Baiano de Jequié, WALY SALOMÃO nasceu em 3 de setembro de 1943, filho de mãe
sertaneja e pai sírio. Com pouco mais de 20 anos, já se tornara uma das
principais figuras do Tropicalismo, ao lado de Caetano Veloso, Gilberto Gil,
Torquato Neto, Jards Macalé, Gal Costa e Maria Bethânia. Na década de 1970,
quando se identificou também com a contracultura, adotou o pseudônimo Waly
Sailormoon para publicar o primeiro livro, Me
segura qu’eu vou dar um troço (1972; 2003 pela editora Aeroplano), com
textos escritos na prisão (preso por porte de maconha, em 1970), paginados e
diagramados pelo artista plástico Hélio Oiticica (1937-1980). Sua conexão, no
início, tinha a ver com o paideuma concreto, ou seja, com Augusto de Campos
(1931), Décio Pignatari (1927-2012) e Haroldo de Campos (1929-2003) e os
autores propostos por eles: Stéphane Mallarmé (1842-1898), E.E. Cummings
(1894-1962), Ezra Pound (1885-1972) e James Joyce (1882-1941), além da poesia
moderna brasileira, em especial Oswald de Andrade (1890-1954), Carlos Drummond de
Andrade (1902-1987) e João Cabral de Melo Neto (1920-1999). “Waly é poeta de
seu tempo, capaz de se deslocar em permanência, nômade por destinação”, escreve
Evando Nascimento em “Favos da (quase) poesia” (revista Cult, outubro de 2001).
Publicou oito livros em vida – Algaravias, de 1996, ganhou os prêmios
Alphonsus de Guimaraens, da Biblioteca Nacional, e o Jabuti – e teve outros livros
publicados e reeditados após sua morte; mas ainda restam dezenas de cadernos
com anotações à espera de publicação. Foi, ainda, ator, letrista, produtor
cultural e diretor artístico; também foi secretário do Livro e Leitura em 2003,
durante a gestão de Gilberto Gil no Ministério da Cultura (MinC) – uma de suas
propostas, até hoje não implementadas, foi a de incluir um exemplar de um livro
em cada cesta básica; a situação atual do MinC é ainda menos promissora.
Em Salvador, ingressou na Faculdade de
Direito da Universidade Federal da Bahia (UFBA) – onde conheceu Caetano – e, ao
mesmo tempo, na Escola de Teatro – a favor e contra a vontade da mãe e do irmão
mais velho. Participou, na época do Centro Popular de Cultura (CPC) da capital
baiana, ao lado do poeta José Carlos Capinam (1941), do roteirista Geraldo
Sarno (1938) e do compositor e músico Tom Zé (1936). Depois de formado, em 1967
– sem nunca exercer a profissão –, mudou-se para o Rio de Janeiro
Atuou principalmente nos bastidores do
Tropicalismo – dirigiu o show Fatal,
de Gal Costa (1971), que tem a participação do Lanny Gordin Trio, no qual a
cantora interpretou as músicas “Mal Secreto” e “Vapor Barato”, dele e de Jards
Macalé; com Bethânia, emplacou sucessos como “Anjo Exterminado” (com Macalé, em
1972), “A voz de uma pessoa vitoriosa” (1978), “Mel” (com Caetano, em 1979),
“Talismã” (com Caetano, em 1980), Alteza” (1981), “Da Gema” (1984) e Olho
d’Água” (1992). Para os Doces Bárbaros, grupo que reunia Caetano, Gil, Gal e
Bethânia, compôs “Tarasca Guidon” (1976).
Nos anos 70, editou a revista Navilouca, com Torquato Neto. O livro Os últimos dias de paupéria, de Torquato,
foi organizado por Waly e Ana Maria Silva de Araújo Duarte, e publicado no Rio
de Janeiro pela Livraria Eldorado Tijuca, em 1973, depois pela Max Limonad, em
1982. Na sequência, embarcou para os Estados Unidos, onde se encontrou, em Nova
York, com Hélio Oiticica – de quem publicou Aspiro
ao grande labirinto (1986), fez a curadoria da mostra O q faço é música e sobre quem escreveu a biografia Qual é o Parangolé (1996) – e estudou
inglês na Universidade de Columbia. Na volta ao Brasil, encontra-se com Paulo
Leminski em 1976, para quem apresenta Babilaques
(que viria a ser editado somente em 2007). No ano seguinte, publica Alegria Alegria, primeiro livro de
Caetano Veloso.
