­As diferenças bibliográficas sobre ALAIN VOSS não ofuscam o belo trabalho que ele deixou registrado nas páginas da revista Métal Hurlant (Heavy Metal) ou nas lisérgicas capas dos LPs da banda Os Mutantes, Jardim Elétrico (1971) e Mutantes e seus Cometas no país dos Baurets (1972). Todos concordam que o ano de nascimento é 1946, mas há quem diga que ele nasceu no dia 1º de janeiro, enquanto outros datam como 29 de maio o dia em que o franco-alemão veio ao mundo. Com cerca de cinco anos ele veio para o Brasil, onde viveu até 1972; retornou para a França, fugindo da ditadura militar, como tantos. Ainda na década de 1960, começou a trabalhar com quadrinhos e publicou O Loco (Ed. Taika, 1968) e O Careca (1969) – aqui, nova contradição: chegou a ser impressa, mas a União Brasileira de Editoras, responsável pelo lançamento, desistiu e optou por incinerar os oito mil exemplares1; Goida não registra o episódio em sua Enciclopédia dos Quadrinhos (1990, p. 370); Janara Lopes, também não2; finalmente, em 1995, o Comix Club publicou a revista em edição fac-similar. Integrou a primeira turma da Métal Hurlant, ao lado do francês Moebius (Jean Giraud, 1938-2012), do estadunidense Richard Corben (1940) e do brasileiro Sérgio Macedo (1951); para ela, criou a série “Heilman” (1978), que misturava alegorias ao nazismo e o movimento punk, ao ritmo da banda KISS e do esoterismo que pairava na época (foi proibida na Alemanha).
Em 1981 registrou nova passagem pelo Brasil – quando publicou alguns trabalhos nas revistas paulistanas Inter Quadrinhos (Editora Ondas) e Monga, a Mulher-Gorila (Press/Maciota) – antes de decidir morar em Lisboa, Portugal. Neste período, conquistou o prêmio de melhor álbum da Europa, com Adrénaline (1982), conquistou o HQ Mix de Melhor Desenhista Nacional (1988), fez a capa da revista Spirit n. 5 (NG Editores) e ganhou uma retrospectiva de seu trabalho no Museu da Imagem e do Som (MIS) em 1989, que foi contemplada com o HQ Mix de Melhor Exposição. Em 2001, o Itaú Cultural promoveu a mostra “Anos 70: trajetórias”, que contemplou o trabalho de Voss ao lado dos de Paulo Caruso, Angeli, Flávio del Carlo, Laerte e Robert Crumb. Um novo retorno ao Brasil ocorreu em 2009. Morou em Pirassununga e no litoral paulista, já com a saúde debilitada, pois recém sofrera um AVC e tinha o lado direito do corpo temporariamente paralisado. Parcialmente recuperado, produziu a HQ Anarcity e a tira Os Zenzetos, publicada na revista Caros Amigos, além de colaborar com a edição brasileira do Le Monde Diplomatique. Morreu no dia 13 de maio de 2011, em Lisboa, em decorrência do AVC. Na semana do seu falecimento, Rita Lee twittou em sua homenagem: “Alain Voss era um artista gauche. Sarcástico e irônico. Perdia o amigo, mas não perdia um deboche cruel.”




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