entrevista

A maioridade livreira

Livraria Mercado de Idéias vira uma nova página em 2013 e completa 18 anos de atividades

Enfim, a maioridade. Enquanto a Feira do Livro prepara-se para comemorar 30 anos em 2014, a Livraria Mercado de Idéias chegou aos 18, virando mais uma página no conturbado mercado livreiro nacional (o país conta com 1,3 mil livrarias, quando o ideal seria 10 vezes mais, segundo, segundo Heloísa Seixas).
Natural de Vacaria, a proprietária, Maria Helena Lacava, 51 anos, é precisa em lembrar como tudo começou. Ela, que teve a experiência de ser “xerife” da Feira no período compreendido entre 1998 e 2006, também comenta sobre público, mercado e a experiência inicial – que neste ano completa 28 anos de atividade.  “Acredito muito nisso”, diz.
Depois de cinco anos como gerente da extinta Livraria Sulina, então administrada pelo livreiro Erni D’Avila, confirmou suas observações: os livros mais vendidos eram (e ainda o são) os lançamentos. Foi neste momento, aparentemente óbvio, que despertou em Maria Helena o desejo de ter seu próprio negócio, até para oferecer alternativas aos leitores. “Não era preciso um espaço muito grande, mas faltavam recursos para pagar o aluguel de uma sala aqui no Centro.” (Para quem não recorda, ou desconhece, a Sulina estava localizada na av. Júlio de Castilhos, onde hoje encontra-se uma farmácia, bem ao lado do Clube Juvenil).
Então, “comecei a sonhar que, em janeiro de 1995, teria a minha livraria”, diz. Mas, em certo momento, foi preciso adiar o sonho, pois ainda não tinha os recursos necessários. Insatisfeita com a situação, conta que chorou “15 dias e ri outros 15”. O riso deveu-se ao fato que encontrou em Nair Busnello a sócia que precisava. E, aí, aconteceu. “Foi preciso desejar, sonhar, visualizar e enxergar as possibilidades”, ensina Maria Helena.
A livraria, localizada na av. Júlio (Galeria Martinatto), trabalha com variados gêneros e títulos, como muitas outras livrarias do mundo. E atende os pedidos da clientela. Durante certo tempo, ela comenta, “fomos vistas como uma livraria esotérica”, pois no período compreendido entre a inauguração e 1998, ocorreu um boom místico. E, desde março deste ano, é a literatura erótica que tem a preferência de leitoras (e leitores). “Me deixo levar pelo gosto do cliente.” Afinal, como afirma, “o livro é um produto delicado, para um público restrito.”
Aliás, o público da Mercado de Idéias é formado basicamente por mulheres – cerca de 80%. E Maria Helena justifica: “Segundo a obra Complexo de Sabotagem (de Colette Dowling), o homem compra menos, lê menos.” É claro que também existe espaço para a literatura infanto-juvenil, pois, segundo ela, a cada ano cresce o número de títulos publicados.
­­­Em relação ao mercado, Maria Helena mostra-se otimista. “Ainda tenho esperanças, aliás”, ironiza, “livreiro vive de esperanças.” Afirma que esta expectativa deve-se ao seu lado romântico, mas de vez em quando oscila, porque o lado radical não enxerga com bons olhos a forma como a situação se desdobra. “Nos últimos 30 anos, mudou muito. Hoje o livro não é mais considerado algo imaculado, mas apenas mais um produto”, diz e comprova: “Determinados livros, que têm destaque na mídia, vendem no dia seguinte.”
Mas, apesar das transformações, inclusive editoriais, sem esquecer o espectro eletrônico que ronda os apreciadores do livro de papel, ela considera a livraria autosustentável. “Noto a popularização do livro, há editoras que estão barateando os preços e a competitividade é grande.”
Quanto ao nome da livraria, ela admite que ele surgiu a partir de uma livraria mineira chamada Armazém de Idéias. “Há cinco anos, houve uma série de intimidações telefônicas questionando o nome e me cobrando. Mas assim como começou, parou”, diz. E, para os próximos 18 anos, quais os planos para a Mercado de Idéias? “Tentar me manter livreira. Também sonho com uma livraria maior e mais acolhedora, com um espaço infanto-juvenil.” Com um café, talvez? “Não, eu quero vender livros.”


COMO TUDO COMEÇOU
Desempregada aos 23 anos (trabalha desde os 14 anos), em 1983 Maria Helena procurou o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE). De lá, foi encaminhada para um estágio – que considera importante, “pois as pessoas se encontram com o que pretendem fazer” – na extinta (e saudosa) Livraria Sulina, à época gerenciada por Erni D’Avila.
Em fevereiro de 1985, passou a trabalhar como operadora de caixa, mas, leitora voraz, começou aos poucos a indicar livros para os clientes, e seu Erni (como era conhecido) percebeu e reconheceu a atitude. “Um ano depois que comecei a trabalhar, no período de Natal, ele me chamou e me entregou um envelope com uma gratificação”, lembra. Depois, a livraria encerrou as atividades na cidade, seu Erni abriu uma farmácia (Visconde com Pinheiro) e Maria Helena foi em busca de seu sonho.

 
“A XERIFE” 

A primeira participação de Maria Helena na Feira do Livro de Caxias (que teve sua primeira edição em 1983) foi em 1998, ainda como funcionária da Sulina. Depois, com a Mercado de Idéias, ela esteve à frente da Feira entre 1998 e 2006, como “xerife”, repetindo o bordão: “A Feira é na praça, é do povo!”
Ainda hoje ela acredita nisso. Mas, comercialmente, diz, não é um bom negócio. “O livreiro esquece do seu espaço para cuidar do geral” – o que significa ter um papel intermediário entre os livreiros e a organização, e também para mediar possíveis conflitos durante a realização da Feira.

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