Nascido em Montenegro (RS), em 29 de
abril de 1895, OLMIRO PALMEIRO DE AZEVEDO formou-se em 1920 pela
Faculdade Livre de Direito, em Porto Alegre; mais tarde, desempenhou o cargo de
promotor público em Caxias do Sul, onde se encontrava, pronto para viajar e assumir
a Comarca de Vacaria, mas onde permaneceu devido à chuva que fez subir o nível
do Rio das Antas. Presidiu a subseção da
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Caxias – em sua homenagem foi criada a
Comenda Dr. Olmiro Azevedo –, e participou da criação/fundação do Instituto dos
Advogados do Rio Grande do Sul (1926). Em 1944 tornou-se consultor jurídico do
Banco do Brasil,
função em que se aposentou em 1963. Quando não estava envolvido em atividades
advocatícias e jurídicas, dedicava-se à educação e à poesia. Como professor de
Língua Portuguesa atuou “com inegável e
constante dedicação ao
culto exato do vernáculo”, atesta o então vereador-historiador Mário Gardelin (1928-2019),
nas justificativas que constam na Indicação n. 142/75 do processo para designação
do nome de uma rua; como poeta, também escreveu com o pseudônimo Márcio Nobre
(Márcio Corte Real, segundo Lisana et al).
Sob este, teve seus escritos reunidos em um livreto pelo historiador-vereador
Mário Gardelin em 1981 (Acervo AHMJSA).
Seus poemas foram inicialmente publicados em periódicos da capital gaúcha, mas,
ao longo do tempo
caiu “um grande silêncio em torno de sua produção poética”, observa João
Claudio Arendt (in RIBEIRO; POZENATO, 2004, p. 134). Olmiro foi membro do
Atheneu Literário (fundado em 1926, por Alfredo de Melo Tinoco), participou da fundação
da Sociedade de Cultura Artística em 1930, foi presidente da Sociedade de
Cultura Artística de Caxias do Sul e membro honorário da Academia Caxiense de
Letras (ACL) desde a primeira sessão, presidida pelo escritor Cyro de Lavra
Pinto (1851-1896), em Caxias, e integrou a Academia Sul Rio-Grandense de Letras
e a Estância da Poesia Crioula, ambas em Porto Alegre. Publicou Veio d’Água
(1926), “composto por poemas essencialmente simbolistas”, de acordo com Arendt
(idem), e Vinho Novo (1936),
“coletânea de belíssimos poemas, quasi todos inspirados na vida e costumes
sadios dos colonos [...]”, conforme Alzira Freitas Taques (1956, p. 1464). De
acordo com Jayme Paviani, em nota biográfica, os dois livros apresentam “uma
poesia sensível aos padrões estéticos dos meios literários da época e à vida da
região”, que hoje, assegura, “adquire valor como manifestação cultural e
histórica” (UCS/IEL, 1978). Depois
de sua morte, a Editora da Universidade de Caxias do Sul (EDUCS) e o Instituto
Estadual do Livro (IEL) editaram uma reunião de poemas já publicados em Vinho Novo
ao lado de inéditos, organizados pelo autor: o livro chamou-se Vinho Velho
(1978); sobre ele, fala-se de um “programa específico”, que seria “exaltar a paisagem rural
serrana do ponto de vista do seu vigor e da abundância de frutos” (ARENDT in
RIBEIRO; POZENATO, 2004, p. 135). Olmiro deixou um volume original de crônicas,
Um raio de sol, e um de poemas, intitulado À sombra dos vinhedos.
Deste projeto, o poeta publicou quatro poemas no jornal Diário de Notícias (25 de julho de 1956): “Pastoral”, “Cromo”,
“Imigrante” e “Domingo” (na edição de 1978, este último ganhou novo nome,
“Domingo Serrano”), que foram incluídos na edição póstuma, Vinho Velho – o projeto original permanece, em parte, inédito. Na
apresentação deste, o poeta José Clemente Pozenato entende que o pós-simbolista
e pós-parnasiano Olmiro já desenhava com outras tintas os seus versos, pois
“[...] a maioria deles incorpora-se já à dicção típica dos primeiros poetas
modernistas”, afirma (1978, p. 9).
