Geir Campos

(São José do Calçado, ES, 28.fev.1924 –

Niterói, RJ, 8.mai.1999)


Inventário

 

Esta epiderme há muitos muitos anos

me cobre: guarda algumas cicatrizes,

outras não lembra mais, e até mistura

uns caminhos da infância a outros de agora.

As unhas não direi que são as mesmas

com que o seio nutriz terei vincado:

são mais duras, mais feias e mais sujas

– pois nem sempre de amor e entrega foi

o chão em que plantei, colhi nem sempre.

Se os dentes não gastei, gastei meus olhos

entrevendo paisagens, vendo coisas,

cegando-me ante sésamos de sombra.

A alma apanhou demais e vai pejada,

mas vão leves as mãos cheias de nada

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