aquela sexta

você deve saber como foi boa a noite. aquela em q saiu caminhando pela plácido de castro, bisolhando as pedras da calçada. a lua, iluminando atrás, sorria. a luz postefálica, acompanhando os passos no caminho, indicava sentidos. sem porquês, o vento era quente. afinal, ocorreu q as esquinas fizeram pensar. a respeito da desconsideração de quem devia desconsiderar. assim.
muitas vezes, as pessoas saem de carro e, no passeio, jogam papeis pelas janelas do carro, abrem carteiras de cigarro e atiram pelo vão em movimento o plástico. a cidade está recoberta pelo asfatlo e chove bastante, cada vez mais. as bocas-de-lobo são estreitas. o solo não absorve mais a água q cai sobre o asfalto cinza e deixa a pista molhada, justamente quando as sinaleiras estão amarelas. (lembra jorge mautner, aquele de uma tarde cinze e um sentido de narciso?). basta olhar para verificar q poucos atravessam pela faixa, até porque poucos motoristas se dão conta da gentileza.
outras tantas vezes o silêncio some. ambulâncias passam velozes e alguns ruídos, tipos tiros, com certeza velozes veículos atropelando as madrugadas, enquanto o vizinho de cima chega em casa e esquece q no mora gente no andar de baixo e então fala, caminha, fecha e abre porta q o sono não permite compreender. mas q, com o tempo, são assimiladas pela alma - até porque já se considerou q tudo é relativo.

aliás, as calçadas da cidade são ótimas oportunidades para o encontro necessário a todas as almas. a pluralidade das situações em cada esquina é, no mínimo, encantadora. "qual de vocês já passou a noite em claro ouvindo o segredo de cada rua? qual de vós já sentiu o mistério, o sono, o vício, as ideias de cada bairro?", perguntava joão do rio. penso q não é difícil responder àqueles q conjugam calçadas-amarelinhas. ceu ou inferno? parece coisa de criança, mas não é.

os dias hoje são elétricos. as calçadas são tomadas. há gente em todos os instantes entre os segundos. de um lado e de outro da rua. de uma esquina para outra. entre uma e outra porta aberta - e todas, parecem, estão abertas!

há um luminoso na esquina. ele bem q merecia uma poesia. quem sabe está na hora da poesia dialogar com os vazios da cidade? as laterais dos arranha-ceus? os muros, os tapumes, as calçadas, os outdoors? já estarão nas janelas dos ônibus, já se transformaram em pôsteres, já viraram cartões-postais. são mais q possibilidades.

na mesmam noite, entre o ir e vir, aquietou-se. outro instante, em q parou e pensou naquele homem - uma quase árvore -, conversando com as crianças, curiosas com a figura sentada em um dos bancos sob o sol q brilha agradavelmente sobre a cidade. pensou no prédio verde da esquina da alfredo chaves com a júlio q está sendo recuperado. nas flores. nas vezes em q passara de bicicleta, na frente de quem ama sem se dar conta q ali estava alguém com o coração no mesmo compasso q o seu.

crônica publicada no jornal pioneiro, dia 8 de outubro de 1998.

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