O poeta alagoano LÊDO IVO nasceu em 18 de fevereiro de 1924, e, em 1943, mudou-se para o Rio de Janeiro. No ano seguinte, publicou As imaginações e, em 1945, Ode e Elegia, que recebeu o prêmio Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras (ABL). Seguiram-se diversos livros de poesia, contos, crônicas, ensaios e romances, muitos deles premiados.


Por vezes, Lêdo Ivo é considerado representante da Geração de 45 a partir do livro Acontecimento do Soneto (1948), que teve a primeira edição impressa pelo amigo João Cabral de Melo Neto (1920-1999), em sua prensa manual, na cidade de Barcelona, na Espanha.
Duas de suas mais importantes obras, os poemas de Finisterra e o romance Ninho de Cobras, ganham o Prêmio Jabuti e o Walmap, respectivamente, em 1973. Em 2008 recebeu o Prêmio de Poesia Del Mundo Latino Victor Sandoval (México, 2008), em 2009, o Prêmio Casa de Las Américas (Cuba, 2009) e o Prêmio Rosalía de Castro, do PEN Clube da Galícia (Espanha, 2010), além de outras premiações e condecorações.
Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em novembro de 1986, para ocupar a cadeira nº 10, sucedendo o jornalista e escritor Orígenes Lessa (1903-1986). Em 2004 foram reunidas seis décadas de poesia e prosa na primeira edição completa de suas obras. Seus arquivos fazem parte do acervo do Instituto Moreira Salles (IMS), em São Paulo.
Lêdo Ivo morreu em 23 de dezembro de 2012, na Espanha.

Canto
A beleza não aprende a ser bela
e vive de ignorar
que o tempo a espreita sem a ver.

Antigamente nossos pais nos levavam para ver no campo
a madureza da fruta.
E no seixo que jogávamos no meio do rio,
cristal de impiedade, se espelhava a vida.

A beleza nada aprende
e ser é o seu segredo
– se você acender a lâmpada da sala,
até a varanda ficará clareada.

A beleza não aprende a morrer.

Não nos comunicamos com os corpos,
nossa parada é jogada com as almas.

As cortinas esvoaçam, nutrindo-se de noroeste
e as formigas preferem jantar os mortos.

A beleza quer sempre ficar acordada.

Sempre evitamos o conforto dos abismos.
Por isso são brancas as mortalhas
com que nos cobrimos na hora de dormir.

A beleza não concorda em morrer
e morre
como os antigos deuses, Ágata, que exaltaram a vida,
como os modernos deuses que insistem em apregoar a conveniência da morte.

(Poesia Completa, 2004)

* * * * *

Soneto de outono
Se mais que a forma e mais que o pensamento
guardado na vigília, sem temor.
Fica no meu olhar, como no amor
verteria teu nome em verso atento.

Sê mais que a forma sempre em movimento
tornada mais humana pela dor.
Fica dormindo em mim, quando eu me for
e te deixar entregue ao desalento.

Sê minha mesmo que eu não te conheça
e te ame sem te ver, sempre te vendo
na forma que jamais fuja ou pereça.

Para tocar-te, eu sempre as mãos estendo
mas não te alcanço, e em minhas mãos transformas
teu corpo imaginário em puras formas.

(Poesia Completa, 2004)



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