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Mostrando postagens de julho, 2023
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Maya Falks (Caxias do Sul, RS, 29.jul) Da  forma A tempestade que quebra o silêncio vem da forma e da força da cor da manhã A pele enrugada revela segredos de fome e de frio como a flor do romã Confusa, sua mente, que mente, que isola que prende sem dó A tempestade que força, que firme extravasa não resta o amanhã.  
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Ítalo João Balen (Caxias do Sul, RS, 28.jul.1917 – Torres, RS, 13.fev.1981) Netuno na praia da cal II E mais falou Netuno em tal sentido, enquanto as belas ninfas que o cercavam, mudando o olhar de turvo a embevecido, Ora o deus, ora a praia contemplavam. Proteu, pastor marinho assaz temido e cujos dons o Oceano transformavam, criou na costa um forte “mar perdido”, punindo os que Poseidon provocavam. E a humana sensatez surgiu de novo movida por sonoras alavancas... Sorriu Netuno: “Poncho! Honra de um Povo!” Então, cantando, pôs-se a espicaçar Do coche os dois corcéis de crinas brancas... E, triunfalmente, foi-se pelo mar! (foto de Giacomo Geremia, 1938, cedida pelo Arquivo Histórico João Spadari Adami)  
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Leandro Angonese (Caxias do Sul, RS, 23.jul)   Ontem Chorei com a chuva A dor da dúvida E a vontade de ser louco Ontem Chorei como poucos Alma agoniada Chorei acordado Chorei durante o sono.
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Oscar Bertholdo (Nova Roma do Sul, RS, 15.jul.1935 –  Farroupilha, RS, 22.fev.1991) O Poeta Rústico Quando não houver mais o ofício de guardar no corpo a razão de ser, os arados conferirão as encostas, terei a noite nas mãos. Nunca soube medir as redondezas das raízes nem o rosto fatal dos que ainda não nasceram. O vale é hóspede que se demora. Meu outro lado necessário, de dia nos olhos, de noite nos ouvidos nem bem nos olhos e nos ouvidos mas amplo dentro de mim — árvore com as medidas dos frutos a todos os que passarem. Longe daqui sou condenado, conheço a vida sem crepúsculo, junto à mesa o sofrimento arde como lenha seca, o tempo é lento. Quando sós, as frutas são mais doces. Sem ambições, nutro poemas serenos cato seiva à força e mais fundo o amor. Sou precário no tamanho do mundo.
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Adriana Antunes (Caxias do Sul, RS, 14.jul) Os grandes lábios contam histórias. E nada no corpo de uma mulher é mais debochado Do que seus grandes lábios abertos. Uma boca cheia de cabelos virada para o solo, aterrada no escuro, Sem chance de ser vista. Uma boca que grita. Que geme. Que discursa. Uma boca sem dentes que mastiga, beija, amamenta, E quando consegue, ri.  
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Eva da Mota Tavares (Caxias do Sul, RS, 9.jul.1955 –  Caxias do Sul, RS, 20.mar.2021) Geometria Abortaram os sonhos do dia Os pensamentos esvaziaram o paraíso Cessou a algazarra da alma Pela janela vejo a chuva caindo, suave, Renovo os anseios, telefono... A expectativa badala compassada Fluindo do anjo da guarda Positividade para este caminhar Continuar realizando metas paralelas No círculo da vida, restando o triângulo amoroso Que o quadrado da vida limitou... Deixando o retângulo de problemas sociais Com inveja, decorando a parede da sala...
