O poeta RODRIGO GARCIA LOPES nasceu em Londrina (PR) em 2 de outubro de 1965 e hoje vive em Florianópolis (SC). É poeta, tradutor, compositor, professor, editor e jornalista. Em 2018, publicou Roteiro Literário Paulo Leminski, com fotos de Eduardo Macarios, livro de crítica e interpretação, para a Biblioteca Pública do Paraná (série que também traz estudos sobre Helena Kolody e Jamil Snege). Em depoimento feito em 2002, para o projeto Poetas na Biblioteca, no Memorial da América Latina, afirmou sobre Leminski: “Ele era a prova viva de que era possível escrever poesia de qualidade sem sacrifício da comunicação. Você não precisava se fechar numa torre de marfim, escrevendo só para especialistas, e também não precisava se rebaixar nem cometer muitas das vulgaridades praticadas pela poesia marginal. Em Leminski convergiram de modo inédito as experiências da poesia concreta e da geração marginal”. Seu mais recente livro de poemas é Experiências Extraordinárias, de 2015, em que transita entre a poesia filosófica e o haicai, quando “capta flashes do cotidiano em mínimas pinceladas de palavras”, como observa Amador Ribeiro Neto.
Antes vieram Estúdio Realidade, de 2013 (“decepcionante”, contrariando a expectativa de Neto); Visibilia (de 2005, em que o poeta se destaca “pela sabedoria técnica e pela valorização do ritmo interior do poema”, segundo o crítico literário André Seffrin); Nômada, de 2004, em que faz uso de experimentações com o intuito de desmistificar o épico ao transpor os versos para o cenário contemporâneo, incerto e turbulento, de forma prosaica; Polivox (de 2001, onde Lopes “soa melancolia quando quer, ilude, translude, prestidigita com as imagens tiradas da própria linguagem poética, dos pensamentos que não se completam ou se resolvem”, de acordo com Jairo Pereira) e Solarium, o livro de estreia, de 1994, que reuniu as produções das décadas anteriores e onde encontramos a proximidade com a lírica japonesa, com uma levada simbólica e misteriosa – “três momentos de seu processo criativo: ‘Diorama’, ‘Polaróides’ e ‘Solarium’, que contêm climas e sutilezas particulares, como se fossem três livros independentes”, como apresenta o poeta e dramaturgo Maurício Arruda Mendonça (in LOPES, 1994).
Poeta “em estado permanente de linguagem”, costuma escrever todos os dias e diz sentir-se “transitando na área do texto criativo em suas várias formas, ou seja, tradução, ensaio, edição, trabalho editorial”, comenta. Sobre o seu trabalho poético, diz: “Nós somos em boa parte um arquivo vivo de todas as leituras e experiências que afetaram nossa sensibilidade. Eu tenho afinidade com muitos poetas, minha poesia tenta dialogar com todo um passado. E um presente também, é claro.”
Ele é tradutor desde os 16 anos. “Minha primeira tradução, com o Maurício Arruda Mendonça, para uma página literária da Folha de Londrina (editada pelo Ademir naquela época), foi nada mais nada menos que o poema “Howl”, do Allen Ginsberg”, disse, no depoimento para o projeto Poetas na Biblioteca. “Entrar num poema é entrar numa cultura, pois língua e cultura integram-se numa realidade única. [...] Penso que, só por minhas escolhas, dá pra ver que eu já estava apontando alternativas possíveis a uma visão cristalizada da poesia.”
Entre suas escolhas estão a estadunidense Sylvia Plath (1932-1963) e o francês Arthur Rimbaud (1854-1891), com Maurício Arruda Mendonça; os estadunidenses Ezra Pound (1885-1972), Gary Snyder (1930), Walt Withman (1819-1892), Charles Bukowski (1920-1994), Jim Morrison (1943-1971), William Carlos Williams (1883-1963) e Gertrude Stein (1874-1976), o irlandês Samuel Beckett (1906-1989) e a inglesa Mina Loy (1882-1966), entre outros, todos com a preocupação de que pudessem “acrescentar alguma experiência, alguma vitalidade ao nosso fazer poético”, comenta (in MASSI, 1991); sua dissertação de mestrado, em Humanidades Interdisciplinares, teve como foco a obra do estadunidense William Burroughs (1914-1997), pesquisa que resultou no livro de entrevistas Vozes e Visões: panorama da arte e da cultura norte-americana hoje (1996), e na tese do doutorado versou sobre a filósofa e poeta modernista estadunidense Laura Riding, poeta obcecada pela verdade e os problemas que ela acarreta, de quem traduziu o livro Mindscapes em 2004.
Foi depois do contato com o trabalho de Laura que decidiu gravar um CD. Nele, composições autorais, em que misturou poesia, canção e performance – um disco de experiências musicais, que também se chama Polivox, título do livro de 2001. Em 2013, gravou o segundo, Canções do estúdio realidade (título que remete ao livro de 2013), desta vez com foco apenas nas canções. “As canções se tornam campos de possibilidades poético-musicais. Além da coisa da composição, neste disco assumo com mais amadurecimento o lado intérprete, e também o violão, que estrutura minhas canções”, esclareceu, em entrevista.
Em 2014, publicou seu primeiro romance policial, O Trovador, cuja trama se passa no interior do Paraná. “Dos gêneros narrativos, acho que o policial é o que mais se aproxima da poesia, pelo menos para mim”, disse, sobre o livro. “Foi uma grande aventura escrever este romance. Pesquisei muito a história da colonização do norte do Paraná em bibliotecas daqui e dos Estados Unidos, em museus, em sites específicos.” A história se passa nos anos 30 e a colonização é o pano de fundo. “O mais importante, neste gênero, pra mim, além do protagonista, é a trama, a intriga, que no caso de O trovador é bem complexa. Foi o que deu mais trabalho, além da reconstituição de época”, resumiu.
Como jornalista, edita a revista de arte e literatura Coyote, com os escritores e jornalistas Marcos Losnak e Ademir Assunção, revista criada em 2002. Nela, além da poesia, encontramos textos em prosa, quadrinhos e fotografia, de autores nacionais e estrangeiros. Trabalhou nas redações da Folha de Londrina, Folha de S.Paulo (1988), jornal Nicolau (1989) e A Notícia (1996).
Lecionou literatura brasileira, anglo-americana e teoria literária na Universidade Estadual de Londrina (UEL-PR) e na Fundação Universidade de Rio Grande (FURG-RS). Nos anos de 2006 a 2008 foi professor no departamento de Português da Universidade da Carolina do Norte (Estados Unidos). Em 2005 foi um dos organizadores do primeiro festival literário de Londrina, o Londrix, que reúne, desde então, autores representativos da literatura brasileira em debates, palestras, performances, saraus, shows, peças, oficinas, feira de livros e projetos de extensão à comunidade.



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