DEBORAH BRENNAND nasceu em 12 de fevereiro de 1927, no Engenho da Lagoa do Ramo, município de Nazaré da Mata (PE).
Integrou-se durante os anos de 1960 e 1970, ao movimento armorial (presente no cordel), liderado por Ariano Suassuna (1927-2014) e que envolvia poetas, romancistas, pintores, compositores e outros artistas – o que coincide com o surgimento da geração pernambucana de artistas de 1965.
Seu primeiro livro é O punhal tingido ou O livro das horas de D. Rosa de Aragão (1965). O último foi publicado em 2003, Tantas e tantas cartas. Em 2007 foi publicado Poesia reunida de Deborah Brennand, organizado por Lucila Nogueira Rodrigues, que também escreveu o prefácio.
Casou-se com Francisco Brennand (1927-2019), um dos artistas plásticos brasileiros de maior fama internacional. Faleceu em 26 de abril de 2015, em Piedade, bairro de Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife (PE).



Sobre frágeis roseiras
Malefício – o anel roxo espatifado.
E a mão do tempo, estendida nos capins.
Deixa os pássaros embaraçarem voos
e a brisa contar enredos do verão.

Contar o mistério de um fruto mordido,
de visões mouriscas nos desertos,
de gritos proféticos nas altas pedras,
ecos assombrados nas furnas do tigre.

Malefício – estilhaços de ametista.
E a mão do tempo, estremecida,
tange pássaros, esmaga a brisa e se abate
até sobre os frágeis roseirais do amanhã.

Que malvadeza sem fim!

De O cadeado negro. Extraído de Poesia Reunida, 2007.

* * * * *

A Rosa
Não estremeças a mão
desmancha ferozmente, igual ao vento,
estas pétalas de sangue, ainda vivas,
armadas na desordem de uma flor.

Quem fui? Que sou?

Agora, uma senhora antiga
que na tarde silenciosa de abril,
borda sonhos na forma
de perfeita e sangrenta rosa.
E tu quem és agora?

Em Poesia reunida, 2007.

* * * * *

Sem preconceito
Senta no primeiro degrau
o mais baixo, todo esmagado,
onde a pedra se une à terra
sem preconceitos.

Ambas têm veios negros.

E sê atenta aos sinais
a alma é muda. Mas,
o coração entende
e traduz bem

o que ela diz calada.

Escuta e sê atenta
lodo e escorpiões
juntos nas frestas
fingem amorosa inocência.

Sem preconceito, são inocentes?

Em Poesia reunida, 2007.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog