Aos 26 anos, já no Rio de Janeiro de 1933, ele começou a trabalhar na editora O Malho, responsável pela revista O Tico-Tico (que circulava desde 1905). Ao voltar de uma viagem aos Estados Unidos, trouxe consigo uma grande ideia: publicar quadrinhos no Brasil1. Criou, em 1934, o Suplemento Infantil e vinculou-o, no dia 14 de março, ao jornal A Nação, de João Alberto Lins de Barros (1897-1955), chefe da polícia do presidente Getúlio Vargas (1882-1954), mas a parceria durou pouco, já que os leitores descartavam o jornal e preferiam o Suplemento. Aizen se desligou do jornal e fundou, com apoio de Lins de Barros, o Grande Consórcio Suplementos Nacionais, que passou a publicar o Suplemento Infantil, rebatizado de Suplemento Juvenil em 20 de março daquele mesmo ano (primeiro em formato tabloide, depois, standard); o jornal circulou autonomamente por 10 anos e chegou a ter uma tiragem de 360 mil exemplares (terças, quintas e sábados), dando espaço para os personagens citados no primeiro parágrafo e outras figuras mais. Aizen fez um jornal em quadrinhos, no formato das publicações diárias, com o dobro do tamanho do Suplemento, conforme o pesquisador Gonçalo Junior (2004). Roberto Marinho (1904-2003) chegou a fazer uma proposta de aquisição/fusão para Aizen, que a recusou; mais tarde, chegou às bancas O Globo Juvenil, criado em 13 de junho de 1937, dirigido por Djalma Sampaio, auxiliado por Antonio Callado (1917-1997) e Nelson Rodrigues (1912-1980). Em seguida, o Grande Consórcio perdeu também seus principais heróis, como Flash Gordon e Jim das Selvas.
Sob a forte concorrência e os problemas gerados pela Segunda Guerra Mundial (o aumento no custo do papel, os problemas de distribuição e a falta de pagamento de clientes), a empresa foi vendida ao governo de Getúlio Vargas. Aizen recorreu ao amigo Lins de Barros para fundar a Editora Brasil-América, a Ebal, em 18 de maio de 1945. Em 1947 lançou Superman, revista que foi publicada por ele até 1983; nos anos 50, além do Homem de Aço, também publicou Batman (1953), Tarzan e títulos de faroeste, além das quadrinizações de romances e da história do Brasil. A série Edições Maravilhosas (inspirada nas estadunidenses Classic Ilustrated e Classic Comics), além do português correto, prestigiou artistas nacionais ou por aqui radicados, como Ziraldo (de A Turma do Pererê), Álvaro de Moya (de História da História em Quadrinhos) e Manoel Victor Filho (que ilustrou obras de Monteiro Lobato), o haitiano André Le Blanc (adaptação de O Guarani), os italianos Nico Rosso (que desenhou Chico Anísio) e Eugênio Colonnese (reconhecido no Brasil, na Argentina e na Inglaterra, desenhou o Príncipe Valente, um dos heróis preferidos de Aizen, com o rosto do editor), entre muitos outros2. "Adolfo Aizen tinha muito orgulho dessas revistas, que davam prestígio para a editora", lembra Colonnese, radicado no Brasil, que quadrinizou A Proclamação da República para a Ebal3, que também levou para os quadrinhos clássicos como Os Sertões, de Euclides da Cunha, Mar Morto, de Jorge Amado, O Menino do Engenho, de José Lins do Rego, e O Guarani, de José de Alencar, entre muitos outros, entre 1949 e a década de 1960. Em associação com a King Features Syndicate, investiu naquilo que revolucionou a indústria e a mentalidade brasileira em volta dos quadrinhos, os super-heróis; e também publicou seu primeiro sucesso no gênero, a revista O Heroi (1949, sem acento), criado por ele. Ainda coeditou histórias de Walt Disney (1901-1966) com Cesar Civita (nascido Cesare, 1905), irmão do editor Victor Civita (nascido Vittorio, 1907-1990), na revista Seleções Coloridas.
A Ebal, em seu apogeu, publicou os novos personagens criados pela Marvel (Homem-Aranha, Hulk e o Quarteto Fantástico) e competiu com a Editora Globo (de Roberto Marinho), a Editora Bloch (de Adolfo Bloch, 1908-1995), os Diários Associados (de Assis Chateaubriand, 1892-1968) e a Editora Abril (de Victor Civita), durante muitas décadas o grande império editorial da América Latina. A queda de Aizen se deu, novamente, por problemas financeiros e a forte concorrência a partir dos anos 70. Isso fez com que a editora perdesse os direitos de publicação de seus principais super-heróis. Os personagens da Marvel foram os primeiros a deixar a Ebal, adquiridos pela Bloch. No início dos anos 80, a Editora Abril comprou os direitos das HQs da outra  grande editora dos EUA, a DC (de Batman e Superman)4.
Com a morte do fundador, em 10 de maio de 1990, aos 93 anos, a editora ainda existiria até 1995, mas chegaram ao fim as quatro décadas de influência em gerações de leitores, artistas e editores – além da legitimação social às histórias em quadrinhos no Brasil5. Para isso, escreveu artigos, concedeu entrevistas e desenvolveu campanhas educativas para desmistificar os conceitos que rotulavam os gibis, entre outras coisas, por produzirem “preguiça mental” – entre os reclamantes encontrava-se a escritora Cecília Meirelles (1901-1964), conforme Gonçalo Junior (2004). Por iniciativas como essa ele é reconhecido, por muitos, como o “pai dos quadrinhos no Brasil” e o fez merecer, entre outros, o Prêmio Yellow Kid – Uma vida dedicada aos quadrinhos, em 1975, na 11ª Bienal Internacional de Quadrinhos de Lucca, na Itália. "Sou de uma geração que foi muito influenciada por essas histórias, que trouxeram um universo revolucionário para a linguagem das HQs", afirma Roberto Guedes, autor do livro Quando Surgem os Super-Heróis (2004). (A partir de BIBE-LUYTEN, 1987, 2ª ed.; GOIDA, 1990; GUEDES, 2004; JUNIOR, 2004; http://www.soquadrinhos.com/showthread.php?tid=30871; https://brasilescola.uol.com.br/biografia/adolfo-aizen.htm3;
https://www.sescsp.org.br/online/artigo/compartilhar/3138_O+PIONEIRO+DOS+QUADRINHOS2,4,5)

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