FLAVIO COLIN nasceu Flávio Barbosa Mavignier Colin em 20 de junho de 1930. Autodidata, foi ilustrador e autor de histórias em quadrinhos; aprendeu a desenhar, conforme com Goida (1990), reproduzindo trabalhos de Chester Gould, Alex Raymond, Milton Canniff e André Le Blanc, entre outros. Fez seus primeiros trabalhos profissionais para a Rio Gráfica e Editora (RGE, hoje, Globo), na revista de histórias de terror X-9, entre 1956 e 1959. Tinha 26 anos e também colaborava para as revistas Enciclopédia e As aventuras do Anjo, quadrinização de uma série de rádio da época. “Alguns dizem que realmente foi O Anjo [...], que durou mais e me projetou no mercado de quadrinhos. [...] Além disso, fiz os primeiros números de O Vigilante Rodoviário, que foi o primeiro seriado nacional de televisão”, lembra, em entrevista para Samir Naliato em 20011. O Vigilante, exibido pela TV Excelsior, foi desenhado para a Editora Outubro (ex-Continental, mudou de nome a partir de 1963), para quem também desenhou histórias de terror.
No início dos anos 60, Colin circulou por Porto Alegre; ao lado de Júlio Shimamoto (de O Gaúcho), Getúlio Delphin (de O Aba Larga), Renato Canini, João Mottini, Flávio Teixeira e Luiz Sainderberg, participou da Cooperativa Editora e de Trabalho de Porto Alegre (CETPA), quando adaptou a história de Sepé Tiaraju, ambientada no século XVIII. Sobre o período, temos o depoimento feito a Naliato2: “A CETPA fazia coisas regionais. Por exemplo, eu desenhava o Sepé, um personagem real. Era um índio missioneiro. No Rio Grande existe até uma cidade e um rio chamados São Sepé. Ele era meio canonizado, porque tinha um sinal na testa, uma meia lua, que era uma falha na pele, que brilhava quando o Sol batia. Então, viam nele uma figura mística. Como missioneiro, ele defendeu os padres jesuítas naquela guerra das missões. [...] Era uma cooperativa que publicava temas nacionais. Mas, como estava interligada ao Brizola, quando houve a rebordosa, fechou; e os desenhistas que faziam aquilo ficaram meio marginalizados.”
Em 1964, criou Vizunga, a pedido de Mauricio de Souza. Publicada pela Folha de São Paulo, de 1964 a 1965, a tira diária era sobre um ex-caçador e ex-pescador que conta e ouve “causos” em rodas de amigos. “O que mais chama atenção em Vizunga são as duas maneiras de se ilustrar a história. Uma de forma mais séria, utilizando traços tradicionais e outra se utilizando de linhas mais caricaturais, para enfatizar as mentiras e exageros do personagem principal”, descreve Mazinho.4 A série Vizunga foi republicada por Ota Barros no gibi Eureka (nos anos 70) Colin a abandonou ao descobrir que o mercado publicitário pagava melhor. “O cancelamento aconteceu porque eu ganhava muito pouco com aquilo, e o Mauricio ainda descontava a parte de distribuição dele. Aí, eu entrei para a agência de publicidade McCann Erickson e comecei a ganhar dinheiro. Um quadrinho de storyboard pagava o mês do Vizunga.”3
No final daquela década ele retornou aos quadrinhos, desta vez pela Grafipar, de Curitiba – editora responsável pelo segundo boom dos quadrinhos nacionais. Por ela, desenvolveu histórias de terror, suspense, aventuras e ficção científica, sempre com muito sexo, para revistas como Próton, Sertão e Pampas, Quadrinhos Eróticos e outras. “Nesta época, já explodindo com seus melhores traços – grafismo perfeito, rostos e corpos definidos, com poucas linhas, mas sempre com expressão dramática e movimentação dinâmica – Colin desenhou pelo menos umas 200 histórias”, assegura Goida (1990, p. 78). São histórias que escreveu para revistas da carioca Editora Vecchi (Spektro, Pesadelo e Sobrenatural) e da paulista Editora D-Arte (Calafrio e Mestres do Terror). Seguiram-se muitas outras colaborações, de um autor que não gostava do Batman nem do Super-Homem, mas que ilustrava seus trabalhos com personagens como o saci-pererê, caboclos, mulatas, samba, macumba e tudo o mais que dissesse respeito à cultura brasileira.
Nos anos 80 ilustrou A história de Curitiba, com textos do escritor e roteirista Tabajara Ruas (de Neto perde sua alma, 2001), com quem irá publicar A Guerra dos Farrapos, em 1985, pela L&PM Quadrinhos (história extraída do livro Os Barões Assinalados); em 1987 faria nova incursão pela história do Rio Grande do Sul ao assinar a obra O Continente do Rio Grande, com textos do historiador Barbosa Lessa (30 mil exemplares distribuídos gratuitamente, em 1986, em postos de gasolina da marca Ipiranga, patrocinadora do projeto).
Na década de 1990, uma nova parceria resultou na edição independente do álbum Estórias Gerais (reeditado pela Conrad, em edição de luxo), escrito por Wellington Srbek – a parceria se deu também em histórias publicadas em diferentes revistas, e se manteve até pouco antes da morte do desenhista, ocorrida no dia 13 de agosto de 2002, motivada por um enfisema pulmonar. Antes de morrer, ainda publicou Fawcett (Editora Nona Arte, depois Devir Livaria), produzido em parceria com André Diniz em 2000; com o trabalho recebeu o Troféu Angelo Agostini como Melhor Desenhista em 2001, que já havia recebido em 1987 como Mestre. Além desse prêmio, podemos citar três HQ Mix, um em 1991 (Grande Mestre dos Quadrinhos), e outros em 1995 (Desenhista Nacional), 1997 (como homenageado) e 2003 (Edição Especial), pelo livro Filho do Urso e outras histórias. Flávio Colin também ganhou um troféu do XII Salão Carioca de Humor, como homenageado, e um prêmio da Gibiteca de Curitiba, além do Salão Internacional de Piracicaba; Press 1986, pelo conjunto da obra; e do Museu da Imagem e do Som e ainda houve uma homenagem da Casa de Cultura Laura Alvim. Sobre tudo isso, comentou: “Não sei se estou como vinho, mas vou desenhar até onde o meu sentimento, talento e minha mente disserem ‘Faz!’. O dia que eu começar a ficar muito repetitivo, sentir que chegou minha hora, penduro meus pincéis e vou vender pipoca na esquina. Faço meus desenhos da maneira que eu sinto. Às vezes, agrada! Olha, não se faz nada sem alma. Ou coloca a alma, ou não faz.” Colin ainda finalizaria o livro Caraíba, editado pela carioca Desiderata, que segue o mesmo tema desenvolvido ao longo de seu trabalho, o meio ambiente. Apesar da intensa e qualificada produção, a esposa de Colin precisou vender originais a preços muito abaixo do custo.(A partir de GOIDA, 1990; MOYA, 1993; http://www.universohq.com/entrevistas/flavio-colin-uma-lenda-viva-dos-quadrinhos-e-brasileiro-com-orgulho/1,2,3; https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2601200023.htm;




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