Nascido em Gramado (RS), no dia 4 de novembro de 1942, o poeta ARY TRENTIN publicou os primeiros poemas na coletânea Nossa geração, do Diretório Central dos Estudantes da Faculdade de Filosofia Nossa Senhora da Conceição, em 1966, ao lado do caxiense Isaac Starosta (1933), do bageense Ernesto Wayne (1929-1997) e do porto-alegrense Paulo Roberto do Carmo (1941).
Reconhecidamente poeta que valoriza os sentidos e o corpo – “Dois são os movimentos na poesia de Trentin (…), buscados em Guimarães Rosa, de ida e regresso, de prospecção e de retenção”, escreve Donaldo Schüler (1987, p. 295) , mas também do espaço e do tempo – “a vivência em sociedade é o que permite ao artista o desenvolvimento de uma arte poética que representa a precariedade das relações sociais no que diz respeito aos sentimentos humanos”, afirma Douglas Ceccagno (in CHAVES, PIAZZA, 2007, p. 147) –, também se destacou pela fotografia, atividade que desenvolveu ao lado de Aldo Toniazzo, nas pesquisas feitas durante a participação no Projeto Ecirs – Elementos culturais das antigas colônias italianas da Região Nordeste do Rio Grande do Sul, da Universidade de Caxias do Sul (UCS), criado em 1974, iniciado pelas pesquisadoras Cleodes Maria Piazza Julio Ribeiro e Maria Elena Piazza.
Em depoimento à Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Trentin definiu o exercício da fotografia documental como um processo, em que foi preciso ultrapassar o simples registro para poder “propor um enunciado ou articular informações claras sobre determinado assunto e sua situação” (1998, p. 177). Em 1985, a Editora da UCS publicou o álbum Estações – Imagens da cultura de imigração italiana no Rio Grande do Sul, que reúne fotografias de Trentin e Toniazzo, com textos dos poetas José Clemente Pozenato e Jayme Paviani, responsável pelo prefácio, que define o livro como “um álbum para ver, ler, sentir e pensar”.
Antes de ingressar na vida acadêmica (como professor, pró-reitor, pesquisador e coordenador do Núcleo de Produção Audiovisual, entre outras funções) e nas carreiras literária e da fotografia, Trentin foi ordenado sacerdote em 1969, por Dom Benedito Zorzi (1908-1988), e atuou nos bairros Sagrada Família e São Vicente, em Caxias do Sul. Exerceu, no período, as funções de assistente no Seminário Nossa Senhora Aparecida e auxiliar de coordenação diocesana da pastoral regional.
Com Pozenato e Paviani (que também foram seminaristas), Trentin participou do livro Matrícula, publicado em 1967. O livro reunia, ainda, Delmino Gritti e Oscar Bertholdo (1935-1991). O título da obra é o nome pelo qual o grupo ficou conhecido nos meios literários daquele tempo, marcado por uma poesia que tinha forte acento de regionalidade, mas que integrou a poesia do Rio Grande do Sul à produzida no Brasil, conforme afirmam as pesquisadoras Cecil Jeanine Albert Zinani e Salete Rosa Pezzi dos Santos (2007), no texto que apresenta a reedição comemorativa dos 40 anos da publicação, organizada pelos professores-pesquisadores Flávio Loureiro Chaves e Cleodes Ribeiro (2007).
Quando a coletânea foi lançada, em 1967, Mario Quintana (1906-1994) já produzira a maior parte de sua obra, conforme testemunha a Antologia poética, editada no ano anterior, em 1966. Por sua vez, o Grupo Quixote, bastante ativo nos anos 50 do século XX, interrompera sua participação no sistema literário do Rio Grande do Sul, em decorrência, de um lado, da migração de membros como Pedro Geraldo Escosteguy (1916-1989) e Raymundo Faoro (1925-2003) para o eixo Rio de Janeiro-São Paulo, de outro, da dispersão profissional dos componentes que permaneceram no Rio Grande do Sul, como Silvio Duncan (1922–1998) e Heitor Saldanha (1910-1986)”, lembra a professora Regina Zilberman em artigo publicado na edição comemorativa (2007, p. 129). “Matrícula adotou título programático, já que significava a introdução de novos autores ao universo institucional da poesia, escritores que, se, de um lado, admitiam sua juventude, de outro, almejavam ser recebidos na academia da literatura, de que doravante seriam membros assíduos”, afirmou.
Trentin publicaria, ainda, outros livros de poemas (Investiduras, 1976; Barcas e Arcas, 1981; Alguma fala e outras tramas, 1984; a participação na Antologia do Sul, organizada por Dilan Camargo, 2001; Dentro do espelho, 2002), crônicas (Baú de imagens: fotografia, televisão, mitos e mais, 2002; Coisas do tempo: mitos e outras histórias, 2003), ensaios (Armindo Trevisan: uma poética da contemporaneidade, 1974; Semântica: uma ciência do sentido, 1974; A poesia de Eduardo Guimarães, 1975; O mundo barroco de Murilo Mendes, 1975; a dissertação de mestrado, Murilo Mendes: uma nova dicção lírica, 1978; A TV da Universidade, 1998). Entre 1989 e 1994 foi cronista do jornal Folha de Hoje, de Caxias do Sul.
Como poeta, ganhou prêmios literários no Concurso de Contos, Crônicas e Poesias de Caxias do Sul (1968, 1974, 1983), no Concurso Nacional de Poesia do Estado de Goiás (1980) e, em 1991, foi premiado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil pela tradução de O mistério de Marie Rogêt, do escritor estadunidense Edgar Allan Poe (1809-1849).
Entre 1986 e 1987, especializou-se em fotografia documental pelo International Center of Photography e fez estágio no Instructional Television (Nova York, EUA). Em Caxias do Sul foi sócio-fundador do Clube do Fotógrafo de Caxias do Sul, criado em 25 de setembro de 1980 (então intitulado Clube do Fotógrafo Amador de Caxias do Sul), tendo à frente, entre outros entusiastas, o fotógrafo Joel Jordani (1952-2010). Além da exposição que resultou no livro Estações, suas fotografias ocuparam diferentes espaços culturais, entre eles o da Câmara Municipal de Caxias do Sul, com a mostra Benditas raízes da nossa história (mais as de Aldo Toniazzo) em 2013, que homenageava os 138 anos da imigração italiana, organizada pelo Centro de Memória da Câmara e pelo Instituto Memória Histórica e Cultura da UCS, dirigido, então, pela pesquisadora Luiza Horn Iotti, com curadoria do professor Anthony Beux Tessari e do poeta e artista plástico Valdir dos Santos.
Ary Trentin morreu em 14 de novembro de 2002. O jornalista e biógrafo Marcos Kirst prepara o resgate da obra e da vida do poeta gramadense. O convite para o autor do recém-publicado O ocaso da colombina: A breve e poética vida de Vivita Cartier, partiu da sobrinha do escritor, ainda em 2017, e irá se chamar Algumas tramas: um passeio especular pelo talento multifacetado de Ary Trentin, com apresentação dos colegas do Matrícula, os escritores Jayme Paviani e José Clemente Pozenato.

(A partir de BERTUSSI, ZINANI, SANTOS, 2006; CECCAGNO in CHAVES, PIAZZA, 2007; SCHÜLER, 1987; TRENTIN, 1984; PAVIANI in TRENTIN, PAVIANI, POZENATO, 1985; ZILBERMAN in CHAVES, PIAZZA, 2007; Fotografia – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 1998, nº 27; https://www.ucs.br/site/instituto-memoria-historica-e-cultural/ecirs/perfil-do-ecirs/; http://www.clubedofotografodecaxias.com.br/clube/)

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