Formado em Direito, o jornalista e poeta GERALDO PINTO RODRIGUES nasceu no dia 7
de fevereiro de 1927, em Jardinópolis, município paulista.
Entre os anos 40 e 70, trabalhou como cronista
literário, redator, editorialista político e econômico, redator-chefe e
assessor de diretoria da Folha São Paulo,
além de colaborar com o Jornal da Tarde
e O Estado de S. Paulo, entre outros
jornais.
Em 1948, ao lado de Cyro Pimentel
(1926-2008), Domingos Paoliello (1925-2001), Pedro Morato Krahenbull
(1922-1958) e Joaquim Nobre Nazário, associou-se ao Grupo dos Novíssimos (e
publicaram o Informe dos Novíssimos),
durante o I Congresso Paulista de Poesia, organizado pela Revista Brasileira de Poesia, que era dirigida pelo angolano
Fernando Ferreira de Loanda (1924-2002). Também identificou-se com a Geração de
45, que revelou aos leitores os poetas Décio Pignatari (1927-2012), Haroldo de
Campos (1929-2003) e Augusto de Campos. Participou de associações literárias
paulistas – como o Clube de Poesia – e foi eleito acadêmico da Academia
Paulista de Letras em 1981, para ocupar a cadeira nº 32.Entre seus livros, Tempo Inconcluso (1951); Veio e Via (1972), premiado com o
Jabuti; Os verdes matinais (1975) e
O punhal do tempo (1978), ambos
merecedores do Prêmio Literário José Ermírio de Moraes, do PEN Club de São
Paulo, são os mais conhecidos. Rodrigues pode ser lido, também, na antologia Os Cem
Melhores Poetas Brasileiros do Século,
organizado pelo escritor, poeta e jornalista José Nêumanne Pinto em 2001.
O poeta e jornalista morreu aos 77 anos, no
dia 29 de julho de 2004, devido à falência múltipla dos órgãos.
Faz tempo
que aportei aqui
Faz tempo que aportei aqui,
nesta vida gorda, de algibeira rasa.
Peão de sonhos, pastor de auroras,
os reinos conquistados foram meus.
Vesti-me de certeza, de ousadias,
fui peregrino silente entre silêncios.
Meus cantares ecoaram nas planícies,
vibraram meus acenos noutros céus.
Se as tardes floresciam nos vergéis,
luzes ali ardentes se acendiam.
Já distante, embora,
este sol radiante
sucumbe, agora,
ao punhal do tempo.
(Do
livro O Punhal do Tempo, 1978)
* * * * *
A
Construção
Aqui,
neste sítio ameno,
edifico o poema
sobre um chão de cardos.
E não construo em vão,
que em vão não constrói
quem,
aqui como em qualquer ermo,
pedra a pedra, dia a termo,
acrescenta ao pó da origem
o que desgasta, fere e dói.
Nem guarda monto ao construído,
que nunca sei preciso o canto,
nem de pé ou terminada a obra.
Guardador sou, sim, do que é sentido,
não do canto, íntegro ou fendido:
Se por precário arrimo o verso greta,
edifico de novo, aqui ou em Creta.
(Do
livro Veio e Via, 1971)
* * * * *
Te Quero
Pássaro
perdido em raaresia, te quero,
com teus
seios de nêsperas e teu colo de safira.
Assim
prenhe de rosas, te quero,
assim
estranha e múltipla, não consentida,
assim
tranquila, dispersa em sonho,
fantástica
e só.
E mais
que por isso te quero,
ave de
asa tonta,
corpo e
forma do meu canto.
Boneca da
infância esquecida,
eis que
te quero.
(Do livro Tempo Inconcluso, 1951)
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