Em 2000, a José Olympio publicou Toda Poesia para celebrar os 70 anos do poeta FERREIRA GULLAR. Hoje, 10 de setembro de 2019, comemora-se os 89 anos do poeta, que, segundo Otto Maria Carpeaux, é “um dos maiores homens do nosso País” (in GULLAR, 1983). Nascido José Ribamar Ferreira, em São Luís do Maranhão, no mesmo dia em que começava a circular em 1808, no Rio de Janeiro, o jornal Gazeta do Rio de Janeiro (depois, Gazeta do Rio), Ferreira Gullar integrou o grupo de intelectuais brasileiros que ficou conhecido como Geração de 45.
Por pouco tempo, já que desprezou a carga poética convencional dada às palavras, marca dos poetas do grupo (SÁ; MENDONÇA, 1983); ele não se restringiu ao rótulo e, com uma poética poderosa, respondeu aos desafios que a cultura e a práxis lançaram ao escritor durante a segunda metade do século XX. Com uma poesia caracterizada, de forma geral, pelo intimismo e pela forma tradicional, a geração de Gullar preocupou-se com as pressões históricas de seu tempo (BOSI, 2000). No processo vivo do fazer poético, o maranhense não se enquadra em “ismos”, tão recorrentes para enquadrar a produção literária.
O “poeta participante” – quando chegou à adolescência, espantou-se ao saber que ficaria adulto, daí, tornou-se poeta – seja sobre qual o tema em que se debruça, foi um dos que contribuíram para a afirmação do poema concreto ao publicar A Luta Corporal (1954). Nele já se percebe a implosão da linguagem poética; revisto 40 anos depois de sua publicação, “o lirismo é direcionado mais pela inteligência do que pelo sentimentalismo”, conforme o crítico Fábio Lucas, autor do prefácio da edição comemorativa do livro em 1994.
Desde cedo assumiu uma postura experimental, ao entender que escrever era inventar a própria linguagem a cada poema. Depois de ter contribuído para o surgimento do concretismo, tornou-se dissidente e criou o movimento neoconcreto, em 1959. Ao lado do artista plástico Amílcar de Castro (1920-2002), do escultor Franz Weissmann (1911-2005), da pintora e escultora Lygia Clark (1920-1988), da escultora e artista multimídia Lygia Pape (1927-2004), do jornalista e poeta Reynaldo Jardim (1926-2011) e do poeta e crítico de arte Theon Spanúdis (1015-1986), assinou o manifesto publicado no Jornal do Brasil em 22 de março de 1959, onde afirmavam que “a arte neoconcreta reafirma a independência da criação artística e face do conhecimento (ciência) e do conhecimento prático (moral, política, indústria, etc.)”. É dele, também, o manifesto Teoria do não-objeto; juntos, fazem parte da história da ate brasileira, em que acentua as suas idéias sobre a prática da poesia. Em 1969 escreveria o vigoroso Vanguarda e Subdesenvolvimento, ensaio com fundo dialético para a sociologia e a arte.


Para ele, a experiência poética deveria ser levada ao extremo. Esgotados os recursos do neoconcretismo, voltou-se para o movimento de cultura popular. Nesta nova fase, ingressa no Centro de Cultura Popular (CPC) da UNE e, quando sobreveio o golpe militar, em 1964, foi processado e preso na Vila Militar. Depois, passou à clandestinidade e, em seguida, ao exílio, clandestinamente – foi para Moscou, depois para o Chile, Lima e Buenos Aires. Na capital argentina escreveu o celebrado Poema Sujo, “uma longa fala da memória [...]. Memória-saudade e memória-desespero”, diz Alfredo Bosi. “A poesia reencontra aqui a sua vocação musical de abolir o tempo, não já contrafazendo as artes do espaço, mas explorando o próprio cerne da uração” (BOSI, 2000, p. 473). O poema foi traduzido e publicado em várias línguas e países.
De volta ao Brasil, publicou Antologia Poética (1973), Uma luz do chão (1978) e em 1980, Na vertigem do dia; voltou a escrever para a imprensa do Rio e de São Paulo e discutiu a arte contemporânea em dois livros, Etapas da Arte Contemporânea (1985) e Argumentação contra a morte da arte (1993). Seu último livro de poemas foi  Alguma parte alguma, de 2010, como bem lembra o poeta Rafael Iotti, e não Vozes, de 1999.
Gullar também escreveu poemas em forma de cordel e textos para o teatro. Foi um dos fundadores do Teatro Opinião, espaço de resistência democrática ao regime militar. Com Oduvaldo Viana Filho escreveu a peça Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come (1966); com Armando Costa e A. C. Fontoura, A saída? Onde fica a saída? (1967) e Dr. Getúlio, sua vida e sua glória (1968), com Dias Gomes. Em 1978, editou a peça Um rubi no umbigo.
Além da poesia (sua atividade fundamental, como ele mesmo afirmava), do teatro e dos ensaios, publicou crônicas e traduções, como Ubu Rei, de Alfred Jarry (1972) e Cyrano de Bergerac, de Edmond Rostand (1985). Recebeu os principais prêmios de literatura, em 2002, foi indicado ao Nobel de Literatura e, em 2014, ocupou a cadeira nº 37 da Academia Brasileira de Letras (ABL). Morreu no Rio de Janeiro, em 4 de dezembro de 2016.
(A partir de BOSI, 2000, GULLAR, 1983, 1994, 2000; SÁ, MENDONÇA, 1983; TELES, 2012, www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm%3Fsid%3D1042/biografia)

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