Oscar Bertholdo

(Nova Roma do Sul, RS, 15.jul.1935 – Farroupilha, RS, 22.fev.1991)


O Poeta Rústico


Quando não houver mais o ofício

de guardar no corpo a razão de ser,

os arados conferirão as encostas,

terei a noite nas mãos.

Nunca soube medir as redondezas

das raízes nem o rosto fatal

dos que ainda não nasceram.

O vale é hóspede que se demora.

Meu outro lado necessário,

de dia nos olhos, de noite nos ouvidos

nem bem nos olhos e nos ouvidos

mas amplo dentro de mim —

árvore com as medidas dos frutos

a todos os que passarem.

Longe daqui sou condenado,

conheço a vida sem crepúsculo,

junto à mesa o sofrimento arde

como lenha seca, o tempo é lento.

Quando sós, as frutas são mais doces.

Sem ambições, nutro poemas serenos

cato seiva à força e

mais fundo o amor. Sou precário

no tamanho do mundo.

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