Em 11 de junho de 1934, numa nova tira nos jornais estadunidenses apareceu, como num passe de mágica, o personagem Mandrake; dois anos depois, do fundo de uma fictícia floresta da África, surgiu outro mito dos quadrinhos, o Fantasma, o “Espírito que anda”, em traços noir. O roteirista responsável pelas aparições foi LEE FALK, que nasceu em 28 de abril de 1905, em St. Louis, nos Estados Unidos – o autor também foi responsável por antecipar “os heróis com malhas colantes”, como Super-Homem e Batman, lembra Goida (1990, p. 120). Os dois, Mandrake e Fantasma, “são, ao mesmo tempo, continuações e atualizações de ideias antigas, oriundas dos folhetins baratos, mas também renovação de modelos clássicos” (PATATI; BRAGA, 2006, p. 58). Com formação na área de letras, Falk trabalhou como redator publicitário, meio em que encontrou o ilustrador Phil Davis (1906-1964), com quem criou Mandrake e sua icônica cartola – Falk se inspirou numa obra-prima do Renascimento, A Mandrágora, de Nicolau Maquiavel (de 1524), e pelos mágicos que assistiu em sua infância; Phil Davis inspirou o diretor de cinema Alan Resnais, em O ano passado em Marienbad (1961). Federico Fellini chamava Falk de “mestre”, dada sua admiração pelo mágico – as “mágicas inexplicáveis de Mandrake eram mais fellinianas e atraentes que as acrobacias de Flash Gordon”, dizem Patati e Braga (2006, p. 63). Mandrake (The Magician) foi inicialmente personificado como um mestre do hipnotismo, mas com o passar do tempo e com o sucesso de público, começou a visitar mundos paralelos e outras civilizações (1990, p. 95), ao lado de Lothar, rei de uma distante tribo africana, companheiro inseparável, e da princesa Narda, que, de eterna noiva passou a uma amizade colorida tendo como cenário o palácio de Xanadu (MOYA, 1993, p. 95). No Brasil, de acordo com Moya, Mandrake circulou inicialmente no Suplemento Juvenil de 10 de agosto de 1935, n. 101. Compulsivo, Falk escrevia contos, poemas, artigos, peças de teatro, livros e programas para o rádio.


Em 1936, quando surgiu O Fantasma (Phantom), o parceiro de Falk era Ray Moore (1905-1984), que fez uso particular de luzes e sombras e caracterizou o personagem como um herói misterioso e carismático (GOIDA, 1990, p. 243), embora, para alguns críticos, Falk tenha registrado ideias de “superioridade do homem branco” e do colonialismo na África e na Ásia (BARBOSA et ali, 2005, p. 115). Tal e qual os heróis justiceiros, o Fantasma, cuja identidade secreta (Christopher “Kit” Walker) era mantida a sete chaves pelos pigmeus Bandal da Floresta Negra de Bangalla, estava do lado dos oprimidos, com força e agilidade incomuns, embora sem superpoderes, mas com dois simbólicos anéis, o da caveira e o da “marca do bem”. Seus adversários são os piratas (bandidos, traficantes, usurpadores), que o temiam pela aparência – além do colante, o personagem usava uma máscara, o que aumentava o mistério, que remete, ainda, à imortalidade e à ancestralidade: consta que a missão passa de pai para filho desde o século XVI; o Fantasma mais recorrente é o 21º da linhagem. Em 2010, o canal SyFy exibiu uma série em 13 edições onde aparece um Fantasma quase Robocop, depois de já ter sido “modernizado” na minissérie da Marvel em 1995. (A partir de BARBOSA et ali, 2005; GOIDA, 1990, MOYA, 1993; PATATI, BRAGA, 2006)

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