não lamente-se

não lamente
a solidão

faça dela
instrumento
de aproximação

de si
somente
sua mente
suavemente



* * *

da minha janela
vejo dedos decepados
com sangue escorrendo.
(repito um poeta,eu sei.)

de uma hora para outra,
dos dois lados da rua
sumiram os pardais.
(borboletas, já faz tempo.)
mas, ouço uma cigarra solitária
no caos

ensolarou-se a sombra.
requentou-se o asfalto.

é de manhã
o zumbido dos motores
me desperta
e prenunciam novas mortes
a partir da urbanidade.

claro!
fios têm preferência,
embora enrolados, antiestéticos,
justificados pela necessidade
de uma convivência artificial
enquanto a natureza,
q apenas ali está,
é sacrificada
por essa necessidade
de um simulacro de aproximação.

medo!
amanhã é o meu lado da rua...
espero q não...
tomara q chova...
não três, mas dez dias
sem parar...

* * *

vive
de cigarros
álcool
e água

se alimenta
de poesia
e vida própria

compartilha
amor e amizade
ternura e bondade

e
mesmo assim
- talvez por isso mesmo -
está excluído
da sociedade

* * *

automóveis
zanzam pelas ruas
fazem barulho
buzinam

automóveis
movem a cidade
movem sujeitos
e significam mobilidade

mas,
por trás deste automóveis
há seres humanos

e parece q ninguém percebe.

* * *



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