entrevista
A maioridade livreira
Depois de cinco anos como gerente da extinta Livraria Sulina, então administrada pelo livreiro Erni D’Avila, confirmou suas observações: os livros mais vendidos eram (e ainda o são) os lançamentos. Foi neste momento, aparentemente óbvio, que despertou em Maria Helena o desejo de ter seu próprio negócio, até para oferecer alternativas aos leitores. “Não era preciso um espaço muito grande, mas faltavam recursos para pagar o aluguel de uma sala aqui no Centro.” (Para quem não recorda, ou desconhece, a Sulina estava localizada na av. Júlio de Castilhos, onde hoje encontra-se uma farmácia, bem ao lado do Clube Juvenil).
Então, “comecei a sonhar que, em janeiro de 1995, teria a minha livraria”, diz. Mas, em certo momento, foi preciso adiar o sonho, pois ainda não tinha os recursos necessários. Insatisfeita com a situação, conta que chorou “15 dias e ri outros 15”. O riso deveu-se ao fato que encontrou em Nair Busnello a sócia que precisava. E, aí, aconteceu. “Foi preciso desejar, sonhar, visualizar e enxergar as possibilidades”, ensina Maria Helena.
A livraria, localizada na av. Júlio (Galeria Martinatto), trabalha com variados gêneros e títulos, como muitas outras livrarias do mundo. E atende os pedidos da clientela. Durante certo tempo, ela comenta, “fomos vistas como uma livraria esotérica”, pois no período compreendido entre a inauguração e 1998, ocorreu um boom místico. E, desde março deste ano, é a literatura erótica que tem a preferência de leitoras (e leitores). “Me deixo levar pelo gosto do cliente.” Afinal, como afirma, “o livro é um produto delicado, para um público restrito.”
Aliás, o público da Mercado de Idéias é formado basicamente por mulheres – cerca de 80%. E Maria Helena justifica: “Segundo a obra Complexo de Sabotagem (de Colette Dowling), o homem compra menos, lê menos.” É claro que também existe espaço para a literatura infanto-juvenil, pois, segundo ela, a cada ano cresce o número de títulos publicados.
Em relação ao mercado, Maria Helena mostra-se otimista. “Ainda tenho esperanças, aliás”, ironiza, “livreiro vive de esperanças.” Afirma que esta expectativa deve-se ao seu lado romântico, mas de vez em quando oscila, porque o lado radical não enxerga com bons olhos a forma como a situação se desdobra. “Nos últimos 30 anos, mudou muito. Hoje o livro não é mais considerado algo imaculado, mas apenas mais um produto”, diz e comprova: “Determinados livros, que têm destaque na mídia, vendem no dia seguinte.”
Mas, apesar das transformações, inclusive editoriais, sem esquecer o espectro eletrônico que ronda os apreciadores do livro de papel, ela considera a livraria autosustentável. “Noto a popularização do livro, há editoras que estão barateando os preços e a competitividade é grande.”
Quanto ao nome da livraria, ela admite que ele surgiu a partir de uma livraria mineira chamada Armazém de Idéias. “Há cinco anos, houve uma série de intimidações telefônicas questionando o nome e me cobrando. Mas assim como começou, parou”, diz. E, para os próximos 18 anos, quais os planos para a Mercado de Idéias? “Tentar me manter livreira. Também sonho com uma livraria maior e mais acolhedora, com um espaço infanto-juvenil.” Com um café, talvez? “Não, eu quero vender livros.”
Livraria Mercado de Idéias vira uma nova
página em 2013 e completa 18 anos de atividades
Enfim, a maioridade. Enquanto a Feira do
Livro prepara-se para comemorar 30 anos em 2014, a Livraria Mercado de Idéias
chegou aos 18, virando mais uma página no conturbado mercado livreiro nacional
(o país conta com 1,3 mil livrarias, quando o ideal seria 10 vezes mais,
segundo, segundo Heloísa Seixas).
Natural de Vacaria, a proprietária, Maria
Helena Lacava, 51 anos, é precisa em lembrar como tudo começou. Ela, que teve a
experiência de ser “xerife” da Feira no período compreendido entre 1998 e 2006,
também comenta sobre público, mercado e a experiência inicial – que neste ano
completa 28 anos de atividade. “Acredito
muito nisso”, diz.Depois de cinco anos como gerente da extinta Livraria Sulina, então administrada pelo livreiro Erni D’Avila, confirmou suas observações: os livros mais vendidos eram (e ainda o são) os lançamentos. Foi neste momento, aparentemente óbvio, que despertou em Maria Helena o desejo de ter seu próprio negócio, até para oferecer alternativas aos leitores. “Não era preciso um espaço muito grande, mas faltavam recursos para pagar o aluguel de uma sala aqui no Centro.” (Para quem não recorda, ou desconhece, a Sulina estava localizada na av. Júlio de Castilhos, onde hoje encontra-se uma farmácia, bem ao lado do Clube Juvenil).
