Com O coração disparado, livro premiado com o Prêmio Jabuti em 1978, a mineira ADÉLIA PRADO confirmou o seu lugar na literatura brasileira. Segundo Augusto Massi, a poeta nascida em 13 de dezembro de 1935, em Divinópolis (MG), se tornara “uma das vozes mais importantes da poesia brasileira”. Tendo estreado com Bagagem, em 1976 (na verdade, publicou A lapinha de Jesus, em 1969, com Lázaro Barreto), não se esperava pouco da escritora, contista e professora apadrinhada pelos poetas Carlos Drummond de Andrade (que publicou uma crônica no Jornal do Brasil destacando o trabalho ainda inédito de Adélia) e Affonso Romano de Sant'Anna; formada em filosofia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Divinópolis, atuou, entre 1983 e 1988, como chefe da Divisão Cultural e, entre 1993 e 1996, integrou a equipe de orientação pedagógica da prefeitura de Divinópolis.
Depois do livro premiado, publicou uma série de textos em prosa, intercalados com novas poesias: Solte os cachorros (1979), Cacos para um vitral (1980), Terra de Santa Cruz (poesia, 1981 – ano em que é apresentado, no Departamento de Literatura Comparada da Universidade de Princeton, EUA, o primeiro de uma série de estudos sobre sua obra), Os componentes da banda (1984), O pelicano (poesias sobre a comunhão dos seres, em 1987), A faca no peito (poesia com temática religiosa e erótica, 1988, mesmo ano em que participa da Semana Brasileira de Poesia em Nova York), O homem da mão seca (1990), Manuscritos de Felipa (1994), Quero minha mãe (2000), Quando eu era pequena (2006) – que ganhou o prêmio ABL de Literatura Infantojuvenil em 2007, uma doce viagem pelas recordações da infância ilustradas por Elizabeth Teixeira, na apresentação de um mundo maravilhoso de descobertas com a personagem Carmela, revisitada em Carmela vai à escola (2011) , A duração do dia (poesia, 2010) e Filandras (2018). Em todos eles, em prosa ou em poesia o cotidiano, a fé cristã, a alegria, a sexualidade e a figura da mulher.
O doutor em Letras Fernando Brum, citado por Bárbara Lima, afirma que Adélia se aproxima do movimento de 1922 na dimensão formal, mas tem a intenção de representar dilemas mais interiores do que exteriores. “A poesia da mineira percorre dois caminhos muito importantes: de um lado o cotidiano, olhando para a simplicidade da vida e das coisas com as quais a vida dialoga; de outro, a metafísica, esse esforço de compreender o sobrenatural [no sentido cristão do termo] a partir do pensamento abstrato. Esses dois caminhos se cruzam o tempo todo em sua obra, fazendo com que a complexidade do metafísico ganhe imagens do cotidiano, e a vida ‘comum’ seja compreendida em toda a sua extensão. Adélia escreve em versos brancos e livres, numa atitude prosaica que lembra muitas vezes a obra de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa, mas mantendo a força das imagens”, explica (https://www.ufrgs.br/jornal/adelia-prado).
Nos contos e nos romances, Adélia mantém a unidade de sua produção. Numa prosa sempre poética, apresentam-se protagonistas femininas que vivenciam experiências cotidianas e que retomam os mesmos temas: a sexualidade, a escrita, a religiosidade e a chegada da velhice, em um universo muito próprio.
A atriz Fernanda Montenegro levou aos palcos um conjunto de poemas de Adélia, roteirizado por ela, por Adélia e por Fernando Torres. A peça, intitulada Dona Doida: um interlúdio, foi encenada pela primeira vez em 1987 e voltou aos palcos em 2014, com apresentações pelo Brasil, nos Estados Unidos, em Portugal e na Itália – a atriz ganhou um Molière por sua performance. Em 2000, ocorreu a estreia do monólogo Dona da Casa, uma adaptação de José Rubens Siqueira  para o livro Manuscritos de Felipa, e, em 2014, a poeta Elisa Lucinda encenou A paixão segundo Adélia Prado, com a qual revelou a noção pagã e sacra do pecado a partir dos poemas da autora mineira.
Além do Jabuti e do Prêmio ABL, Adélia recebeu prêmios da Fundação Biblioteca Nacional (2010), a Ordem do Mérito Cultural do Governo brasileiro (2010), da Associação Paulista dos Críticos de Arte (2010) e o Prêmio Clarice Lispector (2016), além de ser a primeira mulher a ganhar o Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura pelo conjunto da obra em 2017. Na ocasião, depois da apresentação dos integrantes do Projeto Palavra, que transpôs a literatura de Adélia e Drummond para o palco, ela disse: “Achei que o evento seria uma coisa burocrática, que seria uma coisa simples. Mas isso aqui é muito importante. Ver esses meninos no palco é um prêmio e me dá esperança. Isso é o que queremos quando escrevemos um livro, a gente quer ser lido. Estou tendo uma prova desse reconhecimento nesta noite”, desabafou a poeta, emocionada.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog