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HELOISA BUARQUE DE HOLLANDA é ensaísta, escritora, editora e critica literária, nascida em Ribeirão Preto (SP), em 26 de julho de 1939. A partir de seu trabalho como pesquisadora, editora, socióloga e crítica, o leitor teve acesso à boa parte da produção poética com a publicação da antologia 26 poetas hoje, em 1975-1976 (Ed. Labor), que teve novas edições, em 1998 e 2007. Ele reúne o que se chamou de “geração mimeógrafo” ou “geração marginal” (pós-tropicalista até os anos 70), e apresentou nomes de poetas que, com trabalhos individuais, foram reconhecidos pelo público brasileiro – alguns até pelos leitores e pela crítica do exterior, como Torquato Neto (1944-1972), Ana Cristina César (1952-1983) e Waly Sailormoon, ou Waly Salomão (1943-2003). “A seleção realizada não registra apenas uma tendência de renovação na poesia de hoje mas, também, procura sugerir alguns confrontos entre as várias saídas que ela adotou”, alerta Heloisa na apresentação do livro.
Os versos que são lidos na antologia trazem muito do momento em que o país vivia – de repressão – e ecos do que o mundo vivia – a contracultura e a rebeldia. Muito disso foi absorvido e transformado/adaptado para o momento brasileiro. Daí o termo marginal (estar à margem) faz sentido, assim como faz sentido quando se lembra que o poeta fazia parte de todo o processo de produção de seu trabalho, desde a concepção do poema até a distribuição, incluindo a impressão, grande parte com o mimeógrafo. O termo ainda hoje é refratário, agrada uns, desgosta outros, é insuficiente para tantos. Glauco Mattoso (1951) definiu, assim, na memorável Coleção Primeiros Passos, da Brasiliense: “é simplesmente o adjetivo mais usado e conhecido para qualificar o trabalho de determinados artistas, também chamado independentes ou alternativos” (1982, p. 8). Hoje, todos os poetas ali reunidos já tiveram suas experiências com editoras, grandes ou pequenas, e outras vivências, inclusive acadêmicas. Há muito deixaram de ser “marginais”.
Com a reedição (1998a), Heloisa Buarque de Hollanda também editou Esses poetas – Uma antologia dos anos 90 (1998b). Sobre esta, considerou: “Esta seleção procurou se situar neste quadro ao mesmo tempo atraente e arriscado.” Nota: ela identifica três “gerações” atuantes no cenário da época. “Não teria segurança suficiente para afirmar que esta seleção representa tendências progressistas no quadro da produção poética da década de 1990”, contemporiza. A verdade é que os dois volumes, com o intervalo de 23 anos, oferece um variado painel da produção poética brasileira suficiente para se querer (saber) mais.
Neste segundo volume, “aparecem” nomes como os de Antonio Cicero, Nelson Ascher, Rodrigo Garcia Lopes, Eucanaã Ferraz, Claudia Roquette-Pinto, Arnaldo Antunes e Josely Vianna Baptista. Se foram insuficientes para dar conta do cenário da poesia brasileira, ainda assim contribuíram para formar um mapa brasilis sobre as diferentes direções que a poesia tomou depois dos últimos movimentos culturais que o país viveu, o concretismo e o tropicalismo. Não há mais poetas “marginais” (?), muitos deles estão ou estiveram ligados com a academia ou com a música popular brasileira.
Mas as iniciativas de Heloisa para divulgar a cultura brasileira não se resumem aos livros (são mais de 45, entre eles a tese de doutorado, Impressões de Viagem, de 1980). Somam-se a eles suas ações na Rádio MEC (no programa Café com Letra, nos anos 70), na TVE, à frente da Editora UFRJ e do Museu de Imagem e do Som (MIS-RJ), entre 1983 e 1984, e como colaboradora do Jornal do Brasil. Depois do doutorado na Columbia University (EUA), redireciona o foco de sua pesquisa para as questões literárias de raça e gênero. Nos anos 80, criou os projetos Abolição (1988) e Mulher e Literatura – um para estudar as questões raciais na arte brasileira, o outro para pesquisar relatos das mulheres nordestinas que, na ausência dos proprietários de terra, tomavam conta das fazendas e exerciam grande liderança. Pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, realiza o projeto Universidade das Quebradas, espaço criado para promover o diálogo entre os artistas e produtores culturais da periferia com a comunidade acadêmica, e o Laboratório da Palavra.
De forma geral, tudo gira em torno da valorização da produção que está “à margem”. Inicialmente, a partir da poesia, autora buscou o diálogo entre espaços historicamente distanciados, principalmente no que diz respeito à produção e ao consumo da cultura. Em 2019, publicou Explosão feminista: arte, cultura, política e universidade, e, com ele, procura mapear mapear autoras da poesia marginal brasileira (A partir de HOLLANDA, 1998a, 1998b; https://globaleditora.com.br/autores/biografia/?id=1441; http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa7605/heloisa-buarque-de-hollanda; https://www.taglivros.com/blog/5-motivos-para-se-apaixonar-por-heloisa-buarque-de-hollanda/; https://www.geledes.org.br/explosao-feminista-heloisa-buarque-de-hollanda-faz-mapeamento-inedito-dos-novos-feminismos-em-livro/)

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