Carmen Moreno

(Rio de Janeiro, RJ, 28.fev)


Ensaio sobre as manhãs

 

A porta do fim dá num beco inusitado, 

repleto de recomeços.

Ninguém descobre o frescor do chão desabitado,

enquanto o medo jura seus infernos!

Mas se a vida chama e o sujeito mete a cara, 

não há terror que o aterre em jardim morto.

Movem-se as horas de infinito e novidades, 

que não cabem nas compotas das certezas.

O vento descabela de improviso as folhas,

forrando de beleza o caminhar,

(e há dor na rebentação dos ramos).

Os dias são bichos indomados, 

sem nome e classificação:

ninguém se socorre do sofrer por adivinhação,

nem pondo tranca nos abraços.

A vida entra em qualquer gruta, 

e cata o ente debaixo de pedra,

quando cisma de ensinar pelo padecer.

Também o sol invade o olho agoniado,

devolve o infeliz ao sonho, 

e transforma em liquidez seu sangue coagulado.

O certo é que nunca se sabe o que a manhã assina:

e a sorte é o não saber!

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