No dia 18 de fevereiro de 1940 nascia ARMANDO FREITAS FILHO, no Rio de Janeiro. Poeta, fez sua estreia em 1963 com o livro Palavra, que teve capa do artista plástico Rubens Gerchman (1942-2008) e edição particular. Em 1979, com Heloísa Buarque de Hollanda (1939) e Marcos Augusto Gonçalves (1956), publicou Anos 70 – Literatura.
Num primeiro momento, sua poesia vinculou-se ao segmento marginal da Geração 60, depois à Instauração Práxis, derivada da poesia concreta; a partir de 1975 passou a explorar outras formas de fazer poético. Tornou-se curador da obra de Ana Cristina Cesar (1952-1983), por desejo dela, e organizou os livros póstumos da poeta carioca.
Em mais de 50 anos de carreira literária, tem poemas publicados em espanhol, catalão, inglês, alemão e francês, em diversas antologias. Em 1980, publicou o livro para crianças Apenas uma lata, Prêmio Fernando Chinaglia; em 1985 ganhou o Prêmio Jabuti por 3x4, mesmo ano em que publicou Breve memória de um cabide contrariado, para o público infantil; em 2003, por Máquina de Escrever, reunião de 13 de seus livros, e em 2009, com Lar, foi premiado com o Jabuti – este também recebeu o Portugal Telecom; recebeu o Prêmio Alphonsus de Guimarães, da Fundação Biblioteca Nacional, por Denver, em 2014, e, no mesmo ano, o Prêmio Alceu Amoroso Lima pelo conjunto da obra.
Pesquisador de literatura brasileira, atuou na Fundação Biblioteca Nacional e foi assessor no gabinete da presidência da Funarte, pesquisador da Fundação Casa de Rui Barbosa, assessor do Departamento de Assuntos Culturais do Ministério da Educação e Cultura (MEC), assessor do Núcleo de Estudos e Pesquisas (NEP) e assessor do Instituto Nacional do Livro (INL).


CANTO DO MURO AZUL

No escuro
O muro articula
Severa arquitetura
De íntima tessitura
E circula viajante:
Noturno andante

Vento no cimento
(Lento)
Muro em movimento

Pedra rutura
Azul textura
Líquida tela
Aquarela.

(de Palavra, em 2003)

* * * * *

Abrir os pulsos
as gavetas
e cortas as veias
enquanto é tempo
de salvar a vida
e impedir que o poema
caia
em si mesmo
como os repuxos, os reflexos
os anúncios luminosos
que trabalham sempre
com a mesma água
sem o risco de hemorragias. 

(De 3x4, 1985)



                    * * * * *


                                                             Escritório irritante

Não acho nada, nem o que não
procuro, nenhum livro se abre
e os que se abrem, raivosos
não prestam para o momento.

Se apertam nas estantes, se
embaralham, fora de ordem
se precipitam, suicidas
mortos, amarrotados, muitos.

Não os lerei mais, morri
com eles, minhas marcas
no pó das passadas páginas

se desbotam, os personagens
idem, a flor no papel de poema
se fecha, furada por traças.

(de Lar, 2009)

* * * * *

Previsão do tempo

Os pais entram em eclipse.
O sol não fura mais a nuvem
nem estica os raios para longe
enquanto o mar
perde uma onda para sempre.
O tesouro da juventude
solta ao vento
as folhas de seus livros
e eu, único, sem divisões
ao ar livre
vejo o ouro da manhã
virando puro chumbo
no chão da noite
sentindo as balas
raspando a pele.

(em De cor, 1988)



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