Então, “comecei a sonhar que, em janeiro de 1995, teria a minha livraria”, diz. Mas, em certo momento, foi preciso adiar o sonho, pois ainda não tinha os recursos necessários. Insatisfeita com a situação, conta que chorou “15 dias e ri outros 15”. O riso deveu-se ao fato que encontrou em Nair Busnello a sócia que precisava. E, aí, aconteceu. “Foi preciso desejar, sonhar, visualizar e enxergar as possibilidades”, ensina Maria Helena.
A livraria, localizada na av. Júlio (Galeria Martinatto), trabalha com variados gêneros e títulos, como muitas outras livrarias do mundo. E atende os pedidos da clientela. Durante certo tempo, ela comenta, “fomos vistas como uma livraria esotérica”, pois no período compreendido entre a inauguração e 1998, ocorreu um boom místico. E, desde março deste ano, é a literatura erótica que tem a preferência de leitoras (e leitores). “Me deixo levar pelo gosto do cliente.” Afinal, como afirma, “o livro é um produto delicado, para um público restrito.”
Aliás, o público da Mercado de Idéias é formado basicamente por mulheres – cerca de 80%. E Maria Helena justifica: “Segundo a obra Complexo de Sabotagem (de Colette Dowling), o homem compra menos, lê menos.” É claro que também existe espaço para a literatura infanto-juvenil, pois, segundo ela, a cada ano cresce o número de títulos publicados.
Em relação ao mercado, Maria Helena mostra-se otimista. “Ainda tenho esperanças, aliás”, ironiza, “livreiro vive de esperanças.” Afirma que esta expectativa deve-se ao seu lado romântico, mas de vez em quando oscila, porque o lado radical não enxerga com bons olhos a forma como a situação se desdobra. “Nos últimos 30 anos, mudou muito. Hoje o livro não é mais considerado algo imaculado, mas apenas mais um produto”, diz e comprova: “Determinados livros, que têm destaque na mídia, vendem no dia seguinte.”
Mas, apesar das transformações, inclusive editoriais, sem esquecer o espectro eletrônico que ronda os apreciadores do livro de papel, ela considera a livraria autosustentável. “Noto a popularização do livro, há editoras que estão barateando os preços e a competitividade é grande.”
Quanto ao nome da livraria, ela admite que ele surgiu a partir de uma livraria mineira chamada Armazém de Idéias. “Há cinco anos, houve uma série de intimidações telefônicas questionando o nome e me cobrando. Mas assim como começou, parou”, diz. E, para os próximos 18 anos, quais os planos para a Mercado de Idéias? “Tentar me manter livreira. Também sonho com uma livraria maior e mais acolhedora, com um espaço infanto-juvenil.” Com um café, talvez? “Não, eu quero vender livros.”
COMO TUDO COMEÇOU
Desempregada aos 23 anos (trabalha desde os
14 anos), em 1983 Maria Helena procurou o Centro de Integração Empresa-Escola
(CIEE). De lá, foi encaminhada para um estágio – que considera importante,
“pois as pessoas se encontram com o que pretendem fazer” – na extinta (e
saudosa) Livraria Sulina, à época gerenciada por Erni D’Avila.
Em fevereiro de 1985, passou a trabalhar como
operadora de caixa, mas, leitora voraz, começou aos poucos a indicar livros
para os clientes, e seu Erni (como
era conhecido) percebeu e reconheceu a atitude. “Um ano depois que comecei a
trabalhar, no período de Natal, ele me chamou e me entregou um envelope com uma
gratificação”, lembra. Depois, a livraria encerrou as atividades na cidade, seu Erni abriu uma farmácia (Visconde
com Pinheiro) e Maria Helena foi em busca de seu sonho.
“A XERIFE”
A primeira participação de Maria Helena na
Feira do Livro de Caxias (que teve sua primeira edição em 1983) foi em 1998,
ainda como funcionária da Sulina. Depois, com a Mercado de Idéias, ela esteve à
frente da Feira entre 1998 e 2006, como “xerife”, repetindo o bordão: “A Feira
é na praça, é do povo!”
Ainda hoje ela acredita nisso. Mas,
comercialmente, diz, não é um bom negócio. “O livreiro esquece do seu espaço para
cuidar do geral” – o que significa ter um papel intermediário entre os
livreiros e a organização, e também para mediar possíveis conflitos durante a
realização da Feira.
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