Uma dos componentes da
tríade concretista, DÉCIO PIGNATARI
nasceu em 20 de agosto de 1927, em Jundiaí (SP). Com Haroldo de Campos e
Augusto de Campos, os outros ângulos, fundou o Grupo Noigandres e a revista de
mesmo nome em 1952, para serem “os protagonistas conscientes, facilmente
identificáveis pelos interessados, de um crime poético longamente planejado”,
conforme ele mesmo apresenta o grupo em Errâncias,
livro de 2000 (p. 45). Este “crime” foi o Concretismo, que se impôs “como a
expressão mais viva e atuante da nossa vanguarda estética”, como afirma Alfredo
Bosi (2000, p. 475). No retorno da Europa, depois de anos viajando pela Europa,
em 1956 eles lançam oficialmente o movimento durante a Exposição Nacional de
Arte Concreta, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), que no ano
seguinte ocupará o saguão do Ministério da Educação e Cultura (MEC), no Rio de
Janeiro.
O primeiro livro de Pignatari, O Carrossel, é de 1950, ainda com o uso
dos metros tradicionais e publicado pelo Clube de Poesia de São Paulo. Em
seguida, ministrou, em Teresópolis (RJ), o curso “Raízes da Poesia Moderna”,
com ênfase nas contribuições das literaturas européia e estadunidense e na
análise crítica da situação da poesia brasileira. Depois, a tese intitulada
“Situação Atual da Poesia no Brasil”, é apresentada no II Congresso Brasileiro
de Crítica e História Literária, em julho de 1961, e publicada na revista Invenção (1962, p. 51). Esta e o Plano-Piloto para Poesia Concreta,
assinada pelos três e publicada no número 4 da antologia Noigandres (1958), configuram-se
como “a melhor introdução à inteligência da nova poética” (BOSI, 2000, p. 476).
Publicou, com Haroldo
e Augusto, o livro Teoria da Poesia
Concreta (1965, com terceira edição em 1987, pela Brasiliense), onde estão
reunidos textos críticos e manifestos literários publicados/redigidos entre
1950 e 1960, com forte impacto e “uma contribuição principalmente brasileira à
literatura” (2000, p. 201).
Na poesia, viriam os livros Organismo (1960), Exercício Fino (1968), Poesia
pois é poesia (1977), Vocogramas
(1985) e Poesia pois é poesia e poetc.
(1986; 2004). Pignatari também publicou textos em prosa – além de Errâncias, houve O rosto da memória (contos, 1986), Panteros (romance, 1992) e o livreto-roteiro para a ópera multimeios
TemperaMental, de Livio Tragtemberg e
Wilson Sukorsky (1993) –, peça de teatro (Céu
de Lona, 2004), ensaios (Teoria da Poesia Concreta, com os irmãos Campos, 1971, 2002; Signagem da Televisão, 1984; e Cultura pós-nacionalista, 1998; entre outros), e traduções – ou
transcriações.
Estas são: Cantares de Ezra Pound (com A. de Campos e H. de Campos,
1960), Antologia poética de Ezra Pound (com A. de Campos e H. de
Campos, J. L. Grünewald e Mário Faustino, 1968, revista e ampliada em 1993), Mallarmé (com Augusto e Haroldo de Campos,
1978), Retrato do amor quando jovem (baseada em Romeu e Julieta, de
William Shakespeare, 1990), 31 poetas, 214 poemas: do Rig-veda e Safo a
Apollinaire (1996) e Marina (2005), entre outras.
O poeta simbolista francês Stéphane Mallarmé
(1842-1898) e o poema “Um Coup de Dés” foram fundamentais para as bases do
movimento concretista. “Baudelaire, único simbolista que li inteiro, somou-se a
Poe, que já me vinha do colegial, para encarnar em Mallarmé, meu guru do quase
sempre, do grande e do pequeno, sem fanatismos ou esoterismos de supostas
leituras completas, mas muita leitura icônica do mal armado e mal amado, de tão
baixa estatura para a sua loira Méry, que muito lhe disse por muito saber, mas
em cujos sentidos não logrou penetrar mais profundamente” (2000, p. 69).
Um de seus poemas mais conhecidos foi
publicado na revista Noigandres 4, em
1958 (ao lado). “O texto se afigura como uma leitura crítica da mensagem-anúncio”, dizem
Antonio Sergio Lima Mendonça e Alvaro de Sá (1983, p. 146). “O anúncio pela sua
mecânica social e repetitiva insere o receptor no consumerismo e traz o vício
de beber” (IDEM, p. 149).
Poeta, romancista, ensaísta, tradutor,
pesquisador na área de semiótica e professor de Comunicação, bacharelou-se em
Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e doutorou-se em Letras, dezenove
anos depois, com a tese Semiótica da Arte
e Literatura; em 1979, tornou-se livre-docente com a tese Semiótica da Arte e da Arquitetura, onde propõe-se “a aplicar a
semiótica, de Charles Sanders Pierce, aos signos artístico, arquitetônico e
utilitário”, transposta para o livro em 1989 (chegou à décima edição em 1995).
Pignatari freqüentou ateliês de pintura, de
Alfredo Volpi e Hermelindo Fiaminghi, fundou a Associação Brasileira de Desenho
Industrial (1964), participou da fundação da Association Internationale de
Sémiotique (AIS, na França, 1969) e da Associação Brasileira de Semiótica (ABS,
1975) e lecionou Teoria da Informação na Escola Superior de Desenho Industrial
do Rio de Janeiro (1964-1975) também lecionou na Capital Federal, onde
organizou a Escola de Publicidade da Faculdade de Comunicação da Universidade
de Brasília (UnB). Por muito tempo trabalhou em agências de publicidade,
nacionais e multinacionais (como a Thompson e a Metro 3, depois DPZ), além de
escrever para jornais, inclusive sobre futebol. Escreveu
para o cinema (Anos 30: entre duas
guerras, entre duas artes, de 1989) e também atuou (Sábado, de Ugo Giorgetti, de 1985).
Em 1999, o poeta mudou-se para Curitiba, onde
faleceu em 2 de dezembro de 2012. Ele tinha Alzheimer e morreu de insuficiência respiratória e pneumonia aspirativa, aos 85 anos.
(A partir de BOSI, 2000; CAMPOS, PIGNATARI,
CAMPOS, 1962, 1987; MENDONÇA, SÁ, 1983; PIGNATARI, 1986, 1995, 1999, revista Invenção, 1962; revista Cult, set 2000; http://www.poesiaconcreta.com.br/poetas.php?poeta=dp;
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