É a comoção do poeta que atrai o pesquisador
Donaldo Schüller, quando diz, em referência ao primeiro livro de Olmiro – insuperável
por ele mesmo, na opinião do crítico –, que “A crise que sacode o mundo não
poupa a palavra poética. [...] O poeta vive com intensidade a crise de si mesmo
e da poesia” (1982, p. 34). Na política, presidiu o Partido Libertador e foi
integrante do Conselho Municipal de Caxias do Sul (1928-1932); foi
subchefe de Polícia da 10ª Região, nomeado pelo interventor federal general
Flores da Cunha, no período que precedeu a Segunda Guerra Mundial – deixou o
cargo em 1937, quando foram instaurados o Governo Vargas e o Estado Novo. Na ocasião
ordenou, por força do cargo, o recolhimento dos aparelhos de rádio existentes,
que recebiam a frequência de Ondas Médias e nos quais imigrantes e descendentes
sintonizavam os discursos do duce
Benito Mussolini nas emissoras italianas. Naquele obscuro período, os caxienses
ouviram as conversas em língua pátria ou dialetos baixarem de tom e serem
apenas sussurradas, e testemunharam a troca do nome da avenida Itália para
avenida Brasil (em São Pelegrino) e da praça Dante Alighieri para Rui Barbosa,
na onda de nacionalismo que tomou conta do país. Como
advogado, ocupou o 1º Tabelionato
de Porto Alegre, sucedendo ao pai, Luiz Augusto de Azevedo. Em Caxias, foi
nomeado juiz distrital em 1919, aos 24 anos, e presidiu o núcleo da Liga de
Defesa Nacional. Morador da casa que recebera o nome de Vila Miriam, na esquina
das ruas Sinimbu e Andrade Neves – onde hoje fica o prédio no 1153,
que leva o seu nome –, era dono de uma biblioteca invejável. Descendente de
imigrantes portugueses que chegaram à América do Sul para povoar a Colônia do
Sacramento (no Uruguai, fundada em 1680), Olmiro era um poeta que criava com
facilidade; para alguns, também foi hábil historiador. No artigo “A vida
social, cultural e literária do município – Caxias do Sul, em fáce da evolução
mental das novas gerações”, o jornalista Duminiense Paranhos Antunes elogia
Olmiro, que, com outros representantes culturais, vivia “um mundo intelectual
bastante desenvolvido, não só composto de caxienses, como de elementos de
outras terras. Dentre os intelectuais, destacamos, entre outros, o dr. Olmiro
de Azevedo, [...] poeta, historiador, com uma vasta bagagem literária, autor de
várias obras publicadas, com projeção no Estado e no país [...]” (ANTUNES,
1950, p. 111). Olmiro de Azevedo participou intensamente do movimento cultural
e do cotidiano da cidade; entre tantas homenagens, hoje é nome de uma rua no
bairro Presidente Vargas (antiga Vila Ramos). Soube, ainda, demonstrar suas
qualidades oratórias, como na inauguração da nova sede social do Clube Juvenil
(8 de setembro de 1928). Além dos livros autorais,
publicou poemas no livreto Caxias na Voz
dos Poetas (ACL, 1980), compilação organizada por Gardelin, na qual Olmiro compartilha
o espaço com Palmira Saldanha, Vico Parolini Thompson, Alfredo de Lavra Pinto, Bento de Lavra
Pinto e Cyro de Lavra Pinto; outros poemas foram publicados em periódicos da
capital gaúcha, como o Almanaque do Globo e a Revista do Globo. Iremos
encontrar crônicas e poesias de Olmiro publicadas nos jornais O Momento,
Pioneiro e Diário do Nordeste, de Caxias do Sul. Seu nome é verbete
nos dicionários de Cecil Jeanine Albert, Lisana Teresinha Bertussi e Salete
Rosa dos Santos (2006), de Correia de Mello
(1944) e de Pedro Leite Villas-Bôas (1991). Com tal produção e envolvimento com a incipiente cena literária caxiense,
Olmiro, “juntamente com Ernani Fornari e Mansueto Bernardi, introduziu a região
colonial italiana na
literatura rio-grandense”, como afirma Chies (2015, p. 78). (A partir de ANTUNES,
1950; ARENDT in RIBEIRO; POZENATO,
2004; BOSI, 1992, 2005; CHIES,
2015; DAMO, 2006; POZENATO in
AZEVEDO, 1978; SCHÜLER, 1982,
1970; TACQUES, 1956; VELLINHO in
MOREIRA, 2012; ZINANI; BERTUSSI; SANTOS,
2006)
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