Ele nasceu Marcus Vinicius da Cruz de Mello Moraes em 19 de outubro de 1913. Ao morrer, em 9 de julho de 1980, todo o mundo o conhecia como VINICIUS DE MORAES. Importante poeta da Segunda Fase do Modernismo – a da “lírica essencial, antipitoresca e antiprosaica” (BOSI, 2000, P. 385) –, também foi compositor, cronista e crítico de cinema, iniciou a carreira musical de sucesso em 1928 com os amigos Paulo (1913-1990) e Haroldo Tapajós (1915-1994) – nove canções naquela década. Boêmio, fumante, apreciador de uísque e um grande conquistador – casou-se nove vezes – tornou-se conhecido pelos sonetos e pelas composições musicais. O livro de estreia, de 1933, é O caminho para a distância – inicialmente renegado pelo poeta –, que marca o início da fase conhecida como transcendentalista, hermética, “de certo veio rilkeano” (BOSI, 2000, p. 438), sob a influência do poeta católico Augusto Frederico Schmidt (1906-1965) e Paul Claudel (1868-1955). Ela irá terminar com Ariana, a Mulher (1936).
Nos anos 30 tornou-se amigo de Manuel Bandeira (1886-1968), Mário de Andrade (1893-1945) e Oswald de Andrade (1890-1954). Neste período, em oposição à fase transcendental, tornou-se “o mais intenso poeta erótico da poesia brasileira moderna” (BOSI, 2000, p. 459); publicou entre outros, Forma e Exegese (1936) e Novos poemas (1938), sobre o qual Mário de Andrade irá chamar a atenção para preocupação do poeta com a pesquisa da forma e do artesanato. Depois da fase lírica e transcendental, seus versos passaram a ter a marca da simplicidade e da sensualidade, mas também da temática social. Trata-se de uma poesia mais viril, em movimentos de aproximação do mundo material, com a difícil, mas consistente repulsa ao idealismo dos primeiros anos, conforme teria admitido ao publicar a Antologia Poética (1955). Os mais conhecidos desta fase são Cinco Elegias, de 1943, e Poemas, Sonetos e Baladas, de 1946.  Na década seguinte, Livro de Sonetos (1956) e Para Viver um Grande Amor (poesia). Os poemas “Rosa de Hiroshima” (1954) e “Operário em Construção” (1956), são exemplos do engajamento social de uma poesia lírica comprometida com o cotidiano, vinculada aos grandes dramas sociais do seu tempo.
Para o crítico literário Antonio Candido (1918-2017), um dos méritos da obra do poeta é a sua coloquialidade. “O Vinicius é um homem apegado à métrica, à rima, às formas poéticas tradicionais, como o soneto, a ode etc. Portanto, é um poeta que está inserido na tradição. Mas esse poeta inserido na tradição, exatamente por conta dos grandes recursos formais e técnicos que ele tem, se aproximou mais do que nenhum outro daquilo que os modernistas queriam, que é a vida cotidiana, que é a destruição do tema poético nobre, que é a frase coloquial (…), dentro da continuidade, da poesia formal”, analisa.
Na música, ficou conhecido pelas parcerias com Tom Jobim (1927-1994), Toquinho, Baden Powell (1937-2000), João Gilberto (1931-2019), Francis Hime, Chico Buarque e Carlos Lyra. Praticou canto coral no Colégio Santo Inácio, de padres jesuítas. A década de 1960 foi profícua, com mais de 60 composições gravadas por diferentes artistas. Toquinho viria ser o mais constante parceiro a partir dos anos 70.
Em 25 de setembro de 1956 estreou a peça Orfeu da Conceição – a mítica história de Orfeu e Eurídice ambientada no contexto das favelas cariocas – no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com cenários de Oscar Niemeyer (1907-2012) e trilha sonora de Tom Jobim e letras de Vinicius: "Lamento no Morro", "Se Todos Fossem Iguais A Você", "Um Nome de Mulher", "Mulher Sempre Mulher" e "Eu e Você" e foram lançadas em disco por Roberto Paiva, Luiz Bonfá e Orquestra; depois viraria filme, Orfeu Negro, dirigido por Marcel Camus (1912-1982) – Vinicius compôs para o filme "A Felicidade" e "O Nosso Amor" – e premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes, com o Oscar de melhor filme Estrangeiro e o Globo de Ouro, em 1959. Com Jobim ainda compôs, entre outras canções, "Chega de Saudade", gravada por João Gilberto, em 1958, que marca o início da bossa nova, “uma forma de música brasileira que foi assimilada pro todas as músicas populares do mundo” segundo Ruy Castro (2001, p. 273), “Eu sei que vou te amar”, "Insensatez" e a clássica “Garota de Ipanema”, feita em homenagem à Helô Pinheiro, que virou um hino (não oficial) da bossa nova. Um ano após ter sido lançada, a música foi adaptada e ganhou uma versão em inglês (The Girl From Ipanema), cantada por Astrud Gilberto. A criação estourou e recebeu o Grammy de Gravação do Ano (1964). Frank Sinatra (1915-1998), Ella Fitzgerald (1917-1996), Nat King Cole (1919-1965) e Cher chegaram a regravar o clássico que vem sendo reinterpretado nos mais diferentes gêneros musicais. Segundo editora do grupo Universal (responsável pela divulgação da música), Garota de Ipanema é a segunda música mais tocada da história – perde apenas para Yesterday, dos Beatles (1965).
Vinicius diplomou-se em Ciências Jurídicas e Sociais em 1933, e, três anos depois, ganhou uma bolsa de estudos do Conselho Britânico para estudar língua e literatura inglesa na Universidade de Oxford (EUA), onde permaneceu até 1941. Na segunda vez que prestou concurso para o Ministério das Relações Exteriores, em 1943, foi aprovado. Assumiu em 1946 o vice-consulado em Los Angeles e, na década de 1950, atuou nas embaixadas de Paris (1953 e 1963) e Montevidéu (1959). Em 1968, enquanto fazia shows em Lisboa, na companhia de Chico Buarque e Nara Leão (1942-1989), foi comunicado de seu afastamento da carreira diplomática e aposentado compulsoriamente pelo Ato Institucional nº 5 (AI-5), depois de 26 anos de serviços prestados – a razão, para o chanceler Magalhães Pinto (1909-1996) era o seu comportamento: "Assunto: Vinicius de Moraes. Demita-se esse vagabundo. Ass. Arthur da Costa e Silva", registra Castro (1990, p. 408). Era o final de 1968.  Em 1998 foi anistiado post-mortem e, em 2010, promovido ao cargo de “ministro de primeira classe”, equivalente a embaixador (Diário Oficial, 22 de junho de 2010, Lei nº 12.265).
Julho de 1980 foi intenso. O poeta passou vários dias com o parceiro e amigo Toquinho, com quem planejava os últimos detalhes do álbum Arca de Noé, volume 2. Seria o último trabalho de Vinicius de Moraes e se tornaria um dos mais importantes discos da música popular brasileira pós-80 voltado para o público infantil. Os dois álbuns têm origem nos poemas criados por Vinicius para os filhos Susana, Pedro, Georgiana e Luciana, e musicados, ainda na década de 1950, pelo paranaense Paulo Soledade (1919-1999). O livro infantil foi publicado em 1970, quando nasceu a filha Maria, a caçula: A Arca de Noé – Poemas Infantis de Vinicius de Morais, onde constam, entre outros, os poemas “O Pato”, “O Relógio” e “A casa”, ilustrados pela artista plástica Marie Louise Nery. O livro virou disco – 1972, na Itália, em 1980, logo depois da morte do poeta, no Brasil, com direito ao especial Vinicius para Criança pela televisão; em 1981 sairia o segundo volume, ambos com capas de Elifas Andreato. “Desenvolvemos as canções como se brincássemos com os bichinhos. Rimos muito fazendo o que gostávamos, com espírito leve e solto, produzindo músicas para os dois projetos”, lembra o parceiro Toquinho.
Na madrugada de 9 de julho de 1980, Vinicius de Moraes começou a se sentir mal na banheira da casa onde morava, na Gávea, e chegou a ser acordado pela empregada. Toquinho, que havia ficado por lá, tentou socorrê-lo, seguido por Gilda Mattoso (última esposa do poeta); Vinicius morreu pela manhã, vitimado por um edema pulmonar aos 66 anos. Foi sepultado no Cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro.


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