O escritor ZULMIRO LINO LERMEN nasceu em Caxias do Sul, a 12 de outubro de 1917. Foi professor catedrático de inglês no Colégio Estadual Duque de Caxias (exerceu a atividade durante 35 anos), sociólogo, antropólogo, historiador e poeta. Ocupou a cadeira nº 14 da Academia Caxiense de Letras (ACL), fundada no dia 1º de junho de 1962, da qual era um entusiasta, ao lado do professor Mário Gardelin (1928-2019), de José Zugno (1924-2008), engenheiro agrônomo que dá nome ao horto florestal de Caxias do Sul e um dos idealizadores da Feira do Agricultor, e da professora Ester Troian Benvenutti (1916-1983), que participou da fundação do Museu Municipal e da Biblioteca Pública caxiense.
Publicou Tabu (conto indígena que teve duas edições, uma 1942, pela Livraria Central Florianópolis, de Santa Catarina, e a outra em 1943, pela Tipografia Thurman, de Porto Alegre); Filhos de Caá (contos indígenas, 1943); Maratá (conto indígena regionalista sobre a fundação de Maratá, no município de Montenegro, 1944), A múmia brasileira (romance indígena, 1946), Português técnico (1947), O Campo dos Bugres (conto indígena regionalista, 1950) A Missa Negra (romance de psiquiatria, 1948), Samuara (conto indígena regionalista, 1956), Iracemara (poesias regionais e misticismo, 1959), Poema Gaúcho (1971), A fonte azul sem fim (sessão de autógrafos nos pavilhões da Festa da Uva, em 1981), Sereno ser no SER (1987), além de A canção da indiazinha e o Dicionário Toponímico Tupi-Guarani-Português, de 1996 (anunciado em sessão da ACL em 1983, mas impresso na Gráfica Kessler).
No livro A Missa Negra, ele narra uma história ocorrida na região colonial italiana, acerca da possessão demoníaca de uma jovem – livro que, segundo Luiz Damo, “lhe deu muitos desgostos na vida” (2006, p. 39). A publicação revoltou o retrógrado clero da Igreja Católica, que o censurou “por sua suposta afronta aos princípios católicos”, como lembram João Claudio Arendt, Letícia Lima e Roberto Rossi Menegotto (2017, p. 204). Autores de um artigo sobre leitura e censura na Serra Gaúcha, eles chamam a atenção para a atitude da igreja contra “um cidadão declaradamente católico, que mantinha uma rede de relações sociais bastante sólida dentro da comunidade caxiense, por atuar como psiquiatra e professor” (2017, p. 206). Eles citam, ainda, a entrevista concedida pelo autor aos pesquisadores Liliana Alberti Henrichs e Juventino Dal Bó, quando Lermen afirmou “[...] lamentavelmente, foi tirado das livrarias e queimado, né?” (in 2017, p. 206) – o livro foi queimado em praça pública, conforme a historiadora caxiense Loraine Slomp Giron (1936).
Ao reforçar a excelência da obra, o escritor Cyro de Lavra Pinto publicou artigo no jornal O Momento (19.5.1951, n. 944, p. 2), onde, já na linha de apoio do texto, sinalizava o entusiasmo com o trabalho: “Belíssimo livro do Professor Zulmiro Lermen”. Mais adiante, escreveu: “Quero apenas dizer, laconicamente, que apreciei imensamente o seu novo livro e que o considero uma preciosa jóia literária, digna de figurar entre as obras de grandes autores.” Ao entregar o livro para Lavra Pinto, Lermen teria dito “que não iria escrever mais”. O autor do artigo não comenta nada sobre as razões para a decisão ou sobre o impacto da recepção da obra, apenas conjectura que as “múltiplas ocupações” de Lermen o impediriam de continuar a escrever.
Por volta de 1993, Zulmiro Lermen deixou de frequentar ativamente as reuniões da ACL, mas ainda participou da escolha da nova diretoria da instituição em 1996, quando assumiu a escritora Regyna de Queiroz Gazzola (1941). Zulmiro Lermen morreu em 10 de outubro de 1997. A cidade, finalizou Lavra Pinto, “esta bela e florescente Caxias, que foi o berço do grande poeta Raul Augusto de Vileroy; Caxias que viu morrer José Bernardino dos Santos [...], Caxias, estou certo, orgulha se de ter sido o berço do autor de ‘A Missa Negra’”.
(A partir de ARENDT, LIMA, MENEGOTTO, jul-dez, 2017; DAMO, 2006; LAVRA PINTO in http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=104523&pagfis=4634&url=http://memoria.bn.br/docreader#; LERMEN in HENRICHS, DAL BÓ, 1983; GIRON in http://falamemoria.blogspot.com/2015/10/das-raizes.html; HOFFMAN, MASCIA, 1991)

Comentários

  1. TIVE A HONRA E IMENSA ADMIRAÇÃO POR TER SIDO MEU PROFESSOR NO COLÉGIO CRISTÓVÃO DE MENDONÇA,UMA MENTE BRILHANTE E INTELIGENTE,MUITO ACIMA DAS VELHAS RAPOSAS DO VATICANO;MAIS QUE UM GRANDE PROFESSOR,UM MESTRE INESQUECÍVEL.
    TELMO ROGÉRIO SECCO
    SÃO MARCOS-RS.

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  2. Também o conheci como um bibliotecario dessa instituição escolar, quando ele, ao ver que eu me demorava a escolher qual livro retiraria para ler em casa, ele me apresentou o dele proprio - Campo dos Borges. Inclusive lembro-me que ele abriu uma página e leu para mim um parágrafo.
    Um homem de grande sensibilidade e valor, tanto é que nunca me esqueci desse fato.

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  3. Também fui aluna dele no Cristovão de Mendoza em Caxias do Sul. Sempre pronto a atender ao alunato. Lizane

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