Afonso Felix de Sousa
(Jaraguá, GO, 5.jul.1925 – Rio de Janeiro, RJ, 7.set.2002)



Trocadero, 1955

Enquanto eu te esperava, enquanto se desfazia
a espuma no copo de cerveja, eu ia escrevendo
palavras sem sentido e nenhum nexo numa folha
de papel que, como a recortar um lagarto
cujos pedaços continuassem teimosamente vivos,
rasguei em pedacinhos, cada um deles
com uma letra e cada sequência de letras,
como se num sonho ou num poema dadaísta,
dando um sentido ao que dentro e fora
de mim se passava e se resumia num grito mudo
de quem se despede e sabe que está se despedindo
para sempre, e sabe também que numa despedida
pedaços de nós como que amputados se destacam
e vão ficando teimosamente vivos pelo caminho.

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