O poeta ARNALDO ANTUNES comemora os seus 59 anos nesta segunda-feira, 2 de setembro. Compositor e vocalista de uma das bandas de rock dos anos 80, os Titãs, Arnaldo publicou em 1986 o livro Psia, onde já anunciava: “um cachorro louco/ não se pode se soltar/ se um dono louco/ segurar”. Solto, não parou mais. Em 1990, veio Tudos, sobre o qual ele afirmou, em entrevista para Mario Cesar Carvalho: “A questão não é o que você diz, mas como você diz” (Folha de S.Paulo, 15/6/1990); com As Coisas, de 1991, ganhou o Prêmio Jabuti (voltaria a ganhar em 2015, com Agora aqui ninguém precisa de si), e, com Nome, de 1993, apresentou-se multimídia, com livro e vídeo (depois DVD), com animações em parceria com Célia Catunda, Kiko Mistrorigo e Zaba Moreau. Tivemos, ainda, os livros de poemas 2 ou + Corpos no Mesmo Espaço, de 1997, em que leva ao extremo os experimentos sintáticos e gráficos, e, na Espanha, Doble Duplo, de 2000, mesmo ano da coletânea de textos presentes em jornais e revistas, 40 Escritos, organizada por João Bandeira. Mas tudo começou em 1983, quando publicou, em edição do autor (tiragem inicial de 500 exemplares), Ou E, álbum de poemas visuais, onde já demonstrava sua aproximação com procedimentos plásticos e influências que incluem o experimentalismo de Edgar Braga, de Extralunário – Poemas Incompletos (1960).
Artista multimídia, Arnaldo projetou-se com o grupo Aguilar e a Banda Performática, do artista plástico José Roberto Aguilar – nas apresentações, “com uma mala cheia de objetos, canta, toca percussão e inventa situações nonsenses, como pentear discos, bater panelas ou jogar livros para o alto”1. Com os companheiros dos Titãs, desde 1982, quando apresentaram-se pela primeira vez, no Teatro Lira Paulistana (40 anos em outubro! Conheça melhor o espaço no livro de Riba de Castro, de 2014) e no SESC Pompéia, em São Paulo, passou a representar uma geração de ouvintes, espectadores e outros artistas, com quem viria a dividir trabalhos – Carlinhos Brown e Marisa Monte, por exemplo, com quem formou o trio Tribalistas.
A poesia e a música de Arnaldo Antunes têm várias influências, entre elas da Semana de Arte Moderna e do Concretismo, amplificadas pelos recursos eletrônicos. Sobre os concretistas, disse, na entrevista a Carvalho: “Acho tola a maneira como as pessoas se referem à poesia concreta. É tão redutora e tão cheia de preconceitos com o que eles fizeram”. Na época em que tocava com Aguilar, escreveu e produziu pequenos livros, impressos em xerox (A flecha só tem uma chance e Deu na cabeça de alguém uma árvore, um piano e muitas galinhas) e editou com Beto Borges e Sergio Papi a revista Almanak 80. Leitor de revistas como Navilouca, Artéria, Qorpo e Zero à Esquerda, editou, ainda, as revistas Kataloki e Atlas (esta, em 1998). “Atualmente, sinto uma carência dessas publicações”, disse, em entrevista para Heitor Ferraz (CULT, nov. 1997).
Até 2015 foram mais 14 livros, entre poesia, incluindo Antologia, em Porto, Lisboa e Coimbra (Portugal, 2006), Poemas y Ensaios – Antologia, no México (2009) e a coletânea Melhores Poemas, da Global (2010), nova reunião de prosa (Outros 40) e textos infantis, como Frases do Tomé aos Três Anos (2006), Animais, com Zaba Moreau (2011) e Cultura, de 2012, ilustrado por Thiago Lopes.
Como músico, gravou 11 CDs solo em estúdio e quatro ao vivo (em Lisboa em 2017), fez a trilha sonora O Corpo (2000), gravou o CD/DVD e o Especial MTV – A Curva da Cintura, com Edgard Scandurra e Toumani Diabaté, em Bamako, no Mali (2011), sete discos com os Titãs (entre 1984 e 1991), dois com Os Tribalistas (2002, Grammy de Melhor Álbum Pop Contemporâneo Brasileiro, entre outros prêmios internacionais, e 2017), teve músicas gravadas por Elza Soares, João Donato, Jota Quest, Gal Costa, Alice Ruiz (e muitos mais) e participou de shows de outros músicos, como os da cantora/compositora Adriana Calcanhoto, de Wanderléa e do grupo Nação Zumbi. Em 2011 foi VJ da MTV e, em 2015, participou da canção "Trono de Estudar", composta por Dani Black em apoio aos estudantes que se articularam contra o projeto de reorganização escolar do governo estadual de São Paulo. A faixa teve a participação de outros 17 artistas brasileiros, como Chico Buarque, Dado Villa-Lobos (Legião Urbana), Paulo Miklos, Zélia Duncan, Tetê Espíndola e Pedro Luís (da banda Pedro Luís & A Parede).
Atuou nos filmes Areias Escaldantes (1985) e Eu e Meu Guarda-Chuva (2010). Também participou de mostras de poesia visual, como Poesia Evidência (PUC-SP, 1984) e a Transfutur – Visuelle Poesie, em Kassel (Alemanha, 1990), país onde também faria performance no Poesia Festival Berlin em 2008. Em 1982, já realizara, com Go, a exposição Caligrafias, na Galeria Cultura, em São Paulo, onde apresentaram, na inauguração, a ópera performática A espada sinfônica, com vários convidados. Realizaram também performances na Pinacoteca do Estado, Defeitos cônicos; na Livraria Belas Artes, Noite de performance: epicaligráfica; no Sesc Pompéia, Robôs efêmeros, em Turim (Itália) e na 50ª Feira do Livro de Porto Alegre (2004), entre outras. Fez performances no Festival Brazil, em Londres, no Festival Europalia, em Bruxelas e na Antuérpia; teve poemas projetados com raio laser em intervenção urbana realizada na Avenida Paulista, com Haroldo e Augusto de Campos e Walter Silveira, e obra incluída na exposição Brazilian Visual Poetry, no Mexic-Art Museum, na cidade de Austin, Texas, EUA, sob a curadoria da artista brasileira Regina Vater (2002). Em 2003, escreveu o prefácio do livro Não, do poeta Augusto de Campos, e, em 2008, o catálogo da exposição B.a.b.i.l.a.q.u.e.s: alguns cristais clivados, de Waly Salomão. Como resume André Gardel, em “A Letra Múltipla de Arnaldo Antunes, o pedagogo da estranheza” (2006)1, “o trabalho de Arnaldo Antunes, junto com o de Antonio Cicero, Bráulio Tavares, José Miguel Wisnik, entre outros, retoma e amplia contemporaneamente uma linha criativa de nossa produção poético-musical, cujos antecedentes mais óbvios são Vinicius de Moraes, Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Paulo Leminski que se desdobra transitando livremente, sem traumas, sem rupturas, antes extraindo potência poética dos choques, interações, cruzamentos, encruzilhadas, superposições, esbarros, cantos paralelos existentes entre alta cultura e cultura folclórico-popular, códigos e linguagens diversas, universo comercial massivo e produção experimental, entre vida e poesia, sem temer qualquer tipo de contaminação de vozes, alturas, palavras, sons, silêncios”. (A partir de livros, jornais, revistas, http://www.arnaldoantunes.com.br/new/sec_biografia.php; http://www.arnaldoantunes.com.br/new/sec_textos_list.php?page=1&id=1201)

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