Stopo


A vida em Stopo não é tranquila. Num inverno distante a montanha do leste cuspiu fogo. O vulcão V1E, em erupção violenta, expeliu pedras incandescentes, lava vulcânica, poeira e fumaça tóxica sobre Stopo e cidades vizinhas. A cidade soterrada não vê a sua população, nem seus labirintos. Por muitos anos a cidade destruída se esqueceu dos deuses. A morte da cidade coincidiu com a morte dos deuses. A cidade, redescoberta por um agricultor que, ao arar terras na região localizou um vestígio de muro, agora vive. Nos três séculos seguintes, a cidade, escavada pelos arqueólogos estrangeiros, ressurge das cinzas.  Casas, teatros, bibliotecas, obras de arte, termas, lojas, templos religiosos, prédios públicos, aquedutos, sistemas de iluminação pública e corpos petrificados pelas lavas vulcânicas, em posição de fuga, são agora um sitio arqueológico. A memória escavada faz brotar uma nova cidade, começa a existir como símbolo do que será o futuro do presente desenterrado. Da cidade vulcão não se furta nada, nem os sonhos deixados na mochila sob um banco de pedra ao abrigo do sol. No alto da montanha mora o perigo; naquele lugar dorme o potente vulcão, com a barriga cheia de fogo. Qualquer resfriado poderá fazê-lo cuspir catarro tóxico sobre a população de Stopo. Por isso, sirenes enormes, grudadas em cada esquina, compõem a paisagem do sitio arqueológico. 

As chispas de fogo
gelam o cálice de vinho
na estação morna do ano.

Rotas do Imaginário, de Delcio Antônio Agliardi (Liddo Editora: Caxias do Sul, RS, 2018)


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