Aprendi com meu filho de dez anos
Que a poesia é a descoberta
Das coisas que eu nunca vi.

OSWALD DE ANDRADE nasceu em 11 de janeiro de 1890 e, com pouco mais de 20 anos, viajou pela Europa, quando tomou conhecimento do futurismo ítalo-francês. Na volta ao Brasil, aproximou-se de Mário de Andrade (1893-1945), Victor Brecheret (1854-1955), Di Cavalcanti (1897-1976), Guilherme de Almeida (1890-1969), Anita Malfatti (1889-1964) e Menotti del Picchia (1892-1988), grupo que representará o “espírito de 22” e o Modernismo brasileiro. Em 1924 publica o Manifesto Pau-Brasil e o romance Memórias Sentimentais de João Miramar, e, em 1928, o Manifesto Antropofágico. Na década de 1930, é a vez de Serafim Ponte Grande (1933) e O Rei da Vela (1937), que o Teatro Oficina de São Paulo estreou em 29 de setembro 1967, sob a direção de José Celso Martinez Corrêa. A obra é um marco do modernismo e inaugura o tropicalismo no teatro – ao apresentar um país contraditório, desfaz o mito do brasileiro cordial. O poema dramático O Santeiro do Mangue só foi publicado postumamente: ambientado no bairro de prostitutas e proxenetas no Rio de Janeiro da década de 1950, foi considerado cáustico e com linguagem vulgar. Oswald, que foi casado com Tarsila do Amaral e, depois, com Pagu (Patrícia Galvão, 1910-1962), morreu em 22 de outubro de 1954, em São Paulo.



No Pão de Açúcar
De Cada Dia
Dai-nos Senhor
A Poesia
De Cada Dia

(Pau-Brasil, 1925)

metalúrgica

1 300o à sombra dos telheiros retos
12 000 cavalos invisíveis pensando
40 000 toneladas de níquel amarelo
Para sair do nível das águas esponjosas
E uma estrada de ferro nascendo do solo
Os fornos entroncados
Dão o gusa e a escória
A refinação planta barras
E lá embaixo os operários
Forjam as primeiras lascas de aço


(Pau-Brasil, 1925)

Pronominais

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro

(Pau-Brasil, 1925)


Meus oito anos

Oh que saudades que eu tenho
Da aurora de minha vida
Das horas
De minha infância
Que os anos não trazem mais
Naquele quintal de terra
Da rua de Santo Antônio
Debaixo da bananeira
Sem nenhum laranjais

Eu tinha doces visões
Da cocaína da infância
Nos banhos de astro-rei
Do quintal de minha ânsia
A cidade progredia
Em roda de minha casa
Que os anos não trazem mais
Debaixo da bananeira
Sem nenhum laranjais

(Primeiro Caderno do Aluno de Poesia Oswald de Andrade, 1927)

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