O poeta EDUARDO DALL’ALBA nasceu em 4 de dezembro de 1963 em Caxias do Sul (RS). Tendo publicado o primeiro livro, Escavação, em 1988, ganhou o prêmio Açorianos dez anos depois, com Vinhedos da Vontade - o primeiro caxiense a conquistar o prêmio. “Foi ótimo ganhar, pois era o reconhecimento de um trabalho que eu acho muito bom, que merecia na época, como em qualquer época. Me orgulho muito desse livro, pois ele é um grande insight. Também me senti ‘vingado’, porque, até então, minha poesia não era tão aceita”, disse, na ocasião. Mais dez anos se passaram e ele conquistou novamente o Açorianos, desta vez com Lunário Perpétuo (de 2007), mesmo ano em que foi patrono da 24ª Feira do Livro de Caxias do Sul.
Pós-doutor em Estudos Culturais do Programa Avançado de Cultura Contemporânea da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), depois de graduar-se e pós-graduar-se na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), foi professor, pesquisador e escritor. Sua obra – crítica e poética – foi citada na Benson Latin American Collection e na Universidade de Sorbonne.
Tem, além dos dois livros premiados, participação em diversas antologias e mais quatro obras de estudos literários, entre eles Drummond, leitor de Dante (1996) e Noite e música na poesia de Carlos Drummond de Andrade (2003). Foi dele a iniciativa e dele a organização do livro Matrícula Dois, o primeiro número do que seria a Coleção Fábrica de Escritos da Secretaria Municipal da Cultura, em 1998, passados pouco mais de 30 anos da publicação fundadora da poesia caxiense, livro que reapresentou os poetas da primeira edição (menos Delmino Gritti) e apresentou “novos” poetas da Serra gaúcha, entre eles Flávio Ferrarini (1961-2015).
Na edição comemorativa dos 40 anos do livro Matrícula, em 2007, organizada pelos pesquisadores Flávio Loureiro Chaves e Cleodes Maria Piazza Julio Ribeiro, que reuniu os poemas originalmente publicados por José Clemente Pozenato, Oscar Bertholdo (1935-1991), Delmino Gritti, Jayme Paviani e Ary Trentin (1944-2002), Dall’Alba escreveu o artigo “As poéticas e a poiesis do ‘Matrícula’”, no qual, a certa altura, definiu a obra: “Realizando uma poesia que deu/dá uma dicção à região da Serra gaúcha, fugindo da dicção dialetal, a poesia de Matrícula se estabeleceu na linha da tradição da poesia ocidental, inserida na cultura cristã, ou seja, na linha da tradição da Língua Portuguesa, sem deixar de beber na tradição da poesia neolatina, em especial a francesa, e a anglo-saxônica, e na linha do racionalismo cartesiano, o que, até então, não fora registrado na literatura do sul do País. A dicção individual, a partir daí, insere a poesia da Serra no sistema da poesia brasileira, de modo simbólico e discreto, como apontavam os meios e a época” (in 2007, p. 207).
De acordo com a professora da Università degli Studi di Perugia (tália) e poeta Vera Lúcia de Oliveira (autora de Músculo amargo do mundo, 2014, e A poesia é um estado de transe, 2010), existe algo intrínseco à poesia de Dall’Alba: “o elemento evocativo, ligado ao mundo rural do sul do Brasil, onde o autor cresceu e viveu as primeiras experiências e descobertas, no seio de uma comunidade de imigrantes ainda profundamente ligada ao país de origem, o qual deixaram por necessidade. [...] para Eduardo há sempre duas Itálias, que correspondem a dois espaços não coincidentes e, por vezes, antitéticos. (2014, p. 46).
Para ela, fica evidente na poesia de Dall’Alba a vida cotidiana dos imigrantes italianos, tanto que ela “acaba sendo, também, um documento precioso do ponto de vista sociológico e antropológico, pela minúcia de particulares e pela qualidade imagética do texto, que permite amiúde ao leitor seguir os vários momentos e atividades, sobretudo coletivas” (2014, p. 50) “Ele quer uma poética livre, precisa e medida, mas também luminosa e leve, como a arte da dança; quer uma poesia que transfigure o vivido em música e beleza” (2014, p. 53).
Apaixonado pela música, durante mais de 10 anos integrou o Coral da UFRGS, como tenor. Agitador cultural, participou do Conselho Municipal de Cultura e também do Conselho Municipal da Juventude. Vítima de um infarto, Eduardo Dall’Alba morreu aos 50 anos, na madrugada do dia 24 de dezembro de 2013.


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