Marco Haurélio
(Riacho de Santana, BA, 5.jul)

 
A viagem de Dona Guerra

 
Dona Guerra viajou
lá pro hemisfério norte,
um lugar cheio de bambas,
bombas de tudo que é porte.
Dona Guerra já esqueceu
como é a lei do mais forte?
 
Só pra lembrar, Dona Guerra,
desenho em lápis de cor:
só vale bater abaixo
da linha do Equador,
bem abaixo da cintura
onde provoca mais dor.
 
Só vale a pena invadir
esses buracos sem dono,
sem drone e sem dinheiro,
aos cacos e no abandono,
pra depois eles renderem
canções do Sting ou do Bono.
 
Lá no norte, Dona Guerra,
a senhora é uma intrusa.
Ali todos têm razão
e todo mundo se acusa.
Barraco de gente rica
deixa a gente bem confusa.
 
Eles se acham o berço
da tal civilização,
são os donos da ciência,
da lógica e da razão,
como agora vai deixá-los
com o penico na mão?
 
Não esqueça, Dona Guerra,
que os brancos refugiados,
esses que vivem no norte,
logo serão abrigados,
enquanto os pardos e negros
ficam na fila, parados.
 
Preste atenção, Dona Guerra,
ao que agora eu elucubro:
debaixo da luz do sol,
setembro não é outubro,
e sob a pele de todos
o sangue que corre é rubro.
 
Defesa feita com mísseis
e outras armas arrenego!
Cidades não podem ser
tratadas igual a um lego,
refeitas e destruídas,
à mercê de um ódio cego.
 
A vida de tanta gente
não deve servir de escambo
aos mercadores da morte
com seu moralismo bambo,
cujos discursos mais lembram
os balbucios de Rambo.
 
Napalm, agentes laranjas,
a peste varrendo a terra,
o veneno se espalhando
do rio ao vale e à serra,
sempre no terreno alheio;
acha justo, Dona Guerra?
 
Não adianta dizer:
bom dia, Vietnã!
se os mais pobres já não podem
nem sonhar com o amanhã
sem pedir a permissão
ou a bênção ao Tio Sam.
 
Dona Guerra, por favor,
deixe essa gula voraz,
tire férias em Plutão,
veja que negócio faz!
E dê, uma vez ao menos,
uma chance a Dona Paz!

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