O carioca WLADEMIR DIAS PINO nasceu no dia 24 de abril de 1927, mas como seu pai encontrava-se preso por motivos políticos, ele foi registrado em 2 de maio. Dias Pino foi um dos líderes dos movimentos de “vanguarda natural”, que ocorreu no processo evolutivo do modernismo, autor do manifesto “Parada – Opção Tática”, escrito em dezembro de 1972 e publicado na 2ª edição de Processo: linguagem e comunicação, em 1973. Bem antes disso, entretanto, quando a família mudou-se para Cuiabá (MT), onde ele permaneceu até os 24 anos de idade, conheceu o poeta Manoel de Barros – Dias Pino seria um dos responsáveis pelo início da divulgação da obra do poeta matogrossense. O primeiro livro de Dias Pino, Os Corcundas, foi impresso em 1939 aos 12 anos de idade, e reimpresso em 1954, passando a ser considerada a data de publicação original. Nas décadas de 1950 e 1960, a obra foi objeto de análises críticas em jornais e publicações nacionais – o trabalho é tratado como obra adulta e plena, precursora formal de sua surpreendente originalidade e capacidade inventiva. Em Poesia de vanguarda no Brasil, Mendonça e Sá lembram que críticos apontaram o livro “como uma experiência surrealista no uso da linguagem poética entre nós”, e afirmam que ele mostra “uma desconfiguração do falar poético, por obra da sintaxe, que decorre do choque entre o linguajar cotidiano e a fala a partir do lugar da cultura” (1983, p. 90). O experimentalismo abrange as produções da tríade concretista, a Poesia Práxis, fundada por Mário Chamie (1933) e o Poema-Processo, movimento que seus organizadores veem como “de origem essencialmente brasileira, tendo por isso o cuidado de não citar autores estrangeiros em seus depoimentos teóricos”, como argumenta Gilberto Mendonça Teles (2012, p. 553). No final da década de 1950, Dias Pino, principal representante de uma segunda vanguarda, liderou o movimento artístico cuiabano denominado intensivismo (no jornal Sarã, n. 04, em julho de 1951, o poeta diz: “O Intensivismo é, certo, um simbolismo duplo. Além da imagem está outro significado poético”1). Em 1948 escreveu o poema “Dia da Cidade”, em “que trabalha a desconstrução da linearidade e ordinalidade da escrita, propondo uma multiplicidade de direções e planos de leitura”; a partir dele, “o leitor percorreria os textos da mesma forma que o pedestre anda na cidade”, dizem Mendonça e Sá (1983, p. 88). Dias Pino “trabalha com o simbólico e o metafórico na busca de uma metáfora pura”2. Em 1952 retorna ao Rio de Janeiro – depois de fortes críticas a personalidades literárias tradicionais do Mato Grosso – e, em 1956, apresenta A ave; com 300 exemplares impressos manualmente, é considerado o primeiro poema semiótico da literatura mundial, que mantém compromisso conceitual com o intensivismo. Com este e outros trabalhos, participa da I Exposição Nacional de Arte Concreta, no MAM/SP (dezembro de 1956); seus trabalhos são os únicos poemas sem palavras da exposição e foram reconhecidos por Décio Pignatari, posteriormente, como precursores.
Além de A Ave, Wlademir é autor de dois outros livros fundamentais da literatura brasileira: Solida (1956-1962) e Numerários (1961). Com Solida, Dias Pino leva adiante o processo de recodificações visto em A Ave. É dele, também, o primeiro carnaval que tem como decoração motivos abstratos e geométricos (1958). Com um grupo de poetas jovens, funda em 1967 o movimento do Poema-Processo, com núcleos em Recife e Natal – a partir das discussões do grupo é estabelecida a base teórica de uma arte semiótica e de processos artísticos de cultura de massas. Convidado pelo reitor da Universidade Federal do Mato Grosso a fazer parte da instituição, em 1972, ali permanece 25 anos, exercendo as funções de pesquisador, editor, idealizador de projetos e programador visual. Nos 30 anos da poesia concreta, em 1986, é realizada no Rio de Janeiro, no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, uma exposição em homenagem ao poeta com antologia de sua produção poética, com curadoria de Evandro Salles. Em 2016 foi realizada no Museu de Arte do Rio (MAR) a maior exposição de obras de Wlademir Dias Pino até então, com material inédito; Outdoors (2015- 2016), por sua vez, é constituído por uma série de placas com abstrações geométricas produzidas a partir de paisagens, entre elementos arquitetônicos e hábitos sociais. As placas estão dispostas em diversos pontos do Parque Ibirapuera3. O crítico literário Antônio Houaiss já o considerou “um dos mais perspicazes pesquisadores visuais no Brasil”. Wlademir Dias Pino morreu aos 91 anos, em 30 de março de 2018, devido a uma pneumonia, enquanto preparava-se para uma exposição no Centro Pompidou, na França (A partir de MENDONÇA; SÁ, 1983, 2. ed.; TELES, 2012; http://www.casasilvafreire.org.br/o-poeta/index.asp?id=3&item=intensivismo1 www.galeriasuperficie.com.br/artistas/wlademir-Dias-Pino/2; http://www.32bienal.org.br/pt/participants/o/26093)

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