Conhecido
por retratar em poemas a vivência interiorana, o poeta FLÁVIO LUIS FERRARINI nasceu em 5 de agosto de 1961, no distrito de
Travessão Paredes, em Flores da Cunha, município da Serra gaúcha. Na manhã de 16
de junho de 2015, uma terça-feira, Ferrarini sofreu um acidente de trânsito na
ERS-122, na localidade de São Gotardo, e não resistiu aos ferimentos. Mas sua
poesia e a lembrança de um poeta tímido, que amava o que fazia, resistem; a
poesia, como “um dos experimentos mais interessantes da literatura
contemporânea nacional”, como assinalou, certa vez, o jornalista Eduardo
Lanius; a imagem está presente nos mais de 20 livros publicados por Ferrarini,
entre poesia, crônicas e contos.
Além
de poeta, Ferrarini foi cronista dos jornais O Florense (algumas foram reunidas em Crônicas da cidade pequena, de 1995), Semanário, este de Bento Gonçalves, e do jornal Pioneiro, de Caxias do Sul; foi redator
publicitário e escreveu livros voltados ao público infantojuvenil – o último, Bento Bandini: seja você mesmo (2013), é
considerado um de seus livros mais autobiográficos.
Sua
poesia, conforme o professor e poeta Jayme Paviani, conterrâneo de Ferrarini,
“era absolutamente regional, do dia a dia, da nossa cultura, às vezes sendo
crítico e em outras humorístico”1. Na ocasião do acidente, o
escritor e jornalista Marcos Fernando Kirst, afirmou: “Se perde um dos grandes
moldadores da palavra escrita na história. [...] ele tinha uma capacidade de
criar novas metáforas como nunca vi na literatura”2. Sua poesia flui
entre o minimalismo e o epigrama (ler Cogumelos
Amarelos, de 1994), poemas breves e irônicos, crítico aos costumes do
interior, mas também ao corre-corre das grandes cidades – sempre com rigor e
método.
Em
1990, quando publicou o quarto livro, Minuto
Diminuto (edição do autor), chamou a atenção do poeta José Paulo Paes, que
escreveu o comentário “Um poeta do interior” (Folha de São Paulo, 1991). No artigo, Paes reforça a condição
interiorana de Ferrarini, que serve para ressaltar o “nexo dialético, feito de
contradições” e filiá-lo “numa linhagem drummondiana” (1997, p. 85-86), mas
também tem quem o compare a Manoel de Barros, pelo viés interiorano e pela
descrição das paisagens do interior. Além das aproximações e comparações, Paes
afirma: os poemas de Ferrarini “valem bem horas inteiras de muito poeta de
cidade grande cujo nome, sabe-se lá por que, já circule nacionalmente” (1997,
p. 90). Na contracapa de Minuto Diminuto,
o depoimento de Luis Fernando Verissimo, confirma: “sua poesia é profunda e
engenhosa, de primeiro time, mantenha sua teimosia. você é um poeta” (in
FERRARINI, 1990).
O
primeiro livro do poeta florense é Volta
e meia um poema na veia, de 1985. Até 2014, com o romance poético O menino da terra do sol, publicou 24
livros (incluindo os infantojuvenis) e participou de quatro antologias
estaduais (como Letras do Brasil, da
Casa do Poeta Riograndense, 1984). Era um poeta que gostava do que fazia. “Como
disse várias vezes em conversas com estudantes, eu juro que até já tentei parar
(de escrever),
mas não consigo. É uma necessidade, como respirar”, afirmou, certa vez, em uma
entrevista.
Embora
avesso à exposição, preferia o contato direto com seus leitores e aproveitava
os encontros com estudantes em atividades nas escolas da cidade e dos
municípios vizinhos para conversar sobre poesia. Duas bibliotecas da região
adotaram o seu nome como forma de homenageá-lo, a Municipal de Nova Pádua e a
da Escola Municipal Rio Branco, de Flores da Cunha. Na cidade natal, foi
patrono da 30ª Feira do Livro em 2007. Por iniciativa da irmã, Madeleine
Ferrarini, em 2016 foi criado o Instituto Flávio Luís Ferrarini
(www.flavioluisferrarini.com.br), que guarda o acervo pessoal do poeta e para
se tornar um local para a fomentação cultural e a integração entre as pessoas,
com atividades vinculadas à literatura – palestras, oficinas e filós
filosóficos, entre outras atividades. Por ocasião da inauguração, a AMZ
publicou o livreto Tira-Gosto, uma
coletânea de 21 poemas que Ferrarini já havia deixado organizada e diagramada. “Embora sendo essencialmente um poeta moderno, pela
estética dos seus poemas, Ferrarini demonstra, com seus poemas extraídos de uma
vivência interiorana, que o melhor olhar sobre a contemporaneidade pode ser um
olhar que vem de um mundo quase alheio a ela.” Neste final de semana, dia 24 de agosto (sábado, 19h), ocorre a comemoração pela passagem dos três anos do Instituto, com apresentações do grupo teatral Fulanos de Tal, que encenará Lembranças do Menino da Terra do Sol, e do projeto Do Livro ao Rap, de Bento Gonçalves.
(A partir de FERRARINI, 1990, 1995; PAES, 1997; VERISSIMO in FERRARINI, 1990; jornal Folha de Hoje, 4 de dezembro de 1990; http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/geral/cidades/noticia/2015/06/ele-era-absolutamente-regional-diz-professor-sobre-escritor-morto-em-flores-4782583.html1,2; https://pt.wikipedia.org/wiki/Fl%C3%A1vio_Luis_Ferrarini)
(A partir de FERRARINI, 1990, 1995; PAES, 1997; VERISSIMO in FERRARINI, 1990; jornal Folha de Hoje, 4 de dezembro de 1990; http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/geral/cidades/noticia/2015/06/ele-era-absolutamente-regional-diz-professor-sobre-escritor-morto-em-flores-4782583.html1,2; https://pt.wikipedia.org/wiki/Fl%C3%A1vio_Luis_Ferrarini)
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