O “Album de Poesias” era um suplemento de O Malho, revista criada no Rio de Janeiro, que veiculou entre setembro de 1902 e 1954.
Entre os poetas desta edição, encontramos Lobivar Matos (Corumbá, 11 de janeiro de 1915-Rio de Janeiro, 27 de outubro e 1947). Autor de Areôtorare: poemas boróros (1935) e de Sarobá (1936),  mudou para o Rio de Janeiro aos 18 anos. Após a preparação para o ingresso na Faculdade Nacional de Direito, Lobivar contrariou a inspiração da “Cidade Maravilhosa” e continuou escrevendo poemas que mencionam sua terra natal, embora no poema que segue demonstre a admiração e a contrariedade pelo cenário do então Distrito Federal (mantida a grafia original).
Na imprensa de Corumbá é considerado o precursor do modernismo em Mato Grosso do Sul e a biblioteca de sua cidade tem o seu nome.


Delirio

Entre arranha-céos esguios, torres enormes
provam que meu povo continúa escravo
e anda, ás tontas, cégo, completamente cégo.

Os sinos das igrejas, das cathedraes luxuosas
enchem de uma tristeza innocente
a physionomia do meu povo.

E o meu povo continúa acorrentado,
tateando na escuridão.

Meus olhos desmancham todos os panoramas falsos
e meus ouvidos só escutam
a melodia dinamica de turbinas e de machinas.

Meus delirios, meus anseios
e esta realidade que me enerva
dão-me a sensação forte de perspectivas traçadas
sobre um Mundo Novo.

E eu ando fechado bebendo a vida dos que soffrem.

E eu sonho com o Homem-Simples de amanhã.

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