O poeta WALMIR AYALA nasceu em Porto Alegre no dia 4 de janeiro de 1933. O primeiro livro, Face Dispersa, foi publicado em 1955. Depois, vieram mais 14 livros e três reuniões de poemas, entre elas a Antologia Poética, de 1965, além de duas publicações bilíngues – espanhol/português, publicadas em Madri.
Ayala se destaca como poeta, identificado com a tendência de retorno aos grandes temas líricos, que tem início com a segunda geração modernista. A dimensão subjetiva está presente quando problematiza o fazer poético, o amor, a figura de Deus e a finitude do homem.
A experiência do desamparo é também o que move a prosa. Nos livros infantis Ayala revela a preocupação em retratar matérias essencialmente nacionais, como em A Vitória-Régia e o Beija-Flor (1999). Além de poeta, foi contista, romancista, tradutor, crítico de arte, ensaísta, dramaturgo e memorialista.
Morreu no Rio de Janeiro em 28 de agosto de 1991, onde foi morar logo após a publicação do primeiro livro e onde desenvolveu suas atividades, sendo homenageado em 1987 pela escola de samba Portela, com samba-enredo criado a partir do livro infantil A Pomba da Paz (1974).

                         Arte Poética

A Jorge Octavio Mourão

Faço poema às vezes com a displicência
de um risco sem figura,
como a preguiça de um gesto
sem destino,
às vezes como o adormecimento
no mormaço,
como o tremor de uma lágrima
de espanto;
faço poema às vezes como a faina
de colher flores, de passar os dedos
nas águas, de voltar-me
por não ver nada mais do que sonhava;
faço poema às vezes como a máquina
registra, como o dedo segue
a linha da leitura, como a força
invisível de virar
a página de um livro casual;
mas às vezes faço poema erguendo
um punhal contra a rosa, ou contra mim,
como quem morre e resiste e quer morrer, assim
faço poema, às vezes.

Faço poema sempre como vivo.

(Antologia Poética, 1965).


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