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  Marco Haurélio (Riacho de Santana, BA, 5.jul)   A viagem de Dona Guerra   Dona Guerra viajou lá pro hemisfério norte, um lugar cheio de bambas, bombas de tudo que é porte. Dona Guerra já esqueceu como é a lei do mais forte?   Só pra lembrar, Dona Guerra, desenho em lápis de cor: só vale bater abaixo da linha do Equador, bem abaixo da cintura onde provoca mais dor.   Só vale a pena invadir esses buracos sem dono, sem drone e sem dinheiro, aos cacos e no abandono, pra depois eles renderem canções do Sting ou do Bono.   Lá no norte, Dona Guerra, a senhora é uma intrusa. Ali todos têm razão e todo mundo se acusa. Barraco de gente rica deixa a gente bem confusa.   Eles se acham o berço da tal civilização, são os donos da ciência, da lógica e da razão, como agora vai deixá-los com o penico na mão?   Não esqueça, Dona Guerra, que os brancos refugiados, esses que vivem no norte, logo serão abrigados, enquanto os pardos e negros ficam na fila, parados.   Preste atenção, Dona Guerra, ao que ag
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Alexandre Marino (Passo, MG, 5.jul)     A flor-cadáver        A floresta perdeu o seu silêncio.         David Kopenawa O jardim perdeu o seu silêncio e a pauta musical dos bem-te-vis, desde que brotou a flor-cadáver em meio às ervas daninhas. Com medo de ser vista a sumaúma se encolhe toda. Não olhe nos olhos das orquídeas, elas sentem uma tristeza profunda. A flor-cadáver semeia a cizânia e seu fedor sufoca os perfumes, abelhas abandonaram as lavandas, jasmins têm saudades dos vaga-lumes. É tanta a tristeza das sibipirunas, que elas, coitadas, estão corcundas. A copaíba não encontra a paz e as samambaias nem choram mais. A dama-da-noite tem depressão e passa toda a noite a soluçar. Já não perfuma o caminho dos insones. Não há canto de amor dos sabiás. A água do riacho já secou, o jardim morre de veneno e de dores. Para acabar de vez com toda a vida só falta avançarem os tratores.
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Afonso Felix de Sousa (Jaraguá, GO, 5.jul.1925 –  Rio de Janeiro, RJ, 7.set.2002) Trocadero, 1955 Enquanto eu te esperava, enquanto se desfazia a espuma no copo de cerveja, eu ia escrevendo palavras sem sentido e nenhum nexo numa folha de papel que, como a recortar um lagarto cujos pedaços continuassem teimosamente vivos, rasguei em pedacinhos, cada um deles com uma letra e cada sequência de letras, como se num sonho ou num poema dadaísta, dando um sentido ao que dentro e fora de mim se passava e se resumia num grito mudo de quem se despede e sabe que está se despedindo para sempre, e sabe também que numa despedida pedaços de nós como que amputados se destacam e vão ficando teimosamente vivos pelo caminho.
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Adão Ventura Ferreira dos Reis (Santo Antônio do Itambé, MG, 5.jul.1939 –  Belo Horizonte, MG, 12.jun.2004) Limite e quando a palavra apodrece num corredor de sílabas ininteligíveis. e quando a palavra mofa num canto-cárcere do cansaço diário. e quando a palavra assume o fosco ou o incolor da hipocrisia. e quando a palavra é fuga em sua própria armadilha. e quando a palavra é furada em sua própria efígie. a palavra sem vestimenta, nua, desincorporada.
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Ricardo Domeneck (Bebedouro, SP, 4.jul) A timidez do linho Você tem vergonha dos vizinhos e reclama da finura das cortinas, nós, aqui nus em plena tarde na cama à janela, e explico de novo, meu querido, que é branco o tecido porque reflete toda a luz do sol, tornando impenetrável aos olhos dos vizinhos que bisbilhotam mesmo a finura das cortinas, puídas como nosso lençol, então sussurro no seu ouvido: não é bonito que a própria luz nos esconda?  
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Emílio Nunes Correia de Menezes (Curitiba, PR, 4.jul.1866 –  Rio de Janeiro, RJ, 6.jun.1918) Germinal Passou. A vida é assim: é o temporal que chega, Ruge, esbraveja e passa, ecoando, serra a serra, No furioso raivar da indômita refrega Que as montanhas abala e os troncos desenterra. Mas o pranto, afinal, que essa cólera encerra Tomba: é a chuva que cai e que a planície rega; E a cada gota, ali, cada gérmen se apega Fecundando, a minar, toda a alagada terra. Também o coração do convulsivo aperto Da dor e das paixões, das angústias supremas, Sente-se livre, após, a um grande choro aberto. Alma! já que não é mister que ansiosa gemas, Alma! fecunda enfim nas lágrimas que verto, Possas tu germinar e florescer em Poemas!
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Carlito Azevedo (Rio de Janeiro, RJ, 4.jul) Na noite física (desentranhado de um poema de Charles Peixoto) A luz do quarto apagada, na escuridão se destaca a insônia que nos atraca, dois gêmeos na bolsa d’água. Ao despertar levo as marcas que de noite rabiscavas em minha pele com a sarna ávida de tua raiva? E em você a cega trama algum mal pôde? ou maltrata ainda, que penetrava concha, espádua, gargalhada? E, em nosso rosto essa raiva aberta? que estranha lava é essa que, rubra (baba de algum diabo), se espalha? A luz do quarto apagada, na escuridão se destaca a fúria que nos atraca, dois gêmeos na bolsa d’água.
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  Angela Castelo Branco (São Paulo, SP, 4.jul) Tenho ouvido de mestres, padres e especialistas que só é possível o humano ser mais humano na história inventada. Mas hoje eu não quero crer neste intento. Marquei um encontro com a aparição. Visito o tempo de braços dados com a garganta e seu rasgo. Os dentes nascem debaixo dos pés, a cultura lava as panelas e os vestidos sobem para alcançar os livros da estante. As ferramentas enferrujadas marcam o tecido fino E, com a secreção do olhar, pode-se prender o fio da memória na carroça da frente. Neste lugar, sou transcritora.
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Alberto Bresciani (Rio de Janeiro, 4.jul) Caligrafia Pousassem palavras, as dos loucos, dos belos, dos levianos ou libertinos, palavras antigas, virilhas, ilhargas, frontes, um salmo, um sermão, bruxaria, alucinógeno, desatino, e se abriria o átrio dessas erupções que continuam a atravessar o seu nome.
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  Sérgio Napp (Giruá, RS, 3.jul.1939 –  Porto Alegre, RS, 28.mai.2015) Onde se esconde a poesia I esta pedra em minha mão pedaço de um pedaço de outra pedra não uma pedra qualquer só ela entre outras em minha mão também eu pedaço de um pedaço de outros tantos não me sinto qualquer em tuas mãos
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Caio Meneses (São José do Egito, PE, 3.jul) Fez o céu na natureza Entrando uma borboleta Na sua casa, receba, Pois talvez ela só beba E volte para o planeta. Mesmo a coisa estando preta, Procure a felicidade. A borboleta, à vontade, Escolheu a sua casa. Quem sofreu pra criar asa Entende de liberdade. Eu não vou me atrever Em falar da migração Que acontece no sertão Quando é tempo de chover, Mas todos conseguem ver As borboletas migrantes. É quando elas tão voando Numa mesma direção Deixando uma impressão Que as flores tão se mudando. O que deverá pensar Uma borboleta, quando Encontra na sua frente Uma lagarta mudando? Esse mundo não é meu, Deixa ele lá se pensando.
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Júlio Cesar Monteiro Martins (Niterói, RJ, 2.jul.1955 –  Pisa, Itália, 24.dez.2014) O fantasma O amor assombra Como fantasma de louco Na mansão abandonada Do corpo. O ranger De um portão interno Enferrujado. O sentimento de barco No afogado. Há um abrir de olhos De cada lado E um grito surdo E descontrolado. Há o espreguiçar as células A raspa da adolescência. Há proteína demais Nessa demência. O fantasma do amor É resumo espectral De sua própria perfeição. Transfusão De um sangue incompatível É soturno É noturno É horrível. Mas não se há de negar Que o monstro Tem lá seu requinte. Conhece veneninhos Que revitalizam, Que multiplicam Por vinte. Que abrem o peito do amante Arfante Para o fuzilamento Da manhã seguinte.
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Jessica Ziegler de Andrade (Rio de Janeiro, RJ, 2.jul) Uma das asas torta Num instante desses, calmo, frio, o vento toca a porta. Traz com ele um pedido e uma lembrança de gente morta. Não imagina algo fúnebre. Murmúrios, nem lamento. A Hora quando chega, de tão breve, nem se nota! A borboleta pousando nos cílios, com uma das asas torta. As roupas estendidas, a mesa posta. Um contínuo Adeus. Tudo o que fica, já se despede.            É do Súbito, que a morte gosta.
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Dheyne de Souza (Cristalândia, TO, 2.jul) boletim na aridez dos dias dorme sob lençóis úmidos um olho trêmulo outro lúcido o poema sem roupa espera uma vida menos
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Rafael Zacca (Rio de Janeiro, RJ, 1º.jul) minianjo duvidando chegou correndo e suado todos perguntam logo o que houve o que houve estava na austrália na grande barreira de corais da austrália é a maior colônia de tartarugas verdes do mundo dava pra ver as sessenta e quatro mil tartarugas marinhas verdes que se preparavam para fazer ninho minianjo duvidando recupera o fôlego e diz gente é muita tartaruga