PAULO
MENDES CAMPOS nasceu em 28 de fevereiro de 1922, em Belo
Horizonte (MG). Poeta, cronista e tradutor, enveredou pelas faculdades de
odontologia, direito e veterinária, além de ingressar na Escola Preparatória de
Cadetes, em Porto Alegre, a fim de tornar-se aviador – o voo não durou um ano.
De volta a Minas Gerais (passou parte da
infância em Cachoeira do Campo e São João del Rei), dirige o “Suplemento
Literário” da Folha de Minas e forma um
grupo literário com Otto Lara Resende (1922-1992), Fernando Sabino (1923-2004)
e Hélio Pelegrino (1924-1988). Muda-se para o Rio de Janeiro em 1945, onde
passa a atuar como jornalista e cronista no Correio
da Manhã, O Jornal, Diário Carioca e Manchete. Dois anos depois ingressa no serviço público e, mais tarde,
torna-se diretor da Divisão de Obras Raras da Biblioteca Nacional.
É no Rio de Janeiro que publica o primeiro
livro de poemas, A Palavra Escrita,
em 1951. Com o livro O domingo do mar azul, de 1958, ganhou o Prêmio Alphonsus de Guimaraens, do Instituto Nacional do Livro (1959), que dividiu com o poeta Homero Homem (Calendário Marinheiro). As crônicas seriam reunidas pela primeira em O Cego de Ipanema, em 1960.
O poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973), que
motivou sua ida ao Rio de Janeiro, em 1945, foi um dos autores traduzidos por
Paulo Mendes Campos – Canto Geral, Residência na Terra I e Residência na Terra II. Mas ele também
aproximou o leitor de língua portuguesa de Jorge Luis Borges (1899-1986), Júlio
Verne (1828-1905), William Butler Yeats (1865-1939), Jane Austen (1775-1817),
Paul Verlaine (1844-1896), Gustave Flaubert (1821-1880) e Emily Dickinson (1830-1886).
Em Belo Horizonte, existe a Escola
Municipal Paulo Mendes Campos. Considerado um dos mais importantes
cronistas brasileiros, morreu no Rio de Janeiro, em 1º de julho de 1991.
* * * * *
O suicida
Quando
subiu do mar a luz ferida,
Ao
coração desceu a sombra forte,
Um
homem triste foi buscar a morte
Nas
ondas, flor do mal aos pés da vida.
Com
lucidez tremeu olhando tudo
Como
um falcão de súbito no alto
Estremece
sentindo o sobressalto
Do
abismo que lhe fala porque é mudo.
Às
vezes vou ali, fico a pensar
Na
paz que lhe faltou e que me falta
E no
confuso alarme do meu fim.
O
infinito silêncio me diz –– “salta”,
Enquanto
faz-me a brisa respirar
O
fumo da cidade atrás de mim.
* * * * *
Três Coisas
Não
consigo entender
O
tempo
A
morte
Teu
olhar
O
tempo é muito comprido
A
morte não tem sentido
Teu
olhar me põe perdido
Não
consigo medir
O
tempo
A
morte
Teu
olhar
O
tempo, quando é que cessa?
A
morte, quando começa?
Teu
olhar, quando se expressa?
Muito
medo tenho
Do
tempo
Da
morte
De
teu olhar
O
tempo levanta o muro.
A
morte será o escuro?
Em
teu olhar me procuro.
* * * * *
Despede Teu Pudor
Despede
teu pudor com a camisa
E
deixa alada louca sem memória
Uma
nudez nascida para a glória
Sofrer
de meu olhar que te heroíza
Tudo
teu corpo tem, não te humaniza
Uma
cegueira fácil de vitória
E
como a perfeição não tem história
São
leves teus enredos como a brisa
Constante
vagaroso combinado
Um
anjo em ti se opõe à luta e luto
E
tombo como um sol abandonado
Enquanto
amor se esvai a paz se eleva
Teus
pés roçando nos meus pés escuto
O
respirar da noite que te leva.
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