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Mostrando postagens de junho, 2023
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Luiz Carlos Quirino (Porto Alegre, RS, 30.jun) palavras proferidas   sob sol intenso   são sempre perseguidas   por uma sombra gigantesca –    tamanho que não consegue ter a voz   do animal que sonha acordado   e pensa viver entre os bípedes   e se projeta contra a sorte   rompendo o arame farpado   que o cerca     fazendo do urro   a brutalidade da luta   na densidão sufocante   do que não pode ser partilhado   nada importa a não ser   a valia do afeto   dos corpos que se encontram   e já são outros abaixo dos ossos   distantes da orla que se distancia   e os entrega uns aos outros    ave maria dos afogados   na última gota de vida perdida   nas frestas da terra rachada   ave maria sem asas que   bica o grão oneroso e estéril   dos mentirosos – já que   todas as letras têm lastro
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Leila Guenther (Blumenau, SC, 30.jun) corpo fechado Vivo cada vez mais longe dos homens e mais perto dos cães cada vez mais longe dos olhos e perto do coração cada vez mais longe do barulho e mais perto do som cada vez mais longe da lâmpada e perto do fogo cada vez mais longe do asfalto e perto do mato Vivo cada vez mais longe do grito e perto da palavra mais longe do telefone e perto dos violões cada vez mais longe das telas e perto das portas cada vez mais longe das redes e perto dos peixes Vivo cada vez mais longe da vírgula e perto do ponto final Cada vez mais vivo  
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Gilberto Mendonça Teles (Bela Vista de Goiás, GO, 30.jun) História Toda história tem seu texto tem seu pretexto e pronúncia. Tem seu remorso, seu sexto sentido de arte e denúncia. Tem um sujeito que a escolhe que se encolhe e se confunde: um lugar que sempre a tolhe qui tollis peccata mundi. Tem sua forma em processo, tem seu recesso e cansaço, e tem seu topo de excesso no ponto extremo do escasso. Tem sua língua felpuda, a voz aguda e afetada. E tem a essência que muda e permanece, calada. Toda história tem seu preço, tem seu começo e seu dito. É só virar pelo avesso, ler o que está subscrito.  
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  Floriano Martins (Fortaleza, CE, 30.jun) Braços de Janis Joplin Recorto teu corpo uma vez mais, até que a memória revele a música por      trás de seus truques. Seios me dizem quais luas irei encontrar a caminho, os traços sutis do      vento, a vegetação anotando planos sobre a pele que talvez não sejam      cumpridos. O olhar descreve um secreto ninho de acidentes. Onde estás? Os objetos à volta recusam a tua ausência. Os dias estão desaparecendo e já não reconheço a cor de tua queda. Pérolas apreendidas na bagagem do mito. Sombras escorregadias no leito da oração com que tinges a palidez de      minha dor. Respiro o teu nome e volto a conferir os rascunhos que fiz de teu corpo. Eras nuvens ativadas dentro do espelho da paisagem, fragmentos de abismo que não chegamos a mastigar. Sonhos empoeirados que guardamos para outras noites. Um tufo de imprevistos deixado embaixo da cama sem motivo algum. Os teus dias passaram todos comigo. Jamais s
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José Paulo da Silva Ferreira (Pão de Açúcar, AL, 29.jun) Romance das Teorias Eu quero lhe levar nos meus braços amigos para longe dos ventos que crescem os olhos e lhe levarei nos ombros se a montanha for cair e me afastarei contigo no meu corpo a longe de todos os tsunamis os velhos mitos, uns dentro dos outros e do passado como este celular eu componho esta canção ouvindo cem canções antigas que se misturam como a distância das últimas estrelas no céu infinito e sou deste corpo que só sabe viver nada mais que viver como as águias grandes do céu feito o barco pesqueiro voltando para casa os pássaros se levantam feito sobrancelhas do céu o mundo inteiro se move como este olhar em que não lhe vejo de tanto olhar dentro de seu olhar dados os beijos prometidos e quando estou fazendo este romance das teorias encontro a poesia do amor o tempo virtual, a vida presente.  
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João Pedro Liossi (São José do Rio Preto, SP, 29.jun) Cascas Nas costas das coisas que faço como caminhar pelas vias avariadas do inverno enquanto canto esta canção contra a insídia dos incêndios; nas costas dos acontecimentos amontoam-se certas cascas ocas por dentro; nas costas das coisas: um eco seco como o bater das teclas (não o soar das notas) de um acordeon.  
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Henriette Effenberger (Bragança Paulista, SP, 29.jun) Na grandeza do universo, enxergo os olhos de Deus. Na pequenez de meu verso, mergulham os olhos teus…  
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  Glauco Mattoso (São Paulo, 29.jun) Ao Maior Maior é o sentimento que o sentido. Maior é a solidão do que a saudade. Maior é a precisão do que a vontade. Maior é Deus, segundo o desvalido. Maior é o sabichão do que o sabido. Maior é a servidão que a majestade. Maior é o masoquismo do que Sade. Maior é o meu poeta preferido. Quem faz muito soneto, cedo ou tarde acaba produzindo uma obra-prima, contanto que não faça muito alarde. Por trás da mera métrica ou da rima esconde-se a coragem do covarde e o medo, que jamais me desanima.
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  Afonso Frederico Schmidt (Cubatão, SP, 29.jun.1890 –  São Paulo, SP, 3.abr.1964) Caras Sujas Ao longo destas avenidas, recordação de velhas lendas, cantam as chácaras floridas com suas líricas vivendas. Lá dentro, há risos, jogos, danças, crástinas, módulas fanfarras, um pandemônio de crianças, um zangarreio de cigarras. Fora, penduram-se na grade os pobres, como gafanhotos; têm dos outros a mesma idade. mas estão pálidos e rotos. Chora a injustiça da cidade na cara suja dos garotos.
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Mariajosé de Carvalho (São Paulo, SP, 27.jun.1919 –  São Paulo, SP, out.1995) Lunalunarium xi o descarnado tempo   descornado touro   é o exemplo   na face dúbia   de covarde olhar   na carne              permanente              pungente             o             espinho vinho de ciência           da essência             o              arminho