Alberto Pucheu

(Rio de Janeiro, RJ, 25.jan)


Poema para carregar no bolso

 

Entreguei o corpo aos abalos da cidade.

Mastigo seus vergalhões, o sabor perdido

do torrão ancestral. Independe de mim

a oscilação da Bolsa, a noite de carros,

as palavras derivadas em poemas, o exagero

luminoso por todos os bairros, o abalroamento

na esquina e na estrada. Estou à margem

do resultado de todas as coisas. Violino

desacompanhado, não tenho para a vida

uma pauta de Bach. Inventar-me-ei

nessas linhas. Ou não cumprirei arrojos

necessários. Sigo, com o nome de meu avô antes de seu

avô nascer, com a mesma sensação ubíqua do momento

em que fui concebido, com pensamentos de quelônio

submerso em mares distantes... Os pés descalços, a sola

engrossada por caminhos andarilhos, o dorso aderindo ao

jeito do asfalto e das calçadas, o corpo manuseado pela

rebelião sísmica e descontínua da cidade.

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