Franklin Mello
(Rio de Janeiro, RJ, 22.fev)
agora enquanto as negras nuvens
se aproximam, a voz não cala
é preciso ter certeza é preciso ter
um rasgo imenso no peito, expor
sem valentia o coração pulsante –
não me negue um gesto de simpatia
ou, se preferir o escárnio, que seja
vou continuar carregando este pesar,
porque
apesar do tempo ruim, e enquanto houver
chão
chegarei no momento do sol nascer
a ouvir o rebuliço dos passarinhos
a sentir a vida que há sob a relva
vermes formigas lesmas
meus pés descalços, a cócega na planta
me dá vontade de arregaçar a calça
atirar fora a camisa e
me jogar na terra, me espojar feito
menino
por isso vivo e ninguém há de me matar
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