carta de um náufrago do asfalto

pois é.
há coisas q realmente fogem da compreensão imediata.
isto pq, parece-me, criamos certas barreiras para justificar nosso entendimento das coisas q estão por aí, soltas no fluido universal, é verdade.
acostumamo-nos a ver a vida de determinada forma e isso 'gruda' em nossas mentes q a mudança implica em abstinência total de hábitos.

pq temos a mania de nos comprometer em fazer uma ligação a tal horário e deixamos a pessoa à espera, angustiada para saber notícias?
pq afirmamos um amor incomparável e, de repente, alegamos q surgiu um compromisso inadiável em função dos anos de contenção?
pq deixar à deriva o navio q nos conduziria a um paraíso idílico, longe das complicações q nos atacham ao chão, como os panos de calafetagem dos porões?
sei lá, ceilão...

coisas mínimas, como lembra o mexicano hiriart.
"os simulacros [...] consistem em supor - o famoso 'e se ...' das crianças - e na arte de supor reside muito dessa faculdade misteriosa que chamamos de imaginação."
e dê-lhe asas ao escapismo!
messages in the bottles....
assim, ilhado, passei a metade do sábado à tua espera, ansioso por saber de ti; do q houve na noite depois q te deixei; do q conversaste com as estrelas ou com a lua q pairava, pálida, sobre a humanidade.
assim, anotei no calendário a lembrança das essências prometidas e dos prazeres cúmplices - pois  que entraram para o álbum de reminiscências oculto no fundo do baú.
nada aconteceu, a não ser a espera.

quando veio a ligação, resisti - migalhas!
novamente, não!
é preciso algo mais, agora.
continuo à espera, à espreita, como um lobo esfaimado nas tungas siberianas, embora o sol tenha aquecido um pouco minh'alma.
não a culpo, take it easy!
só não entendo este novo deslize, este novo impasse - foge da minha compreensão imediata tal ato.

e, como já não sou mais criança e minhas esperanças não se resumem ao jogo de botão ou às leituras de contos de fadas, vou cuidar da minha vida, rodeado pelos meus livros e meus sonhos e meus fantasmas e minhas expectativas de uma nova forma de me relacionar com alguém.
vou sair pela cidade, de bicicleta, contemplar com eivas de saudável inveja os casais q caminham de mãos dadas pelas ruas e se beijam sem culpa, e se entregam ao q acreditam, mesmo q seja uma mentira a ser descoberta ali adiante.

o sábado já começa a esvair-se, logo virá o domingo e, depois, a rotina instigante de mais cinco dias de pura entrega aos objetos do viver, e pensar, pretensiosamente, em alguma coisa para fazer as pessoas mais felizes.
beijo,

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