Na década de 1980, compõs com Lulu Santos
(“Assaltaram a Gramática”, gravada pelos Paralamas do Sucesso em 1984), com
Roberto Frejat (“Balada de um Vagabundo”) e com Itamar Assumpção (“Zé
Pelintra”, 1988). Já nos anos 90, voltou-se para a “nova geração”: com Adriana
Calcanhoto, compôs “A Fábrica do Poema” (1994) e “Pista de Dança” (1998) e produziu
o disco e o show “Veneno Antimonotonia” (1997), dedicado à obra de Cazuza.
Dividiu com Caetano a trilha sonora do filme Quilombo, de Cacá Diegues, e participou, ao lado de Leminski,
Francisco Alvim e Chacal, do curta-metragem Assaltaram
a Gramática, de Ana Maria Magalhães. Ao mesmo tempo, Salomão conquista
espaço próprio, independentemente de escolas ou movimentos. “Torna-se um poeta
maduro em diálogo com diferentes universos de referência, de Gregório de Mattos
a Joan Brossa, por exemplo”, acrescenta o professor Fred Coelho, da PUC-Rio.
Na década de 1990, foi nomeado diretor de
comunicação da ONG de Vigário Geral, participa do vídeo Trovoada, de Carlos Nader (1996); o show de Cássia Eller, por ele
produzido foi eleito “o melhor do ano” pela imprensa; é entrevistado pela TV
síria e escreve o poema “Janela de Marinetti”, dedicado ao irmão Jorge Salomão
(1998); em 1999, participa do Festival Aylout de Arte Eletrônica, no Líbano e,
na viagem ao Oriente Médio, volta à ilha de Arwad, na Síria, onde reencontra os
parentes paternos – as imagens dessa viagem são incluídas no documentário de
Carlos Nader, Pan cinema permanente,
de 2007.
Em 2002 participou do filme Gregório de Matos, da cineasta Ana
Carolina, onde interpretou o poeta baiano, ao lado de Marília Gabriela e Ruth
Escobar (na década de 1980 foi presidente da Fundação Gregório de Matos,
sucedendo a Gilberto Gil). Tal como poeta baiano, morto em dezembro de 1695 (ou
janeiro de 1696), Waly era uma “metralhadora verbal munida de referências
irônicas o tempo todo”, conforme relalta Leão Serva em https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2014/06/1462215-onde-estao-waly-e-leminski.shtml.
De acordo com o poeta e curador
literário Italo Moriconi, “Sua poesia completa permanece à espera de releituras
atualizadoras e sua biografia é fundamental para entender a história de uma
geração que passou pela contracultura em plena ditadura e terminou, na maturidade,
envolvida na redemocratização do país”. Sua morte, em 5 de maio de 2003, foi
provocada por um tumor no intestino. E,
ao morrer, era mais do que um poeta. “Agora quando olho, vejo que tenho um lado
meio ambíguo em relação a tudo isso, eu nunca gostei do manto da maldição sobre
a poesia, até quando muitos poetas a aceitavam”, disse, em entrevista para
Adolfo Montejo Navas, publicada na revista Cult,
de outubro de 2001. (A partir de SALOMÃO; https://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u32678.shtml;
https://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u32679.shtml;
https://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u32680.shtml;
http://www.candido.bpp.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=1466;
https://pt.wikipedia.org/wiki/Waly_Salom%C3%A3o;
http://www.blogdaeditorarecord.com.br/2016/06/24/destino-paraty-com-ana-c-cacaso-leminski-torquato-e-waly/;
https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2014/06/1462215-onde-estao-waly-e-leminski.shtml;
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