Alexandre Marino
(Passo, MG, 5.jul)
 

 
A flor-cadáver

      A floresta perdeu o seu silêncio.
        David Kopenawa

O jardim perdeu o seu silêncio
e a pauta musical dos bem-te-vis,
desde que brotou a flor-cadáver
em meio às ervas daninhas.

Com medo de ser vista
a sumaúma se encolhe toda.
Não olhe nos olhos das orquídeas,
elas sentem uma tristeza profunda.

A flor-cadáver semeia a cizânia
e seu fedor sufoca os perfumes,
abelhas abandonaram as lavandas,
jasmins têm saudades dos vaga-lumes.

É tanta a tristeza das sibipirunas,
que elas, coitadas, estão corcundas.
A copaíba não encontra a paz
e as samambaias nem choram mais.

A dama-da-noite tem depressão
e passa toda a noite a soluçar.
Já não perfuma o caminho dos insones.
Não há canto de amor dos sabiás.

A água do riacho já secou,
o jardim morre de veneno e de dores.
Para acabar de vez com toda a vida
só falta avançarem os tratores.

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