistir telejornais novamente
alimenta os peixes
sugere
distraidamente
um cronótopo de
deserto um nome
uma
mulher
prateada como um arenque
finlandês
montada
num cavalo
em seu
epicentro
– a imagem que te vem
é de um leviatã composto
de destroços e vento
que se move
de um
ponto
a outro
[
dar nome a um ciclone é ser
também nomeada por ele,
você conclui ]
você segura com
dificuldade
uma lanterna entre os
dentes
fixa o olhar sobre
horizontes imóveis
para
desacelerar a vertigem
como sua mãe ensinou
você
não tem certeza
sobre a intenção da
tempestade
:
um tropismo de ilha
que não sabe se é
continente
ou
oceano
* * *
dos
vulcões em miniatura
o poema está sempre na iminência
de uma parada perigosa
enganchando-se
à maneira do amor
ao fazer eclodir na pele
aquilo
que inflama
aceso
e que
com um estampido
logo
apaga-se
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